Avaliação do Jeep Compass 2.0 TDI Limited 4WD 2020

Sou um apaixonado por carros esportivos à moda antiga, isto é, me amarro em esportivos pequenos, leves, baixos e com câmbio manual. Hoje em dia, entretanto, os esportivos que atraem mais a atenção do público são grandes, pesados, altos e com câmbio automático. Pois é, os Sport Utility Vehicles (SUV’s) conquistaram o mercado. A maior prova disso é que as montadoras restringem cada vez mais o catálogo de hatches e sedans e expandem o catálogo de SUV’s.

Notem que não me atrevi a mencionar as peruas, eis que entraram em extinção há tempos. Até os hatches aventureiros são tratados como SUV’s nos dias de hoje. Atender ao critério de altura definido pelo INMETRO é o passaporte para ingressar na categoria.

O raciocínio do mercado é o seguinte: se carro é caro, tem que ser SUV e automático. Ninguém está disposto a “investir” muito dinheiro em um hatch, ou mesmo um sedan. Quando iniciei o teste do Jeep Compass Limited Diesel, pensei: mais um SUV grandalhão para testar. Logo nos primeiros quilômetros, entretanto, o carro se mostrou bem diferente isso. Ágil, bom de dirigir, cheio de recursos tecnológicos capazes de encantar os consumidores mais exigentes.

Postei então uma foto do carro nas redes sociais, só para sentir o feedback inicial do público. Os comentários que recebi foram: legal, mas não anda nada e bebe muito. Não entendi muito bem esse comentário, pois andei no carro antes de postar a foto e pude perceber que modelo apresenta um desempenho bastante satisfatório. Quando perguntados sobre qual versão do Compass tinham experimentado, a resposta era sempre a mesma: a versão flex, que é a mais vendida.

Curioso, a versão flex vende muito, mas deixa essa marca na cabeça do povo…Grande parte da liderança do Compass no mercado de SUV’s médios se deve às locadoras de veículos, que compram diversas unidades do carro. Os feedbacks que recebi após postar a foto do Compass nas redes sociais foram de pessoas que alugaram o carro. Nenhuma delas adquiriu o modelo, seja zero km ou usado.

Deve haver uma diferença significativa de performance entre as versões flex e diesel, ou então estou pouco exigente com um carro que custa quase R$200 mil, pensei. Pois bem, comparando as fichas técnicas da versão diesel e da versão flex, percebe-se que as principais diferenças estão no peso e no torque. A versão flex pesa 1.547kg, e o motor “Tigershark” 2.0 atmosférico entrega aproximadamente 166cv no etanol e 20kgfm de torque a 4000 rpm. Já a versão diesel pesa 170kg a mais, principalmente devido à tração 4×4, inexistente na versão flex, totalizando 1.717kg de peso. O sofisticado motor Multijet II, projetado pela Alfa Romeo e importado da Itália, entrega bons 170cv e 35.6kgfm de torque (!!!) a meros 1.750 rpm.

Para complicar ainda mais, as duas versões apresentam números de desempenho parecidos: 0 a 100km/h em torno de 10 segundos, velocidade final entre 190 e 200km/h. Qual a origem das melhores respostas da versão diesel, afinal?

Bom, na versão diesel os 170cv de potência podem ser percebidos cedo, a baixas rotações. O motor girando pouco já entrega toda a potência do carro. Além disso, graças ao torque elevado (35.6 kgfm), sobra força para enfrentar obstáculos encontrados no fora de estrada (lama, areia, ladeiras íngremes). Já na versão flex é necessário esticar as marchas para acessar os 166cv de potência (ou 159cv, se abastecido com etanol).

Na verdade a versão flex anda bem, mas para acessar a potência máxima do Tigershark o motorista precisa precisa fazer o motor girar bastante. Isso explica as críticas de “esse carro não anda nada” manifestadas pelos internautas nas redes sociais.

Em suma, o Compass diesel é mais ágil do que o flex, mesmo se os números de desempenho são parecidos (0-100, velocidade final). Essa agilidade é facilmente percebida no anda e pára das cidades. Deixando essa polêmica de lado, vamos logo ao que interessa…. O que eu achei do Compass Limited Diesel?

O carro passa uma sensação de solidez muito grande, coisa de carro bem construído. O motor Multijet de 2a geração é excelente, como já mencionado, e o câmbio de 9 marchas casa muito bem com esse motor, apresentando trocas rápidas e a possibilidade de escolher marchas pelas aletas atrás do volante. Nas ruas da cidade, o Compass ignora completamente as imperfeições do asfalto, é como se praticamente não existissem, isso graças à boa construção, mas também à suspensão de curso longo típica dos SUV’s de verdade e às rodas de grande diâmetro (aro 19).

Por falar em SUV de verdade, o carro apresenta vários modos de configuração da tração. Além de reduzida e bloqueio de diferencial, no console há um botão que permite acionar o assistente de descida íngreme e, girando o botão ao lado que comanda a tração, é possível escolher entre as opções AUTO, SNOW, SAND e MUD. Ou seja, é um Jeep de verdade, encara um fora de estrada “numa nice”.

O acabamento é premium, bem bonito mesmo. O espaço interno é ótimo, inclusive no porta-malas, com 410 litros de capacidade. Em termos de tecnologia, o carro dá show, ainda mais a unidade testada, equipada com todas os opcionais oferecidos para a versão Limited. Com todos os opcionais disponíveis, a versão Limited encosta na exclusivíssima versão topo de linha (a “S”).

Olhando de fora, as rodas aro 19 com pneus de perfil baixo (235/45 R19), as luzes diurnas e lanternas em led, a pintura branco polar e teto na cor preta, oferecem ao modelo um visual bem interessante. Resumo da história: curti muito o carro, mesmo sendo amante de esportivos à moda antiga, como disse no início do texto. Para quem curte SUV e dispõe de R$200 mil para aplicar em um carro, é uma opção deveras tentadora.

Como pontos positivos do Jeep Compass Limited Diesel, destaco: (i) motor diesel eficiente e econômico, projetado pela Alfa Romeo; (ii) suspensão excelente, bem calibrada, tornando o uso nas nossas cidades esburacadas bem confortável; (iii) recursos tecnológicos em abundância, com destaque especial para o controle de cruzeiro adaptativo (ACC), que transforma o Compass em um veículo semi-autônomo; (iv) ótimo espaço interno, com destaque para os 410 litros do porta-malas.

Em relação aos pontos negativos, menciono: (i) preço de aquisição; (ii) preço elevado do seguro, agravado pelo fato de ser diesel; e (iii) muitos recursos tecnológicos aumentam os custos de reparação.  Agora convido o leitor a conhecer em detalhes as principais características da versão Limited testada, equipada com todos os opcionais (pack high tech e teto solar elétrico panorâmico).

Olhando o Compass pelo lado de fora, percebe-se que o Compass não é um SUV grande (apesar de oferecer um ótimo espaço interno). Isso é positivo, pois facilita as manobras nos diminutos espaços tão comuns nas grandes cidades brasileiras. A frente é bonita, destacando-se as entradas de ar no melhor estilo jeep e os faróis com xenon e luzes diurnas. Na traseira, as lanternas em led arrematam o belo conjunto.

Destaca-se também o teto em uma cor diferente do carro, na cor preta, combinando com os vidros escuros do teto panorâmico. Por falar em teto panorâmico, que espetáculo é esse teto do Jeep. Gigante, ele abre até a metade. A sensação de espaço interno é reforçada por esse acessório. Em dias de sol forte, é possível fechar uma grossa cortina, que isola totalmente o interior dos raios solares e calor.

Dentro do carro, o ótimo acabamento impressiona, principalmente nos dias de hoje, em que há uma tendência nas montadoras de rechear os carros com tecnologia e, buscando reduzir custos, economizar no acabamento. No Jeep não tem dessa, o carro é completo e bem acabado.  E os recursos tecnológicos que tanto menciono ao longo do texto, quais são afinal?  São tantos que nem sei por onde começar.

Vamos começar pelos recursos de segurança, que é o mais importante. Bater com o Jeep Compass é praticamente impossível. Com o controle de cruzeiro adaptativo ativado (disponível no pack high tech), basta definir uma velocidade através dos botões no volante e deixar o carro fazer o resto. O Compass, sozinho, andará no ritmo do trânsito, bastando conduzir o volante. Não é necessário acelerar ou freiar. O carro acelera até o limite de velocidade estabelecido e para sozinho, sempre que necessário. Graças ao sistema de controle de faixa, até pequenas correções no volante o carro faz, com vistas a manter o carro dentro da faixa em que se encontra. Mas cuidado, o sistema não corrige a direção do carro de forma contínua. A ideia é corrigir pequenas distrações do motorista, e não dirigir o carro de forma autônoma.  Com o controle de cruzeiro adaptativo ativado, o Compass se transforma em um carro “semi-autônomo”.

E detalhe, mesmo com o sistema desativado, o carro continua freando sozinho graças ao assistente de frenagem de emergência. É uma frenagem forte, de emergência, não é suave como a frenagem proporcionada pelo controle de cruzeiro.  Há no manual, inclusive, um alerta… O sistema não deve ser colocado a prova, devendo ser utilizado apenas em situações excepcionais, extraordinárias. É o último recurso contra o acidente. Para evitar mal uso, o sistema funciona por até 5 vezes a cada vez que o motor é ligado.

Seis airbags (frontal, lateral, cortina) e airbag para joelho, assistente de ponto cego, assistente de partida em rampa, assistente de descida de rampa (útil no offroad), controle de tração, controle de estabilidade, alerta luminoso e sonoro de colisão, assistente de frenagem em situação de pânico (visa a extrair o máximo da capacidade de frenagem do carro em situação de emergência), assistente de estabilidade para quando o carro está puxando um reboque, assistente anti-capotagem, tudo isso o motorista encontra no Compass.

Mas não é só… Há também um interessante assistente de estacionamento, que oferece ao motorista a possibilidade de estacionar o carro operando apenas o câmbio de acordo com instruções que serão dadas pelo computador de bordo. Um espetáculo ver o volante girando sozinho, sem dúvida. Acredito, entretanto, que um motorista com habilidade razoável não vai ter paciência de usar esse sistema, pois é capaz de estacionar o carro em muito menos tempo, sem grandes estresses.

O show de tecnologia ainda não acabou…O carro vem com um kit multimídia super completo e rápido nas respostas de tela. Por falar em tela, ela tem 8.4 polegadas e uma ótima definição. A multimídia é compatível com Android Auto e Apple Car Play, como não poderia deixar de ser. Através dela é possível acessar todos os comandos do ar condicionado dual zone disponível no Compass, que também oferece comandos físicos externos. Isso é interessante, pois simplifica a operação do ar condicionado.

Nada de ficar procurando menus, basta dirigir a mão ao console e dar ao sistema o comando desejado. Ao adquirir o pacote “high tech”, o carro recebe um sistema de som projetado pela famosa Beats. São 506W empurrando 8 alto falantes e 1 subwoofer. Nada mal, a qualidade sonora é muito boa, realmente.

Pensa que acabou? Nada disso… O porta-malas abre sozinho, bastando um toque em um botão interno, ou então atráves de um outro botão localizado na chave do carro (que é presencial, obviamente). Através da chave é possível ligar o carro à distância. No carro podem ser encontradas várias entradas USB e tomadas 12v (inclusive no porta-malas). Há também uma tomada 127v para os passageiros do banco traseiro.

Outros recursos tecnológicos encontrados em carros nessa faixa de preço estão disponíveis nesse carro, tipo sensor crepuscular e de chuva, espelhos rebatíveis eletricamente, retrovisor fotocrômico, freio de estacionamento elétrico. A Jeep não esqueceu de nada, o leitor pode ficar tranquilo quanto a isso.

Como fica o Jeep Compass Diesel em relação à concorrência?  O modelo é ideal para quem dispõe de algo em torno de R$200 mil e pretende rodar bastante e fazer fora de estrada. O Compass tem ótimos ângulos de ataque e saída, além de tração própria para essa situação. Quem se enquadra nesse perfil não vai achar opção melhor.

Quem não pretende fazer fora de estrada já pode pensar em alternativas como um Chevrolet Equinox Premier (mais barato, gasolina, AWD, mais rápido, entretanto beberrão) ou quem sabe um Toyota Rav4 Hybrid (confiabilidade Toyota, mais barato, híbrido, AWD, ótimo desempenho graças ao funcionamento em conjunto dos motores a combustão e elétrico, alta eficiência em termos de consumo). Graças à tecnologia híbrida embarcada no Toyota, o Rav4 consegue ser tão rápido quanto o Chevrolet Equinox e mais econômico do que o Jeep Compass Diesel. (Por Arnaldo Bittencourt (texto) / Fotos: Marcus Lauria)

*FICHA TÉCNICA:

Mecânica

Motorização 2.0

Combustível             Diesel

Potência (cv)            170

Torque (kgf.m)         35,69

Velocidade Máxima (km/h)           194

Tempo 0-100 (s)      10

Consumo cidade (km/l)      10,1

Consumo estrada (km/l)    13,7

Câmbio          automática com modo manual de 9 marchas

Tração           4×4

Direção          elétrica

Suspensão dianteira          Suspensão tipo McPherson e dianteira com barra estabilizadora, roda tipo independente e molas helicoidal.

Suspensão traseira            Suspensão tipo McPherson e traseira com barra estabilizadora, roda tipo independente e molas helicoidal.

Dimensões

Altura (mm)   1.650

Largura (mm)           1.819

Comprimento (mm)             4.416

Peso (Kg)      1.700

Tanque (L)    60

Entre-eixos (mm)     2.636

Porta-Malas (L)        410

Ocupantes    5

*Dados do fabricante

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