O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi alvo de duros ataques de deputados de oposição em audiência na Câmara, com críticas à forma como vem lidando com os problemas da segurança pública, em especial a alta letalidade da polícia fluminense. Talíria Petrone (PSOL-RJ) sugeriu que ele agia fora da lei, e Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que o governador corre o risco até mesmo de vir a cometer um “grande crime” e perder o cargo. Witzel rebateu, dizendo que há terroristas dominando as favelas do estado e que a polícia vai matar mesmo quem estiver portando um fuzil e não se entregar.
Teixeira criticou o episódio em que Witzel foi filmado dentro de um helicóptero durante uma operação policial. Na ocasião, foram disparados tiros contra uma tenda. Teixeira disse que era uma tenda de oração. Witzel negou.
— Me estranha o senhor dentro de um helicóptero metralhar comunidades como aconteceu com uma tenda de evangélicos no Rio de Janeiro. Me estranha, porque não é uma postura civilizatória. O uso da força tem que estar sob o manto do direito, tem que estar sob o controle do direito, e não o abuso. Porque Vossa Excelência pode cometer um grande crime e por ele perder o seu cargo — disse Paulo Teixeira.
— Aquilo não era uma tenda evangélica. Desculpa, quem falou isso para o senhor falou errado. Aquilo era posição de atirador de elite com banquinho para atirar na polícia. Aí sim na cabecinha da polícia. Fazemos o contrário. Bandido de fuzil que não se entrega, a polícia vai atirar para matar, porque não há outra alternativa — respondeu o governador.
Talíria Petrone afirmou que Witzel deveria dar mais atenção à atuação das milícias, que, segundo ela, têm um braço no Estado, elegendo senadores, presidentes e governadores. E depois questionou algumas declarações e ações dele.
— Bandido é quem descumpre a lei, certo? O senhor considera de fato que está dentro da lei quando fala que tem mesmo que atirar na cabecinha? O senhor, como ex-juiz, deveria conhecer a legislação brasileira e saber que não há pena de morte. O senhor se considera dentro da lei quando comanda pessoalmente uma operação policial que atira em uma tenda evangélica, podendo matar favelado negro, que é morto pela sua política de morte, que vem empreendendo no Rio de Janeiro? — criticou Talíria.
Witzel contra-atacou falando que há policiais feridos e incapacitados por tiros de traficantes que não recebem vistas de parlamentares do PSOL no hospital. Ele também convidou Talíria a ir ao funeral de um policial morto.
Paulo Teixeira citou reportagem do GLOBO que mostrou o alto índice de mortes no Rio de Janeiro provocadas por policiais para concluir:
— É um ordem para matar. Queremos uma polícia que desarticule o crime, que prenda o criminoso e o leve para os tribunais. E nos tribunais sejam condenados e cumpram sua pena. Não essa barbárie.
Witzel disse que investiu na investigação no Rio e destacou que houve redução no número de homicídios no estado. Mas, por outro lado, afirmou que é inevitável haver enfrentamento. Ele disse que teve votação expressiva nas favelas dominadas pelo tráfico justamente por querer livrá-las dos traficantes, que chamou de terroristas.
— Infelizmente o combate é inevitável. O que temos hoje nas comunidades do Rio de Janeiro são terroristas. São pessoas financiadas pelo tráfico de armas, de drogas, dominando território, causando o terror nas comunidades, cooptando jovens, estuprando pessoas inocentes, atingido as famílias e destruindo os lares. Esse tipo de crime não há como combater se não enfrentarmos — disse o governador do Rio.
Ele concluiu:
— Nossa polícia não é uma polícia de enfrentamento, de extermínio. É de salvação daquela comunidade que hoje está tomada pelo terrorismo.