DIAS DE HOJE, por Adriano Dias – 06/06

Podemos evitar a tsunami da violência

A região da Baixada Fluminense, sobretudo, nas duas últimas décadas, experimentou relativo desenvolvimento, tanto no que diz respeito à auto-sustentação econômica e à infra-estrutura – mesmo que, havendo predominância nos centros urbanos. Por outro lado, observa-se ainda um déficit de direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais que deprimem sua população. Disto emerge uma cultura de “zona de exclusão” que parece legitimar a falta de políticas públicas adequadas para seus habitantes.
Para os jovens da Baixada, em uma situação diferenciada da Capital, o tráfico ainda não se constituiu enquanto ‘política de trabalho’ na maioria dos territórios que hoje estão sobre controle criminoso. Predomina assim, um tipo de “ócio” que conduz a outras situações de risco. A falta de programas de incentivos e aparelhos públicos de esporte, educação e cultura, ou estruturas de desenvolvimento econômico – em determinadas regiões – levam a população, principalmente a mais jovem, a um quadro de inação e desesperança, que reduz a estima, os horizontes e perspectivas. À isto, soma-se um movimento que insiste em atribuir à pobreza, e não às desigualdades estruturais, o principal estopim para a violência. A desigualdade social experimentada por estes jovens é refletida em âmbito nacional. A baixa estima destes moradores acaba influenciando em vários aspectos de suas vidas, do social ao político, e do filosófico ao artístico.
O quadro é ainda mais agravado quando se observa a invisibilidade da Baixada Fluminense na imprensa, a despeito do fato de que quase a metade das notícias veiculadas por todos os jornais tem como foco o Estado do Rio de Janeiro. Pouco referem-se à Baixada para além da estigmatização da violência e da falta de políticas públicas, consolidando estes como grandes destaques nos noticiários sobre a região na grande mídia.
Apesar disso, deve-se destacar que existe na região uma conjuntura social, geográfica, logísticas e ambientais muito favoráveis. Esta conjuntura, se devidamente potencializada com investimentos estruturais e políticas públicas de qualidade, pode se tornar o ponto de partida para a reação social e econômica do Rio de Janeiro frente à violência.
Caldo de cultura para mudar o quadro de exclusão na região existe: historicamente a Baixada sempre foi o celeiro de um infinito número de movimentos sociais que sempre lutaram para consolidar seus direitos. E, existe uma efervescência de ações na região, novas e autênticas formas de organização, muitas feitas por iniciativa dos próprios jovens.
Acompanhando há mais de trinta anos – e há dez anos com a ComCausa – toda esta conjuntura. Continuamos acreditando que existe a possibilidade de que ‘o resgate do Rio passe pela Baixada’, mas que principalmente ‘o resgate do Rio passe pela juventude da Baixada’.
A meta de todos deve ser construir agora e tentar consolidar um na Baixada Fluminense a cultura da paz, a cultura de direitos. Neste entendimento que temos tentado contribuir, mas sem políticas sérias de prevenção das violências assumidas, principalmente pelos novos gestores públicos, o efeito maré, dos indicadores de violência que baixaram e voltaram a subir tendo hoje patamares iguais ou superiores de 2007. Pode se tornar um tsunami que provocará estragos que demorarão anos para serem reconstruídos, com gerações inteiras perdidas. Sabemos dos desafios, mas diz a música “Tenho que gritar, tenho que arriscar / Ai de mim se não o faço!”. Assim permaneçamos insistentes no caminho.

error: Conteúdo protegido !!