Dias de Hoje, por Adriano Dias – 21/03

Afeto para enfrentar a violência

Quando analisamos com olhar cuidadoso o histórico de jovens envolvidos em dinâmicas de violência, encontramos a repetição de um quadro típico de desestruturação familiar, que desemboca em situações de violações físicas ou simbólicas. Geram traumas excepcionalmente tão marcantes, degradam a autoestima de maneira tão profunda, que em todas as pesquisas feitas sobre o tema, demonstram que crianças testemunhas ou vítima de violência, torna-se propensas a se envolver em práticas violentas no futuro, já na adolescência ou após.
Já na unidade familiar, temos um caso que sintetiza que o problema da violência dos jovens vai para muito além da política de segurança. Envolve diversas dimensões relevantes, desde a economia até a cultura, passando principalmente por programas de assistência social. Isso significa que as iniciativas capazes de reverter o quando do jovem como perpetrador ou vítima da violência, devem ser também multidimensionais ou intersetoriais, e nos municípios esta experiência é mais viável.
Uma política de segurança tem de ser também uma política social muito mais ampla, na redução da desigualdade para ser realmente eficiente. O grande problema não está nem na formulação de uma política intersetorial, mas na implementação de uma política dessa forma. Mesmo nas cidades, onde esta pratica seriam mais viáveis, e trariam resultados mais eficientes, as gestões municipais não estão organizadas para implantação de políticas públicas transversais, intersetoriais e articuladas para a redução das violências. Assim, não há uma política de segurança em sentido específico voltada para uma área exclusiva de um fenômeno tão complexo.
Para os jovens da Baixada, em uma situação diferenciada da Capital, o tráfico ainda não se constituiu quanto “política de trabalho” – predomina o ócio que conduz a outras situações de risco. A falta de políticas de acesso à renda e ao emprego, à educação, ao esporte e cultura, a falta de visibilidade positiva e estima são mais perigosos que a sedução da visibilidade pelo consumo, que muitas vezes levam a visibilidade pela violência.
Entretanto, acredito que acolhimento e humanização das políticas públicas jogam um papel fundamental, mesmo correndo o risco de ser interpretado como ingênuo. Então como é que você oferece a este jovem que está em uma crise de falta de amor, sentindo-se rejeitado pelos seus semelhantes? O que se pode oferecer a ele é seu alimento fundamental, o amor para que lutem pelos outros todos. É muito difícil, pois só a família e as relações muito pessoais podem proporcionar isso. Mas iniciativas de valorização da vida é o abraço afetuoso que o poder público local – mais até que as grandes políticas nacionais – podem proporcionar a seus adolescentes e jovens. Então, a proposta é chegar ao fundo desta sociedade perdida no ócio, neste vazio, com a oportunidade da criação, da valorização, isto não é tão difícil. Não custa tão caro. Não exige ourivesarias, exige delicadeza. Mas dará resultado a médio e longo prazo.

– Adriano Dias Fundador da ONG ComCausa – Cultura de Direitos, ex subsecretário municipal de Prevenção da Violência de Nova Iguaçu.

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