Na bolha, o basquete é só um detalhe

 

  

NBA e WNBA provam eficiência de estruturas para isolar atletas

Grande parte dos atletas que hoje são profissionais já passou por uma experiência no início da carreira: viajar para um campeonato e ficar confinado junto com companheiros de time. Uma espécie de excursão para jogar. Atualmente, alguns dos principais nomes do basquete mundial estão revivendo essa sensação, mas numa proporção muito maior. Os atletas da NBA (liga profissional de basquete masculino dos Estados Unidos) e da WNBA (liga feminina de basquete norte-americana), ambas consideradas as mais fortes do mundo, vão decidir os campeões da temporada em um ambiente como nunca se viu. São as chamadas bolhas.

O basquete é o motivo de essas pessoas estarem lá, mas nem de longe é o único assunto. Afinal, reunir os jogadores em um mesmo local foi a forma que as duas ligas encontraram para evitar a não-realização (ou finalização) dos campeonatos e a consequente perda de grandes somas de investimentos. Tudo isso, é claro, por conta da sacudida que a pandemia do novo coronavírus (covid-19) deu no mundo do esporte, com cancelamentos e adiamentos por todos os cantos.

Tanto a NBA quanto a WNBA escolheram o estado americano da Flórida como sede das suas respectivas bolhas. Somente Nova Iorque e Califórnia registraram mais casos do coronavírus do que a Flórida. Então, a preocupação é latente. A ala Damiris, do Minnesota Lynx, é a única brasileira na bolha da WNBA, que está concentrada na IMG Academy, um complexo esportivo na cidade de Bradenton.

Segundo a atleta, por maior que seja o esforço para evitar contaminações, sempre resta um pouco de aflição: “Cada dia que ligamos a televisão é uma notícia nova, dizendo que as coisas estão piorando. Estamos otimistas, mas é complicado. Minha família ficou no Brasil, mas algumas meninas aqui vieram com os filhos, ou a mãe, ou o marido. Sei que o mundo está uma bagunça, mas estar aqui, mesmo sabendo que meus familiares estão longe, mas bem, é até melhor do que ficar em casa”.

Damiris revelou que tem recebido acompanhamento psicológico profissional individualizado todos os dias, o que ajuda a amenizar o impacto emocional de estar dentro de uma bolha. Por mais que as atletas estejam lá treinando e se preparando para a temporada que começa no próximo sábado (25), elas são lembradas da situação no mundo o tempo todo.

Damiris está na boha da WNBA realizada na Flórida – Stephen Gosling/NBAE via Getty Images/Direitos Reservados

Damiris conta que a rotina inclui testes de covid-19 todos os dias e, durante os treinos, uma quantidade abundante de álcool em gel à disposição. Recomendações de distanciamento (fora dos treinamentos, é claro) devem ser seguidas à risca. Ao chegar aos Estados Unidos, ela foi primeiro para a sede do time, em Minnesota, onde permaneceu por quatro dias treinando sozinha, antes do embarque para a Flórida, onde ficou mais quatro dias isolada.

No dia 6 de julho, a WNBA divulgou que 137 jogadoras fizeram o teste para a doença, com sete resultados positivos. Desde então, a liga não publicou mais nenhuma atualização, mas as atletas têm se mostrado confiantes. Damiris passou até a ver o lado positivo da experiência.

“É tudo muito novo para todo mundo. Antes, nós jogadoras só nos encontrávamos na hora do jogo. Agora, estamos juntas o tempo todo. Brincamos mais, nos reunimos para jogar videogame, assistir filme. Tenho tentado absorver tudo e aproveitar cada momento, porque sei que será histórico”, declarou.

Mas nem tudo são flores. Quando as atletas tinham acabado de chegar à bolha, no começo do mês, algumas primeiras impressões foram bem ruins. Relatos e alguns vídeos deram conta da presença de insetos nas camas e de um espaço de lavanderia com condições de higiene nada amigáveis e até uma ratoeira na parede:

Damiris conta que a rotina inclui testes de covid-19 todos os dias e, durante os treinos, uma quantidade abundante de álcool em gel à disposição. Recomendações de distanciamento (fora dos treinamentos, é claro) devem ser seguidas à risca. Ao chegar aos Estados Unidos, ela foi primeiro para a sede do time, em Minnesota, onde permaneceu por quatro dias treinando sozinha, antes do embarque para a Flórida, onde ficou mais quatro dias isolada.

No dia 6 de julho, a WNBA divulgou que 137 jogadoras fizeram o teste para a doença, com sete resultados positivos. Desde então, a liga não publicou mais nenhuma atualização, mas as atletas têm se mostrado confiantes. Damiris passou até a ver o lado positivo da experiência.

“É tudo muito novo para todo mundo. Antes, nós jogadoras só nos encontrávamos na hora do jogo. Agora, estamos juntas o tempo todo. Brincamos mais, nos reunimos para jogar videogame, assistir filme. Tenho tentado absorver tudo e aproveitar cada momento, porque sei que será histórico”, declarou.

Mas nem tudo são flores. Quando as atletas tinham acabado de chegar à bolha, no começo do mês, algumas primeiras impressões foram bem ruins. Relatos e alguns vídeos deram conta da presença de insetos nas camas e de um espaço de lavanderia com condições de higiene nada amigáveis e até uma ratoeira na parede:

Astros da NBA buscam terminar temporada

Já na bolha da NBA, cujos jogos de pré-temporada iniciaram nesta quarta (22), os problemas aparentemente foram em escala bem menor. É bem verdade que os homens dispõem de uma estrutura consideravelmente melhor. Jogadores de 22 dos 30 times da liga estão hospedados em três hotéis de luxo dentro do parque da Disney, em Orlando. Diferentemente da WNBA, a temporada da NBA estava em andamento. A liga optou por eliminar oito times. Os outros seguem na disputa a partir do dia 30, com o título sendo decidido em outubro.

A maior reclamação também foi no início. Um dos primeiros jogadores a desembarcar na bolha, o armador Troy Daniels, do Denver Nuggets, logo expôs o cardápio dos atletas que chegavam para as primeiras 36 horas, que deveriam ser passadas em isolamento dentro do quarto. A postagem viralizou e a discussão era se a comida estava à altura daqueles atletas milionários:

Após o fim desse breve confinamento, os astros passaram a ter mais opções e as reclamações, e piadas, cessaram.

A bolha dos homens segue um longo protocolo determinado pela liga. Também são realizados testes diariamente. Há uma série de opções de entretenimento, desde sessões de cinema exclusivas com filmes que ainda não foram lançados para o público até apresentações de DJ’s. Essa última parece não ter feito muito sucesso, com relatos de que em um dos shows só havia o pivô Dwight Howard, do Los Angeles Lakers, na pista.

Além disso, os atletas podem pegar um barco para pescar ou frequentar a piscina, mantendo distância uns dos outros. O afastamento também é condição fundamental para disputar uma partida de ping-pong, tanto que os atletas foram proibidos de jogar em duplas.

Quem desrespeita as regras recebe um corretivo imediato. O primeiro a burlar as normas foi o brasileiro Bruno Caboclo, do Houston Rockets, que deixou o quarto antes de completar as 36 horas iniciais de isolamento. Caboclo disse que não sabia da regra. Não fez diferença para a liga, que o colocou em um novo período de dez dias de confinamento até que ele pudesse voltar a conviver com os companheiros.

Quem já está livre, e inclusive treinando com os companheiros, é o armador Raul Neto, o Raulzinho, do Philadelphia 76ers. Além do tempo para recuperar atletas que vinham de lesão no calendário normal da NBA, o brasileiro também destaca a possibilidade de poder se concentrar na busca pelo título num ambiente isolado do resto do mundo.

“Todo mundo está focado, não tem distração, não tem família, não tem amigos. Os treinos estão sendo muito bons”, revela.

Por essa ótica, estar longe da família pode ser bom, mas esse é um dos pontos mais discutidos como sacrifícios feitos pelos jogadores. A liga não permitiu que nenhum familiar entrasse na bolha. A entrada deles só será permitida no fim de agosto, quando só restarão oito times na disputa.

A ideia é minimizar a probabilidade de colocar em risco as pessoas mais queridas dos atletas e também mexer o mínimo possível com o equilíbrio do ambiente.

Na bolha da NBA a circulação de jogadores e controlada- Toronto Raptors/Handout via Reuters/Direitos Reservados

A saída de jogadores da bolha por razões médicas é permitida. O novato Zion Williamson, por exemplo, deixou a Disney na última semana por questões familiares. Quando retornar deverá passar por nova quarentena.

A julgar pelos resultados dos testes periódicos feitos pela NBA, jogadores e familiares têm motivos para acreditar na eficiência da bolha. Depois de as primeiras rodadas terem retornado alguns casos positivos, a última, cujo resultado foi divulgado na última segunda-feira (20), mostrou que nenhum dos 346 atletas testados está com covid-19.

Não é motivo para relaxar, pois os funcionários da Disney, que trabalham nas mais diversas funções relacionadas a serviços, não estão sendo testados com a mesma frequência, nem estão permanecendo isolados, indo e voltando de casa constantemente em um dos estados com maior incidência do vírus. Mas já é um começo.

A torcida, tanto na WNBA quanto na NBA, é que no fim das contas a experiência de competir numa bolha, sem público nos ginásios e sem a torcida para comemorar o título, seja lembrada mais como uma anedota do que uma ideia infeliz.

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