Dias de Hoje, por Adriano Dias – 13/06

A Cultura do extermínio na Baixada – Parte I

Falar sobre a violência de grupos organizados de extermínio na Baixada somente pelo olhar policial, da punição judicial, é focar na conseqüência e não na causa. Não discutir a história que levou até as atuais circunstâncias, e os fatores sociais e políticos que parecem legitimar a violência, é diminuir o debate e provavelmente não vai levar a uma solução – entre tantas outras possíveis. Assim vamos fazer aqui um apanhado do fio condutor da situação que vivenciamos até hoje.
Partindo da década de 40, quando começou a ocupação em larga escala da Baixada, após o declínio da agricultura os fazendeiros fatiaram suas terras em milhares de lotes para serem vendidos aos mais pobres que estavam sofrendo a remoção forçada da Capital, ou migravam de outros estados para trabalhar no Rio.  Esta mudança de área rural para urbana, entre os anos 50 e 60, provocaram vários conflitos entre os fazendeiros e posseiros. Estes últimos, sendo atacados e muitas vezes assassinados por jagunços e pela policia começaram a se organizar para garantir sua terra.
Ao longo dos anos o loteamento das terras fizeram com que os municípios inchassem, alguns triplicaram sua população em uma década, sem a mínima infra-estrutura para receber tanta gente. A falta de fiscalização e a corrupção propiciavam que fossem loteados manguezais, charques e alagadiços. O que no decorrer dos anos causaram várias epidemias de cólera e malária, entre outras.
Diante deste quadro a política clientelista, populista e violenta tinha um campo fértil. Garantia-se através do controle de “currais eleitorais” a continuidade dos “Barões”, agora na figura de políticos como Getúlio de Moura, de Nova Iguaçu, e Tenório Cavalcanti, o “homem da capa preta”, em Duque de Caxias.
No início da década de 60, a tensão social na Baixada aumentava em consonância com a instabilidade política do país no período. A sociedade estava se organizando em sindicatos, movimentos rurais, e promovendo atos como o saque a duas mil lojas no dia 5 de julho de 1962, em Caxias – que provocou a morte de 42 pessoas e deixou 700 feridos.
Este clima acendeu a dúvida de empresários e políticos da região se o esquema de controle da grande população mais pobre era eficiente. Fazia-se necessário criar mecanismos mais duros.
Assim, os empresários começaram a estruturar milícias particulares e, logo depois, com o golpe militar de 1964, facilitou-se o uso do extermínio como instrumento de opressão política – era a matança para impor o controle através do terror. No qual temos reflexo até hoje.
Continua na próxima edição.

– Adriano Dias é fundador da ComCausa

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