Cidades do Rio têm ocupação de 80% das UTIs. Fiocruz aponta alto risco

Análise feita pela Fundação Oswaldo Cruz alerta que o cenário atual da pandemia é preocupante. Pesquisadores chamam atenção sobre a necessidade de colocar em prática mais medidas de enfrentamento

Um boletim divulgado pela Fiocruz nesta quarta-feira (09) mostra que o Brasil ocupa um cenário de alto risco da pandemia da covid-19. O relatório indica que as taxas de ocupação de leitos de UTI para a doença, observadas em 7 de junho apontam para a persistência de quadro grave de sobrecarga no sistema de saúde. No Rio, 16 cidades já estão com cerca de 80% dos leitos de UTI ocupados. Os pesquisadores chamam atenção sobre a necessidade de colocar em prática mais medidas de enfrentamento nas próximas semanas até que a maior parte da população esteja vacinada.

No estado do Rio, atualmente, 3,6 milhões de pessoas receberam apenas a primeira dose do imunizante. Este número é bem menor quando se fala da aplicação da segunda dose, onde pouco mais de 1,6 milhão retornaram para completar o processo vacinal. Na cidade do Rio, dados oficiais revelam que pelo menos 82 mil pessoas não retornaram aos postos. De acordo com o IBGE, a população fluminense estimada em 2020 é de pouco mais de 17 milhões habitantes. O pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz, Raphael Mendonça Guimarães, esclarece que é fundamental o retorno para o controle da doença e imunização individual.
“Tem pessoas que tomam a primeira dose e não voltam confiando de que só uma é suficiente e ela não é. A eficácia já na primeira dose é alta, mas não garante imunidade permanente e não garante que a eficácia total da vacina seja adquirida. É preciso que as pessoas voltem aos postos e tomem a segunda dose. Isso garante proteção individual e que a cobertura vacinal aumente a ponto de dizermos que estamos bloqueando a circulação do vírus”, disse.
 
Segundo a Fiocruz é preciso dar início a medidas de mitigação para prevenir um novo colapso do sistema de saúde. Em todo o Brasil, 20 estados e o Distrito Federal têm ocupação de UTI acima de 80%. No Rio de Janeiro, essa taxa está em 81% e na capital os dados são ainda mais preocupantes, com 89% do sistema de saúde comprometido.
“Nós temos uma relativa estabilidade (na ocupação de leitos), durando mais de um mês, mas uma estabilidade em um patamar bastante elevado. No gráfico de evolução diária, é possível ver que a gente só teve um patamar maior que esse em meados de maio e início de junho do ano passado, quando houve o primeiro pico da pandemia”, explicou.
 
Das 16 cidades com mais de 80% dos leitos de UTI ocupados, cinco já estão com 100% de ocupação e uma delas já atingiu 140%, nas vagas de Unidade de Tratamento Intensivo.
Angra dos Reis, 92%; Bom Jesus de Itabapoana, 100%, Cantagalo, 100%; Cordeiro, 80%; Duque de Caxias, 80%; Itaboraí, 81%; Itaguaí, 140%; Itaperuna, 80%; Maricá, 92%; Miracema, 100%; Rio das Ostras, 82%; Rio de Janeiro, 89%; São Gonçalo, 88%; São Sebastião do Alto, 100%; Saquarema, 86% e Três Rios com 100%
Para Raphael Guimarães, é preciso parar de afrouxar medidas de distanciamento e liberação de serviços não essenciais. Ele explica que, o indicativo atual no número de leitos, que ainda não está colapsado é de que haja uma atenção maior à rede de saúde para melhor organizá-la, a fim de prevenir um eventual aumento no futuro.
“É preciso reorganizar os leitos, reorganizar o fluxo, fazer provisão de insumos adequados. Esse indicador não pode servir como uma justificativa para adotar medidas de relaxamento. Isso só pode ser adotado quando houver um aumento substancial de cobertura vacinal e garantias de relaxamento responsável, com pessoas usando máscara, respeitando distanciamento, o que requer um nível de fiscalização que a gente ainda não dá conta de fazer”, explicou.
Segundo o Painel Covid Rio, a taxa de letalidade da doença no estado é de 5.82%, a mais alta do país, além disso, o estado do Rio de Janeiro continua em bandeira laranja, o que simboliza que o risco de infecção pelo coronavírus permanece moderado. Aliado a isso, ainda há a escolha para locais dos jogos da Copa América. Na última sexta-feira, o prefeito Eduardo Paes disse que não foi consultado formalmente e que o município não tem envolvimento com a decisão.
Questionado sobre a possibilidade de impor barreiras sanitárias para impedir aglomerações durante o evento, Paes citou a Anvisa e o governo federal como os responsáveis por realizarem este controle e disse esperar a preocupação dos órgãos em relação à manutenção das medidas de segurança durante a realização dos jogos.
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