Sem dinheiro, Hospital Infantil fecha as portas em Belford Roxo

Graziele de Oliveira Carvalho e a filha Samantha deram com a cara na porta

Graziele de Oliveira Carvalho e a filha Samantha deram com a cara na porta Foto: Cléber Júnior. jornal extra

Um papel escrito à mão e grudado na porta do Hospital Infantil dá a notícia: “hospital fechado”. Após suspender o atendimento a casos de emergência pediátrica, há dez dias, agora a unidade de saúde fechou as portas de vez. Na quarta-feira, as mães que procuravam o local com seus filhos deram de cara com um cadeado na porta.

— Vim de Santa Maria trazer o meu filho, que está com dor de garganta. Não sabia que tinha fechado. Agora, não sei o que fazer — disse Jéssica Lane.

O hospital fechou na terça-feira, ao meio-dia, e a última criança internada recebeu alta às 15h. De acordo com funcionários, o prefeito Waguinho visitou a unidade na sexta-feira e garantiu que iria pagar os salários atrasados, mas não cumpriu a promessa.

— Não recebemos os salários de agosto de 2018 e de maio e junho deste ano. O hospital já estava sem telefone e sem material de limpeza desde setembro do ano passado, quando a prefeitura interveio na administração. A alimentação também era péssima e, nos últimos dias, a gente tirava dinheiro do bolso para comprar comida para nós e para os pacientes — diz um funcionário.

Graziele Carvalho, de 29 anos, que já tratou a filha no hospital, lamentou.

— Minha filha teve uma crise de bronquite e ficou internada um mês no hospital. Agora, a opção é ir para o Hospital da Posse — diz ela.

Em nota, a prefeitura diz que o Hospital Infantil é terceirizado, e, por falta de documentação, não está recebendo repasses do SUS. “O município acredita que em dez dias a situação seja normalizada”, diz a nota. A população deve procurar, segundo a prefeitura, o Hospital Municipal, a Unidade Mista do Lote XV e a Unidade de Pronto Atendimento do Bom Pastor.

Aposentados sem salários

Joselia Maria de Oliveira dedicou 27 anos da vida lecionando Português na rede municipal de Belford Roxo. Hoje, aos 65, ela convive com dívidas e precisa da ajuda de amigos para manter um tratamento contra a depressão. A exemplo dela, cerca de 1.200 pensionistas e aposentados de Belford Roxo sofrem com os constantes atrasos no pagamento dos salários. Na quarta-feira, em protesto, aposentadas ocuparam o prédio do instituto de previdência dos servidores do município, o Previde, no bairro Areia Branca.

Segundo Cristina Furtado, de 50 anos e uma das representantes do movimento, os servidores aposentados pedem a publicação em Diário Oficial de um calendário de pagamento dos salários e a quitação de três meses de salários atrasados referentes ao ano de 2016. Eles também querem ser recebidos pelo prefeito Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho.

— O prefeito nunca recebeu a gente. É uma ausência total de dignidade. Tem aposentado sem medicação, passando fome e vivendo de cesta básica doada. São pessoas que dedicaram 25, 30 anos de suas vidas para a prefeitura e, agora, parece que estão pedindo esmola. A dignidade foi para o ralo — desabafa Cristina.

O pagamento referente ao mês de junho, que deveria ter sido depositado no quinto dia útil do mês, só caiu na conta dos aposentados e pensionistas ontem de manhã, no 12º dia útil, após o prefeito ser informado sobre a mobilização.

No ano passado, a situação era ainda pior: os aposentados e pensionistas chegaram a ficar quatro meses sem receber um centavo dos salários.

Onicia da Silva Vieira, de 71 anos, que trabalhou por 21 como merendeira no município, conta que entrou no rotativo do cartão de crédito para poder comprar os remédios que usa para o controle de glaucoma e diabetes.

— São R$ 380 por mês só com remédios. Se eu ficar sem tomar o medicamento, posso ficar cega. Graças a Deus, minhas filhas me ajudam, porque se eu fosse depender só da prefeitura o pior já teria acontecido — desabafa a aposentada.

Maria Eunice de Farias Mendes, que trabalhou por 20 anos na prefeitura, está há dois meses acumulando dívidas de R$ 1.200 referentes a contas do cartão, luz e telefone.

— A conta chega e tem que ser paga, mas a gente acaba pagando atrasado e isso prejudica, porque acarreta juros. Já os nossos salários são depositados com atraso e não recebemos juros — reclama.

Em nota, a prefeitura informou que depositou na terça-feira os salários de junho de todos os aposentados e pensionistas. Já os salários de julho, de acordo com a lei, podem ser pagos até o quinto dia útil de agosto (dia 7). Sobre o atraso de 2016, a prefeitura diz que fez um acordo para pagamento em oito parcelas. Cinco já foram quitadas e restam três. “A municipalidade aguarda melhoria do fluxo de caixa para liquidar esta dívida, tendo sempre a precaução de não ultrapassar o limite de gastos estabelecidos pela Lei de responsabilidade Fiscal (LRF)”, diz a prefeitura.                                                                                                                                                                                         Pedro Zuazo

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