Polícia investiga mortes na guerra da milícia pelo furto de combustíveis na Baixada

 

Policiais civis da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) prenderam um homem flagrante e cumpriram 22 mandados de busca e apreensão, nesta quinta-feira, em uma operação que investiga o assassinato de um ex-candidato a vereador, em Duque de Caxias, em julho de 2016. A investigação aponta que o crime está relacionado a uma guerra de milícias pelo furto de combustíveis na região, considerada estratégia pela proximidade com a Refinaria Duque de Caxias (Reduc). Pelo menos seis homicídios já teriam sido cometidos em razão da disputa entre grupos paramilitares.

Endereços vinculados ao vereador Claudio Thomaz (Podemos), de Caxias, estavam entre os alvos dos mandados de prisão. Em um apartamento do político na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, policiais encontraram três fuzis, uma submetralhadora e uma pistola. O vereador possui registro de colecionador e tinha registrado quatro das cinco armas encontradas. De acordo com o delegado Moysés Santana, titular da DHBF, uma das armas encontradas na casa do político tem as mesmas características da que teria sido utilizada no assassinato da vereadora Marielle Franco, por isso será enviada para perícia.

— A submetralhadora possui um silenciador tem o mesmo calibre da MP5 e por isso se assemelha bastante à que foi usada no caso Marielle. Por isso, vai ser encaminhada para a DH da Capital para ser feito o confronto — diz o delegado.

O inquérito foi aberto a partir da morte do pré-candidato a vereador Sérgio da Conceição de Almeida, mais conhecido como Berem do Pilar. Ele foi morto no dia 2 de julho de 2016. Berem estava saindo de casa, em um sábado de manhã, quando um veículo se aproximou e, de dentro dele, criminosos começaram a atirar. Berem tentou escapar pela porta do carona, mas os atiradores, encapuzados e usando luvas brancas, continuaram disparando contra o homem.

— A motivação estaria relacionada à disputa por “biqueiras” para perfuração de dutos para furto de combustíveis em Caxias. Berem queria os dutos que pertenciam a um grupo rival, comandado por Leandro da Silva Lopes, o Leandrinho. Então ele teria matado o Leandrinho e, em retaliação, os que pertenciam ao grupo do Leandrinho teriam em seguida matado Berem — explica o delegado Santana.

De acordo com a investigação, as organizações criminosas se especializaram em furtar combustíveis dos dutos de propriedade da Petrobras. Ainda segundo os investigadores, parte do lucro aferido na atividade criminosa era utilizado para financiamento de campanhas políticas, razão pela qual existem agentes públicos do município de Caxias envolvidas no esquema criminoso.

Para desbaratar o esquema, a operação desta quinta-feira foi realizada em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual do Rio e também contou com a participação de funcionários da Agência Nacional de Petróleo (ANP), do Instituto estadual do Ambiente (Inea), da Petrobras e da Transpetro.

— Desde o início se falava que não havia motivação política em relação a esses homicídios na Baixada, que ocorreram entre 2016 e 2017. Existia, sim, essa disputa relacionada ao negócio de derivação clandestina e de como passar adiante o combustível furtado através de galpões, empresas. Então, conseguimos elementos que podem indicar possíveis executores — explica o promotor de Justiça Fabio Corrêa, do Gaeco/MPRJ.

Além do vereador Claudio Thomaz, a operação também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços vinculados ao ex-vereador Maurício Guimarães, também de Caxias. Segundo a investigação, dois ex-policiais militares apontados como executores de Berem do Pilar trabalhavam para Claudio e Maurício, nas funções de motorista e segurança, na época do homicídio.

— Chegamos até eles em razão de os investigados apontados como autores do crime terem trabalhado para Maurício e Claudio na época do homicídio — conta o delegado Santana, acrescentando que depoimentos colhidos pela especializada apontam o envolvimento dos vereadores com o furto de combustíveis.

Também foi cumprido mandado de prisão contra um policial militar da ativa. Tomé Nascimento Neto, do 14º BPM (Bangu), não foi encontrado em casa, mas os agentes apreenderam uma arma em sua residência. De acordo com a investigação, Tomé é sócio em uma empresa do ramo de combustíveis e faria parte do esquema criminoso de furto de combustíveis.

Na operação, os agentes prenderam em flagrante Ricardo dos Santos Francisco, de 40 anos. Ele estava em uma residência vinculada ao vereador Claudio Thomaz, onde foram encontrados um revólver e munições para armas de diversos calibres. O preso não tinha porte de arma e nem registro do revólver.Descrito pelo delegado Santana como um negócio milionário, o furto de combustíveis na região de Caxias deve ser alvo de novas investigações.

— É um inquérito antigo, mas traçamos estratégias novas e deu certo. Foram feitas apreensões de computadores, celulares e armas que a gente espera que ajudem a esclarecer ainda mais esse complexo quebra-cabeça — diz o   delegado  Moysés Santana tiular da DHBF.

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