Regras para seguro de veículos serão flexibilizadas; preço pode ficar mais barato

    O custo do seguro é uma das questões analisadas por muitos consumidores antes de comprar um carro. Pagar cerca de R$ 3 mil por ano, além das parcelas do veículo, dos gastos com manutenção e combustível, não tem feito sentido para alguns motoristas, principalmente para os mais jovens, que preferem recorrer a locadoras ou a aplicativos de carros compartilhados, como Uber e 99. Por outro lado, há um grupo que não abre mão do carro para se locomover porém, devido aos altos preços das apólices, prefere contar com a sorte a obter a garantia. Esses e outros motivos levam 84% da frota brasileira a não estar segurada, conforme indicam dados de 2019 do Departamento Nacional de Trânsito. Com o objetivo de ampliar o acesso aos seguros veiculares, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) irá flexibilizar regras e critérios.

A nova norma, que entra em vigor no dia 1º de setembro, permite, por exemplo, que o seguro seja personalizado. O dono de um veículo antigo que não ache vantajoso contratar cobertura para furto e roubo poderá optar apenas pelo seguro para acidentes, como colisões e incêndios, pagando mais barato.

 

Também será possível vincular o seguro ao condutor, ao invés do veículo. Desse modo, todos os carros que um motorista específico dirija estarão com a garantia ativa. O produto é ideal tanto para o motorista por aplicativo que costuma alugar carros para trabalhar, quanto para o jovem que não possui carro próprio mas aluga um ocasionalmente ou dirige o de amigos e familiares.

— A cobertura sobre danos causados a terceiros, por exemplo, que é vinculada a um carro passará, nesse caso, a estar vinculada ao condutor. Então, se ele estiver dirigindo um outro veículo e provocar um acidente, poderá ter o amparo do seguro para arcar com os danos pessoais e materiais causados a outras pessoas — acrescenta Mariana Arozo, coordenadora-geral de regulação de seguros massificados, pessoas e previdência da Susep.

Essa é a chamada cobertura de responsabilidade civil, a qual, inclusive, poderá ser contratada de forma exclusiva. O CEO da gestora de canais de distribuição de seguros e produtos financeiros Wiz, Heverton Peixoto, avalia, porém, que esse produto deve demorar a se popularizar.

 

— O brasileiro é muito apegado ao seu próprio patrimônio. Muitas vezes, faz um seguro pensando mais em proteger o carro que comprou, baixando a cobertura de terceiros. Por isso, acredito que as pessoas vão demorar a adotar o seguro de responsabilidade civil, que já é muito comum no exterior. Depende do amadurecimento da cultura para que o cliente entenda como baratear suas coberturas com o que realmente importa — opina Peixoto.

Outra novidade é a cobertura parcial. Ao invés de optar por receber o valor total do carro em caso de sinistro, o segurado poderá escolher ser reembolsado com a metade do valor. Ao dividir o risco com a operadora, ele também irá pagar mais barato no contrato.

Segundo a Comissão de Automóvel da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), de janeiro a junho, o volume acumulado de prêmios soma cerca de R$ 17,5 bilhões, uma expansão nominal de 6,8% em relação ao mesmo período de 2020. E as expectativas para os próximos anos são ainda mais otimistas: espera-se que as mudanças anunciadas pela Susep contribuam para levar inovação e competitividade ao mercado, permitindo ampliar a base de segurados a partir de produtos ajustados às necessidades do consumidor.

 

Seguro liga e desliga

Desde 2019, é permitido pela Susep o seguro intermitente, em que o cliente pode “ligar e desligar” coberturas e assistências quando quiser, conforme suas necessidades. A personalização é uma tendência no mercado. Eduardo Menezes, superintendente executivo da Bradesco Auto/RE, diz que as seguradoras têm de se ajustar e oferecer as condições de seguro e serviços mais adequadas ao consumidor.

— O preço do seguro nessa modalidade de contratação pode ser mais competitivo para algumas situações de utilização ocasional de veículos, mas é importante ficar atento para períodos em que o seguro não esteja em vigor (ativado), e o veículo esteja sujeito a riscos ainda que parado — alerta.

Estimativas da Youse, que oferece essa modalidade de contrato, mostram que a economia pode chegar a aproximadamente 44%. Na prática, não é possível desativar de forma completa o seguro por causa da necessidade de vistoria. Porém, o cliente pode, por exemplo, interromper as assistências de guincho e chaveiro, assim como a cobertura para terceiros, a fim de manter uma apólice mínima.

 

— Apesar de estar exposto a risco muito baixo, ele continua existindo. Alguém pode bater no carro estacionado na garagem, por exemplo. Pode acontecer algum problema no portão e afetar o veículo. Então é interessante manter um pacote básico, que caiba no bolso — argumenta Federico Salazar, diretor de produtos na Youse.

Devido ao avanço da tecnologia, o CEO da gestora de canais de distribuição de seguros e produtos financeiros Wiz, Heverton Peixoto, acredita que isso pode mudar em poucos anos. Com mais ‘smartcars’ nas ruas — veículos com bluetooth, rastreadores e que se conectem a aparelhos celulares —, as seguradoras terão maior facilidade para precificar as apólices, e os clientes terão maior comodidade.

— Já pensou se as seguradoras pudessem saber quando o carro está em deslocamento ou não? Essa poderia ser uma solução para seguros ativados realmente para uso — projeta Peixoto: — Hoje, há custos altos com fraude e com aquisição do cliente, etapa que envolve desde explicar o produto até fazer a vistoria. Então, se a tecnologia puder resolver essas questões, veremos os preços caírem bastante.

 

Para todos os gostos e bolsos

Uma outra alternativa de cobertura que já está presente no mercado é o seguro por quilômetro rodado, em que o cliente paga de acordo com o uso do veículo. O valor final é calculado a partir de um valor fixo, estabelecido de acordo com o perfil do cliente, acrescido de cobrança variável de centavos pela distância percorrida.

Federico Salazar, diretor de produtos na Youse, diz que o produto pode ser até 30% mais barato do que um outro seguro convencional.

Após começar a trabalhar em home office na pandemia, o analista de sistemas Thiago Veloso, de 34 anos, migrou de um contrato convencional para um por quilometragem. Com isso, viu a despesa mensal cair de R$ 170 para R$ 110.

— Acho importante manter o seguro não só por risco de furto ou roubo, mas pelas assistências como reboque e mecânico para eventuais problemas — opina.

Para os que desejam mais conforto, existem conveniências que podem ser somadas ao pacote básico. Além das assistências 24 horas, são oferecidos serviços para a residência, como chaveiro, encanador e eletricista; consultas veterinárias para animais de estimação; e motorista amigo, para quando o segurado não pode conduzir o veículo por razões especificas.

As empresas ainda oferecem higienização interna do automóvel, em caso de alagamento no interior do veículo; ajuda de concierge, com serviços de agendamentos, reservas e orientações diversas; e oferta de carro reserva em caso de sinistro, ou seja, enquanto o automóvel é consertado — o segurado tem à disposição um veículo alugado.

Caro ou barato?

Segundo especialistas do setor, a possibilidade de contratação de um seguro vinculado ao condutor possibilitará, por exemplo, que um motorista com três carros na garagem faça apenas uma apólice com o valor médio ou o do mais alto. Também vai permitir que o consumidor pague mais barato ao retirar um automóvel da locadora, não tendo que arcar com o seguro embutido.

Apesar disso, o diretor de produtos na Youse Federico Salazar alerta que a modalidade, que ainda vai estrear no mercado nacional, pode ficar mais cara do que o seguro convencional.

Segundo ele, a cobertura não será irrestrita. O consumidor deverá escolher o valor do carro a ser coberto. No entanto, como existe uma enorme gama de marcas e modelos na mesma faixa de preço, a seguradora não terá certeza do risco que vai assumir, aumentando o custo do prêmio (valor pago mensalmente pelo segurado).

— Entra no cálculo o valor das peças do carro que possam precisar ser substituídas em caso de problemas ou acidentes. Sem essa previsibilidade, a seguradora deve aumentar o custo do seguro. Então, ainda deve ser mais vantajoso contratar o seguro específico — avalia.

Cuidado com seguros falsos

A partir da diversificação de produtos, é preciso ficar atento para não ser capturado por uma oferta atraente demais, que não oferece garantias reais para o veículo. A chamada proteção veicular, segundo a FenSeg, integra o mercado paralelo. Além de não reconhecer os direitos do consumidor, não paga tributos e tampouco sofre fiscalização.

Neste tipo de contrato, o próprio associado assume o risco, junto aos demais associados, ao assinar um contrato de responsabilidade mútua. Em caso de prejuízo, é feito um rateio entre todos. Por isso, o pagamento de indenização depende do caixa da entidade. Além da mensalidade fixa, há um valor variável, destinado a cobrir os sinistros se a reserva não for suficiente.

“O seguro é uma relação de consumo prevista no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990). Ao contratar uma cobertura, o segurado transfere para a seguradora o risco predeterminado na apólice. A empresa fica responsável pelo pagamento de indenização em caso de sinistro. Há uma forte preocupação de como os valores recebidos se dividem entre obrigações e direitos das seguradoras. Vale lembrar que o seguro é parte de um mercado regulado, sujeito à fiscalização da Susep”, diz a FenSeg.

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