Os cães sarnentos e seu dono ladrão

Por Jaquez Kepalz                                                                                                                                                                                                                            Dia desses lembrei-me de uma antiga crônica que falava sobre “os cães sarnentos e seu dono ladrão”. Uma narrativa, cujo prazer dos animais era ver sangrar os cofres públicos, na certeza de serem chamados para receber algumas migalhas e, em troca, lamber as feridas do seu dono ladrão.
Por gratidão, os cães sarnentos mordiam inocentes e, ao invés de guardar e fiscalizar o Reino em que viviam, ajudavam a sucatear todos os serviços públicos, de forma que nem veículos escapavam do sucateamento.
Vorazes pelo que alheio, principalmente migalhas públicas, os cães sarnentos tentaram construir academias fitness, para minguar o corpo financeiro do Reino; fundar fábrica de vasos sanitários, mas erraram na quantidade, pois nos seis banheiros do ‘escrotério’ não havia espaço para estocar 600 vasos; um estacionamento para armazenar migalhas; e, depois, uma funerária, para cuidar do sepultamento da cultura, do desenvolvimento social e econômico, além do patrimônio do Reino.
Como nada disso deu certo, por causa da morte do seu dono ladrão, os cães sarnentos se tornaram ainda mais ferozes. Isso porque o novo governante do Reino, que era rigoroso e durão, extinguiu o sistema de distribuição de migalhas e barrou projetos migalheiros.
Os sarnentos, que haviam enriquecido bastante com o hábito de lamber as feridas do dono ladrão em troca de migalhas, ficaram enfurecidos com a falta de feridas para lamber.
Eles detestavam a ideia de serem curados do hábito. Alegavam que a doença já estava crônica e o sistema de distribuição de migalhas era saborosamente podre, desrespeitoso e maravilhosamente degustável.
Ladravam por talento, profissão e perfil e tinham até nomes pomposos como Leopardo, Vagabundadinho, Bi luba e Maxixe – este, inclusive, tentava em vão, recuperar sua boa imagem de mau comedor de migalhas.
Aliás, nem sei por que lembrei-me dessa crônica. Mas ela me veio à memória depois que vi uma reportagem na TV, sobre Mesquita e falava de alguma relacionada a veículos sucateados…
Mas essa coisa não tem nada a ver com a outra. Trata-se de uma narrativa do passado, registrada em tempo e local fictícios, que não copia e nem retrata em nada a nossa realidade.
É que o cardápio literário da política é muito vasto e esses cronistas, geralmente, tem uma imaginação muito fértil. Às vezes criam histórias sem ter a noção de que um dia elas podem ser personificadas nas telas do cinema e na televisão.
Bem. Por hoje é só. Vou ali morrer de tanto rir e depois eu volto.

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