Jovem Fica Vivo
Mais da metade dos homicídios do país nos últimos anos tem como vítimas jovens entre 14 e 29 anos de idade. Os dados são alarmantes! Se somados os assassinatos com os acidentes de trânsito, representam a principal causa de óbitos entre 15 e 24 anos de idade.
Os altos índices de violência letal do Brasil tomam contornos de genocídio em determinados setores da sociedade. Na média de 40 homicídios por 100 mil, quando se separa dados estatísticos somente homens, negros e jovens, os números aumentam em proporções geométricas.
Indiscutivelmente os jovens são as principais vítimas, mas também um dos principais perpetradores da violência letal. Que em geral é fruto de uma cultura de desrespeitos, que vem das violações mais corriqueiras, mas que levam a círculos viciosos de violência e, muitas vezes, se transformam em tragédias.
Em abril de 2013, Wellington Braz, de 17 anos, foi espancado por outros jovens durante o Viradão Carioca, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A motivação seria que os moradores do bairro de Wellington, seriam inimigos do bairro vizinho, de onde vieram os agressores. Brigas entre bairros sempre aconteceram na Baixada, mas a motivação de matar o “alemão” – inimigo de guerra denominado pelos narcotraficantes – é uma dinâmica relativamente nova nestes bairros que não tem um movimento de tráfico consolidado, ao contrário de outros de Nova Iguaçu que esta “lei de território” é claramente instituída. Este episódio, entre outros, provocou a criação da campanha Jovem Fica Vivo em 2014, feito pela ComCausa e o Feira Moderna Zine, que tem como finalidade promover uma cultura de paz entre os jovens, tendo como foco principal a promoção de suas virtudes.
Entretanto, os poderes públicos, principalmente nas cidades, devem ser protagonistas nas políticas de desconstrução das violências, desde a infância até a juventude. Os elementos negativos são facilmente diagnosticáveis, como a falta de estrutura familiar, banalização das drogas (principalmente álcool), acesso às armas de fogo, falta de políticas de primeiro emprego, falta de programas de promoção das virtudes culturais e esportivas da juventude; ineficiência das políticas sociais; estruturação inadequada dos conselhos tutelares e dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS); falta de mecanismos de mediação de conflitos, histórico de descontinuidade de políticas públicas, entre outros.
As soluções também não são inéditas e já foram aplicadas em experiências exitosas por todo o país, além das obvias respostas aos problemas expostos. A proposta é estruturar um Conselho da Juventude de forma Interdisciplinar, sendo estes ouvidos com prioridade e com condições de propor e deliberar políticas, articular e mobilizar a juventude das comunidades para pensar políticas e ações; formação de conselho voltado à prevenção da violência, principalmente de homicídios, atuando em paralelo ao GGIM (Gabinete de Gestão Integrada de Segurança Municipal); criar uma central de informações para encaminhamentos da discussão da prevenção de homicídios dos jovens no GGIM; fomentar a realização de pesquisas junto aos jovens sobre as temáticas como trabalho, educação, cultura, esporte e redução da violência; criar centros da juventude nos equipamentos públicos e parceiros privados. Além de promoção de programas como Escola sem Bullying e prevenção da violência entre jovens; polícia e juventude; cidade, espaços públicos e prevenção da violência entre jovens; cultura de paz; novas perspectivas para comunidades, como o “Bairro Tô na Paz”, entre outras propostas feitas a partir das articulações entre os conselhos municipais.
Podemos salvar muitas vidas, em médio e longo prazo. Não somente da morte através da violência, mas o simbolismo que mata perspectivas e produzem cidadãos complacentes com a violação dos seus direitos. Mas temos que começar agora, caso contrário, estaremos condenando esta e outras futuras gerações.
– Adriano Dias é fundador da ONG ComCausa e ex-subsecretário municipal de Prevenção da Violência de Nova Iguaçu.
