Dias de Hoje – 07/03

Dia internacional do Goleiro Bruno

O desmonte das políticas públicas dos direitos das mulheres que, a velocidade da luz, nos coloca em um túnel do tempo nos remetendo a praticamente ao dia 8 de março de 1857, quando operárias foram brutalmente reprimidas por entrarem em greve por melhores condições de trabalho, igualdades de direitos trabalhistas em uma indústria têxtil de Nova Iorque. Ou 08 de março de 1908, quando trabalhadoras do comércio de agulhas fizeram uma manifestação para lembrar 1857 e exigir o voto feminino e fim do trabalho infantil.
Ainda é necessário campanhas contra as cantadas inconvenientes, beijos forçados ou passadas ousadas de mão. Mas de “burca ou de shortinho” – como vi escrito em uma parede de um shopping da Baixada – ninguém tem o direito de violar a autonomia sobre o próprio corpo. Debate que envolve tanta energia e justamente por isso a religião, a moral, e até o Direito, se ocuparam em impor regras para regular a livre disposição dos corpos durante tanto tempo. As risadas do auditório quando o Alexandre Frota deu a entender que estuprou uma mãe-de-santo, representa a aceitação desta violência.
Além dos padrões morais, ainda temos os econômicos para a aceitação da condução pessoal da mulher. A filha da classe media tem “produção independente”, a das classes mais pobres é “mãe solteira, pois não quis se preservar para o casamento”.
Quando o direito a uma vida sem violência, os preconceitos e a desvalorização da mulher ainda estamos nas cavernas. A postura da sociedade que exercita toda complacência e capacidade de perdoar o goleiro Bruno pelo assassinato de uma mulher que fez filme pornô é somente a exposição que aceitamos a coisificação da mulher, logo a sua vida de valor inferior. A construção da masculinidade ainda é a construção da violência e vice-versa. Como se explica que 95% dos crimes letais do mundo são executados por homens? As mulheres também cometem crimes, mas 95%! Esta questão é grave e crucial para desmontar mais este espiral de violências. Não tem como nós tratarmos a violência sem tratarmos a desestruturação da masculinidade como agressividade.
Muito foi conquistado, mas muito ainda há para ser modificado nesta história. Mesmo com todos os avanços, a maioria das mulheres ainda sofre, em muitos locais, com salários baixos, violência masculina, jornada excessiva de trabalho e desvantagens na carreira profissional. Chega a ser até redundante e clichê estas afirmações. Mas o momento atual é um escárnio e desrespeito à luta de centenas de anos, e nas ultimas décadas, avanços conquistados não pelos sutiãs queimados, mas por aquelas – e aqueles – que nos movimentos sociais, no poder publico e nos parlamentos tiveram avanços importantes para toda a sociedade.
Então, independente das mulheres belas, recatadas e do lar, voltemos à realização de conferências, debates e reuniões cujo objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com toda forma de desigualdade.

 

– Adriano Dias
Fundador da ONG ComCausa – Cultura de Direitos, ex subsecretário municipal de Prevenção da Violência de Nova Iguaçu.

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