O valor da governança nas empresas familiares

Jubran Coelho*

Carolina de Oliveira**

Escolher as práticas corretas de governança em uma empresa familiar é essencial para a sustentabilidade do negócio. Normalmente a governança é descrita como um sistema de filosofias, mecanismos, estruturas e práticas direcionadas para a tomada de decisões e a comunicação entre indivíduos. Na empresa familiar, eles compartilham interesses e objetivos, mas também múltiplos papéis como acionistas, executivos e membros da família.
Um sistema robusto de governança familiar pode incluir conselhos de família, assembleias e constituições, com orientações claras sobre como as decisões serão tomadas. Isso contribui para a profissionalização do negócio e a coesão da família. Assim, a governança familiar precisa refletir a composição geracional e as responsabilidades dos membros à medida que as respectivas responsabilidades administrativas evoluem.
Na empresa familiar, a governança deve apoiar propósito, princípios e valores compartilhados. Limites claros precisam ser estabelecidos sobre o que é decisão da empresa, o que é do conselho, o que é dos acionistas e o que é decisão da família. Ainda assim, conflitos ocorrem em negócios familiares, sendo importante o entendimento da causa deles. Quando há uma autoridade definida, não há ambiguidades e diminuem os conflitos.
Outro ponto relevante diz respeito às carreiras. As famílias devem procurar compreender as aspirações individuais, os planos da família e os objetivos da empresa. Um plano de carreira com regras e políticas claras aumenta as intenções de sucessão das gerações futuras.
E, embora possam ser criticadas por nepotismo, muitas têm adotado padrões profissionais de recrutamento. Estas empresas devem equilibrar família e negócios, sendo a transparência uma qualidade fundamental nessa jornada. Estabelecer idade para aposentadoria é vantajoso para a geração atual e os sucessores e alimentar o empreendedorismo é uma boa estratégia para impulsionar inovação e competitividade.
As empresas familiares devem garantir também que a governança seja aplicável à realidade. O sucesso dependerá de quanto a governança de cada família equilibra estabilidade com agilidade. Apesar de as regras de governança imporem certas restrições ao comportamento e às ações da família, elas precisam ser também flexíveis para permitir a busca de novas soluções dentro dessa estrutura.
Muitas das respostas das empresas à pandemia são excelentes exemplos de como a governança familiar atingiu esse equilíbrio com estruturas de tomadas de decisões flexíveis integradas com ações rápidas que protegeram as empresas familiares e mantiveram vivos propósitos e valores.
A evolução da governança corporativa nas empresas familiares está integralmente conectada com o aumento da complexidade do mercado em diferentes setores e regiões. Continuamos na pandemia e com grandes desafios pela frente, mas tendo em vista o histórico de resiliência e amadurecimento das empresas familiares ao ultrapassarem gerações e crises como a que estamos vivendo, é imprescindível que seus líderes continuem flexíveis e corajosos, preservando o legado da empresa e da família, ao mesmo tempo que cuidam de suas pessoas e buscam atingir o sucesso nos negócios de forma ética e transparente com seus stakeholders.

*Jubran Coelho é sócio-líder de Private Enterprise da KPMG no Brasil e na América do Sul.
**Carolina de Oliveira é sócia-diretora de Private Enterprise da KPMG no Brasil.

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