Governo eleva projeção da inflação, e pressão sobre Orçamento cresce

As estimativas de inflação e PIB foram divulgadas nesta quarta-feira no Boletim Macrofiscal Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

 

O Ministério da Economia elevou a projeção da inflação para este ano. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que embasa o reajuste do salário mínimo, deverá fechar 2021 em 8,4%. Essa alta vai pressionar ainda mais o Orçamento de 2022, já que o governo considerou a inflação em 6,2%.

Esse novo aumento tende a pressionar ainda mais os gastos públicos, já que o salário mínimo, as aposentadorias e as pensões são corrigidas por esse indexador.

A expectativa é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche em 7,9% — em julho, a previsão era de 5,9%, que já estourava o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O IPCA mede a inflação oficial do país. A meta em 2021 é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, o teto é de 5,25% e o piso é 2,25%.

 

O governo manteve a previsão do PIB, de avanço de 5,3% para o ano. Para 2022, a projeção é de crescimento de 2,5%. No entanto, vários bancos e consultorias já trabalham com variação inferior a 1% no ano que vem.

As estimativas foram divulgadas nesta quinta-feira no Boletim Macrofiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia.

“O valor projetado (da inflação) encontra-se acima da meta de inflação de 3,75% para o ano de 2021, bem como acima do limite superior do intervalo de tolerância”, reconheceu a pasta no boletim.

Folga do Orçamento

O resultado do INPC é importante para definir a folga que o governo terá no Orçamento de 2022, que é afetado pelos dois indicadores. O IPCA é o indicador que reajusta o teto de gastos, e o valor usado é o acumulado em 12 meses fechados em junho, que ficou em 8,13%. Já o INPC corrige as despesas e o indicador usado é o do fechamento em dezembro. Com projeção de 8,4%, a pressão sobre o orçamento aumenta.

Questionado sobre o impacto da correção do INPC sobre salário mínimo e outros gastos públicos, o secretário Adolfo Sachsida, da SPE, afirmou que isso não vai descontrolar os gastos do governo:

— No ano que vem, vamos gastar exatamente o que gastamos esse ano, corrigido pelo IPCA, que reajusta o teto de gastos — declarou, complementando que se houver aumento de despesas obrigatórias, o governo fará cortes nas discricionárias, aquelas de livre escolha ou investimentos.

Pressão de energia e alimentos

Além de elevar a projeção da inflação para 2021, a SPE reajustou as previsões para os próximos anos. Para 2022, a projeção de IPCA passou de 3,5% para 3,75%. Já a partir de 2023, a projeção da pasta converge para a meta da inflação, com 3,25% em 2023 e 3% a partir de 2024.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que embasa o reajustes do salário mínimo, deverá fechar 2021 em 8,4%, ante 6,2% previstos em julho. Ele difere do IPCA porque tem como população alvo famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos. No caso do IPCA, são famílias de até 40 salários mínimos.

A pasta destaca alguns grupos que pressionam a aceleração da inflação. A principal pressão vem do grupo de preços monitorados, que registra alta de 13,69% nos 12 meses fechados em agosto, pelo IPCA.

“Esse aumento é decorrente de elevações significativas nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, diante dos reajustes no preço do gás e das alterações nas bandeiras tarifárias, respectivamente”, explica.

Outro exemplo é a alimentação em domicílio. “Após desaceleração entre março e junho, apresentou relativa estabilidade nos meses subsequentes, chegando a 16,59% em agosto”, observa.

Já o grupo de transportes, no qual estão os combustíveis, vem apresentando elevação contínua desde o início do ano. A inflação de serviços acumula 3,92%, contribuindo para elevação do índice, mas com valores mais baixos que os demais grupos.

Crise hídrica e pandemia são riscos

A pasta atribuiu o desempenho da atividade econômica brasileira no primeiro semestre de 2021 à retomada do setor de serviços.

“O avanço da vacinação em massa e a flexibilização das restrições à mobilidade têm contribuído para o crescimento do setor. Com a continuidade do processo de vacinação, espera-se a manutenção da tendência do setor com impactos positivos no mercado de trabalho, principalmente o informal”.

Para 2022, a pasta diz que o cenário positivo se justifica pela continuidade da expansão do setor privado, efeitos positivos das reformas pró-mercado e do processo de consolidação fiscal, que precisa ser aprofundada.

No entanto, a secretaria vê a crise hídrica e um eventual crescimento dos casos de Covid-19 como riscos ao desempenho da economia:

“Contudo, salienta-se que os riscos no cenário prospectivo, principalmente o hidrológico e um possível recrudescimento da pandemia, devem ser observados com cautela, avaliando os seus impactos para a economia brasileira”, diz o boletim.

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