Outubro Rosa

Um dos grandes desafios da saúde pública é o câncer. De acordo com especialistas, a doença é multifatorial e sua incidência está relacionada não somente aos fatores de risco, mas à qualidade dos serviços de saúde, às campanhas de prevenção, e ao envelhecimento da população. Entre as mulheres o câncer de mama é um dos tipos que mais assusta e o mês de outubro foi escolhido para alertar sobre a importância dos exames preventivos. No Brasil, são registrados 50 mil casos novos todos os anos.

Intitulado “Outubro Rosa” a campanha contra o câncer de mama tem a ideia de informar e conscientizar sobre a doença e proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento para a redução da mortalidade. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) revelam que, no país, este ano deve contabilizar quase 600 mil novos casos da doença. Metade deles, em mulheres. Uma em cada cinco pacientes com câncer terá de lidar com o diagnóstico de câncer de mama – que, depois do câncer de pele não-melanoma, é o mais comum, seguido de cólon e reto, colo do útero, pulmão e estômago.

Depois dos 40 anos de idade, a doença aumenta progressivamente entre as mulheres. Estudos norte-americanos indicam que a incidência mundial do câncer vem aumentando e que 12,4% das mulheres terão câncer de mama em alguma fase da vida. Embora 87,6% não tenham de lidar com a doença, a realização anual da mamografia continua sendo o método mais importante de prevenção em pacientes.

Para alertar as mulheres e descontruir os mitos associados ao câncer de mama, o Ministério da Saúde e o INCA lançaram um hotsite (www.inca.gov.br/outubro-rosa) específico da campanha.

A campanha “Câncer de mama: vamos falar sobre isso?” tem como um dos objetivos enfatizar a importância de a mulher ficar atenta a alterações suspeitas nas mamas. Os principais sinais e sintomas do câncer de mama são: caroço (nódulo) fixo, endurecido e, geralmente, indolor; pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja; alterações no bico do peito (mamilo); pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço ou saída espontânea de líquido dos mamilos.
Um levantamento inédito do INCA com pacientes do Instituto revelou que as próprias mulheres identificam, na maior parte dos casos, sinais e sintomas do câncer de mama, incluindo doença em estágio inicial e intermediário, quando as chances de sobrevida são maiores. Os dados da pesquisa foram divulgados na última quinta-feira (6), durante o lançamento da campanha nacional, na sede do INCA, no Rio de Janeiro.
A doença foi percebida pela primeira vez,em 66,2% dos casos, pelas próprias pacientes ao notarem alguma alteração na mama. O percentual de mulheres que identificou a doença por meio da mamografia ou de outro exame de imagem foi de 30,1%, enquanto em apenas 3,7% dos casos a suspeita inicial foi de um profissional de saúde. Ou seja, em dois terços do total, a própria mulher percebeu alterações na mama como possível sinal de um câncer de mama.
O estudo foi conduzido pela equipe do Núcleo de Pesquisa Epidemiológica da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA com mulheres que procuraram pela primeira vez atendimento devido a um câncer de mama, entre junho de 2013 e outubro de 2014. Foram ouvidas 405 moradoras do Rio de Janeiro. “É importante que as mulheres notem as mensagens enviadas pelo próprio corpo para que a doença seja descoberta no início”, disse a chefe da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA, a médica epidemiologista Liz Almeida.
Essa percepção é reforçada por outra pesquisa que investigou a sobrevida das pacientes de câncer de mama do Instituto considerando o estádio (etapa de desenvolvimento) da doença no momento do diagnóstico. Essa segunda pesquisa foi realizada com a base de dados do Registro Hospitalar de Câncer do HC III, unidade do INCA especializada no tratamento do câncer de mama.
Foram considerados os casos de 12.847 pacientes matriculadas de 2000 a 2009 e residentes na cidade do Rio de Janeiro. Os pesquisadores mensuraram os percentuais de pacientes que permaneceram vivas (sobrevida) até cinco anos após o diagnóstico. A sobrevida em cinco anos, de acordo com o estádio da doença no início do tratamento foi de: 88,3% (estádio I), 78,5% (estádio II), 43% (estádio III) e 7,9% (estádio IV).
Liz Almeida acentuou a importância não apenas do diagnóstico, mas também da prevenção. “São cerca de 58 mil casos de câncer de mama por ano”, disse ela. “Apenas com a manutenção do peso corporal adequado seria possível reduzir esse número em 10%”. Ela comparou o enfretamento do câncer de mama a uma corrida de revezamento: a mulher recebe as mensagens do corpo, corre para o médico, tem serviço de apoio diagnóstico e depois segue para o centro de tratamento. “O tempo é precioso”, frisou.

 

por Ana Paula Moresche

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