Morte de jovem de 16 anos é investigada em ação policial na Penha que prendeu bandidos ligados a ataques no Amazonas

Criminoso conhecido como Marcelão, suspeito de ter ordenado ataques em Manaus, foi preso no Rio Foto: Divulgação

A operação “Coalizão do Bem”, realizada pela Polícia Civil e com apoio da Polícia Militar no Complexo da Penha, na manhã desta sexta-feira, terminou — em solo carioca —, com oito homens presos e a morte de um adolescente de 16 anos, identificado como Thiago Santos Conceição, que é investigada. A ação, que mirou uma quadrilha de criminosos escondidos no Rio que teria ordenado ataques em Manaus e movimentado mais de R$ 125 milhões junto à maior facção criminosa fluminense, foi realizada em parceria com policiais civis do Amazonas, Pará e de São Paulo, onde também aconteceram operações. No Rio, uma das principais prisões foi de Marcelo da Silva Nunes, criminoso identificado pelo apelido de Marcelão ou Jogador, apontado como um dos chefes do tráfico no Amazonas, e que teria ordenado os ataques de cerca de duas semanas atrás.

Sobre a morte de um jovem, que estaria em casa no momento em que foi ferido, e segundo o relato de moradores, era inocente, a polícia afirma que não esteve no local onde ele acabou sendo atingido, mas que tenta esclarecer o que aconteceu.

— Essa operação aconteceu em paralelo com outra, do Amazonas. Lá, tivemos cinco presos, quatro carros apreendidos e R$ 13 mil. Por lá, também, o pai de um dos presos atacou os policiais, houve confronto e ele morreu. Aqui no Rio, foram oito presos. Mais de uma tonelada de drogas, munição e armas foram apreendidas. Dois suspeitos morreram e temos a informação de um adolescente que teria sido baleado. Lá (onde ele foi ferido), não havia operação, então, vamos investigar o que houve — disse o subsecretário operacional de Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira na Cidade da Polícia. — Sobre o adolescente baleado, não temos informações muito precisas. Posso afirmar com convicção, que no local não havia nenhum policial. Os agentes perceberam um tumulto e receberam a informação que um adolescente foi baleado e que os parentes socorreram ele por meios próprios. Nesse local não houve embate com traficantes.

O jovem foi levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas, segundo a direção do hospital, não resistiu. Além dele, outros três homens, estes considerados suspeitos pela polícia, também deram entrada na unidade: dois morreram e um segue internado.

A direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV) informa que quatro pessoas baleadas deram entrada na unidade. Dois adultos e um adolescente de 16 anos chegaram já em óbito. O quarto paciente está em atendimento no centro cirúrgico“, escreveu o hospital em nota.

Balanço da operação nos três estados:

  • 8 presos no Rio de Janeiro
  • 2 presos em São Paulo
  • 5 presos no Amazonas
  • Um homem morto em Manaus (o pai de um dos suspeitos, que teria reagido à ação)
  • Dois suspeitos e um adolescente de 16 anos mortos no RJ; um suspeito baleado segue internado
  • R$ 129 milhões bloqueados da quadrilha
  • Uma tonelada de maconha apreendida
  • Um fuzil calibre 7.62 apreendido
  • Munição de calibre .50
  • Granadas

Rodrigo Oliveira também comentou sobre a origem da operação. Segundo ele, o foco foi em criminosos dos outros três estados que têm se evadido para o Rio de Janeiro.

— Há seis meses, começou a chamar atenção o fato de pessoas de outros estados estarem escondidas no Rio. Começamos a investigar e notamos que alguns roubos em joalherias na Zona Sul eram oriundos do Pará. Sobre os ataques no Amazonas, a polícia de lá nos procurou informando que quem ordenou os ataques de lá estava aqui. Isso, há 15 dias. Há uma semana, montamos a operação. Todos sabem que a região do Complexo da Penha e do Alemão é sensível pelos enfrentamentos que acontecem por lá. Por isso, convidamos a PM e houve divisão do terreno. Eles deram segurança para operarmos nestas regiões — contou. — A maioria dos presos são de outros estados e que tinham vínculos com roubos e ataques no Amazonas. Quem estiver aqui, o estado vai se fazer presente sempre. Conseguimos prender esses criminosos que estão se escondendo no Rio e, paralelo a isso, fizemos uma ação para bloquear o patrimônio deles.

 

O delegado Fábio Porto, do Departamento Geral de Combate à Corrupção, Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) da Polícia Civil do Rio, reforçou que estes criminosos que vêm ao Rio não encontraram uma “colônia de férias”.

— Essa operação Rio x Amazonas é no contexto da ação da Coalizão pelo Bem. Investigações com o apoio do Coaf mostram que essa quadrilha movimentou muito dinheiro lá no Amazonas. Essa ação foi exitosa e demonstrou que criminosos de outros estados que vêm para cá e pensam que aqui é colônia de férias, não vão encontrar espaço. E essa estrutura será desarticulada — acrescentou.

A chefe de Polícia Civil do Amazonas, delegada Emília Ferraz, destacou a ação, e reforçou que um trabalho de inteligência revelou que as ordens para os ataques ocorridos em Manaus há duas semanas foram ordenados por criminosos baseados no Rio de Janeiro.

— O Brasil acompanhou o que aconteceu no estado do Amazonas há quase duas semanas. Fomos vítimas de vandalismos. O governador pediu para que todos os esforços fossem tomados e que as organizações criminosas fossem devidamente detidas para que respondam junto à lei. A inteligência mostrou que essas ordens partiram do Rio de Janeiro. Queremos dar uma resposta à altura. Independente da fronteira, vamos buscá-los. O maior comandante da facção criminosa foi preso.

A operação

A operação foi coordenada pelo Departamento Geral de Combate à Corrupção, Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e contou com apoio do Departamento de Polícia Especializada, para cumprimento de 18 mandados de prisão temporária, 35 mandados de busca e apreensão, o bloqueio judicial de até R$ 126.984.934,67 nas contas bancárias das empresas, dos suspeitos e o sequestro de bens de alto valor, todos expedidos pela 1ª Vara Especializada do Crime Organizado (TJ-RJ).

As investigações identificaram ligação entre o grupo criminoso do Rio e seu braço no estado do Amazonas, que usava o sistema bancário e de empresas de fachada para a remessa de valores do Rio para o Amazonas. Para os policiais, o dinheiro seria utilizado para “o fortalecimento da facção no Estado do Amazonas, bem como para a aquisição de armas e drogas para o grupo criminoso do Rio de Janeiro, já que a organização criminosa amazonense controla territorialmente uma das principais rotas de tráfico da América Latina: a Tríplice Fronteira Amazônica, formada pelas cidades de Tabatinga-Brasil, Santa Rosa-Peru e Letícia-Colômbia”.

Durante a apuração, constatou-se que a estrutura de lavagem de dinheiro também presta serviço para a maior facção paulista, a partir de recursos oriundos de São Paulo.

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