Documento mostra que delegação argentina foi orientada a entrar com pedido para liberar jogadores

 

Partida entre Brasil e Argentina é suspensa Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS

  BRASÍLIA – Um documento da vigilância epidemiológica de São Paulo mostra que a delegação argentina foi orientada a enviar formalmente às autoridades um pedido de excepcionalidade para circulação dos jogadores no país. O pedido deveria ser analisado pelo Ministério da Saúde, com “decisão final” da Casa Civil. Em nota, no entanto, a Casa Civil nega que o pedido tenha sido feito.

O relatório feito pelo Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo mostra que em uma reunião no sábado a delegação argentina foi orientada a enviar formalmente um pedido de excepcionalidade para permanência dos jogadores no país “com máxima urgência”. Segundo o documento, revelado pelo Blog do Octavio Guedes e ao qual o GLOBO teve acesso, a medida deveria ser tomada com celeridade. Além de representantes da vigilância paulista, participaram da reunião o ministro da Saúde em exercício, Sérgio Okane, representantes da Anvisa, da Conmebol, da CBF e da delegação da Argentina.

“Assim, a CONMEBOL e a delegação da Argentina foram orientadas a seguir as recomendações da Portaria 655, para formalizar o pedido de excepcionalidade com a máxima urgência, para que a análise da documentação fosse viável antes da realização do jogo”, diz o documento.

O documento cita ainda que a delegação argentina foi informada sobre a necessidade do trâmite para os jogadores também pudessem participar do treino.

“Na referida reunião foi reforçada a recomendação de que os jogadores não poderiam comparecer ao treino previsto para hoje, até que fosse solicitado formalmente o pedido de excepcionalidade de circulação no país, e que o mesmo pudesse ser analisado pelo Ministério da Saúde e houvesse um posicionamento final da Casa Civil”, diz o texto.

A secretaria de São Paulo descreve ainda no relatório que representantes da Anvisa alertaram que com descumprimento das normas a Polícia Federal seria comunicada. No documento, as autoridades sanitárias locais descrevem ainda que não conseguiram verificar o passaporte dos quatro jogadores argentinos.

“Ao termino da reunião, a equipe da vigilância em saúde estadual solicitou ao representante da seleção argentina que os quatro atletas se apresentassem portando os referidos passaportes para que o relatório da investigação pudesse ser efetivado com evidencias, fato que não foi possível, pois diante do ocorrido fomos informados que houve o descumprimento pela seleção argentina da recomendação da autoridade sanitária de permanência no hotel até que se dessem os devidos encaminhamentos”, diz o documento.

A Casa Civil informou na tarde desta segunda-feira que não recebeu nenhum pedido de excepcionalidade anterior ao voo de chegada ao Brasil dos jogadores argentinos que atuam no Reino Unido. Segundo a pasta, comandada pelo ministro Ciro Nogueira, a ausência de solicitação impediu a atuação do governo.

“No caso dos jogadores argentinos, cabe esclarecer que não houve qualquer solicitação de excepcionalidade anterior ao voo de entrada dos jogadores no Brasil, impossibilitando qualquer tipo de atuação da Casa Civil”, informou a nota divulgada pela pasta.

Questionada pelo jornal O GLOBO se houve um pedido quando os atletas argentinos já estavam no país, a Casa Civil informou que a atuação da pasta seria apenas antes da chegada dos jogadores. Com eles já em solo brasileiro, todo o trâmite passou a ser de responsabilidade do Ministério da Saúde e da Anivsa. A Casa Civil acrescentou ainda que em nenhum momento recebeu e-mails nem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nem da Confederação Sul-Americana de Futebol

“Após a entrada irregular dos jogadores argentinos no Brasil, coube à Anvisa cumprir a norma estabelecida na Portaria 655, decisão que foi chancelada pelo Ministério da Saúde, que notificou a Conmebol sobre a impossibilidade de atuação dos jogadores na partida. Cabe esclarecer também que não compete à Casa Civil autorizar a entrada em campo de jogadores que já estejam no país e que não tenham cumprido as regras sanitárias brasileiras.”, diz a nota.

No comunicado, a Casa Civil diz que seu papel é de coordenação da atuação da Anvisa, Ministério da Saúde e outros órgãos na análise de pedidos de excepcionalidade para a entrada de pessoas vindas do Reino Unido sem a quarentena exigida de 14 dias. “Após a análise, que é técnica, a Casa Civil comunica a decisão dos órgãos”, informou a pasta.

“Exemplo desse tipo de atuação da Casa Civil é a coordenação da autorização excepcional de entrada no país concedida em maio e junho deste ano, a jogadores brasileiros oriundos do futebol inglês, na preparação para as eliminatórias da Copa do Mundo. Neste caso, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) enviou pedido de excepcionalidade antes da entrada dos jogadores no país e se comprometeu a isolá-los na concentração da seleção, a reportar qualquer sintoma de Covid19 e a enviar todas as informações dos jogadores para controle do Ministério da Saúde.”

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