DIAS DE HOJE, por Adriano Dias – 27/06

A Cultura do extermínio na Baixada – Parte III

Após três décadas de corridas armamentistas, de 1980 até hoje, a chamada “guerra às drogas” se tornou um lucrativo negócio de traficante das quadrilhas organizadas nas comunidades do estado do Rio e, dentro do poder público. Com destaque para o varejo do dia a dia do “arrego”. No final da década de 1980, a associação direta entre policiais, traficantes e donos do jogo do bicho, quando discordada, tendo como retaliação sequestros por partes dos agentes do Estado, em troca do renegocio na participação dos lucros, foi gradualmente substituída pela cultura do arrego. Me paga que deixo vocês trabalharem, traficar, roubar carga bancos, desmanchar carros, entre outros.
Pouco antes durante a ‘Rio 92’, os tanques das forças armadas foram posicionadors virados para as favelas do Rio, este, entre outros fatores, incentivou ainda mais o negócio das armas de alto poder de letalidade. Fuzis, metralhadoras militares capazes de derrubar helicópteros, granadas e um infindável número de armas de mão que – em vários casos – vieram do mercado legal e compradas por ‘cidadãos de bem’.
Começam as chacinas emblemáticas, Acari, Vigário Geral, Candelária, entre outras, marcaram páginas de sangue, tendo como vítimas principalmente pobres, matáveis pelo território, idade e cor da pela.
Em novembro de 1995, o secretário de segurança no governo do Rio de Janeiro no período Marcello Alencar, general Nilton Cerqueira, instituiu a famigerada gratificação faroeste, como mérito de policiais que mais matassem. Um explícito incentivo ao extermínio. Tal insanidade somente foi suspensa em 1998. Cerca de seis mil servidores deixaram de receber o benefício, em torno de 4.500 PMs e 1.500 policiais civis, que aumentava os rendimentos de alguns em até R$ 5 mil à época. Os policiais que recebiam o benefício tiveram os valores incorporados a seus salários por direito adquirido. Uma lei de 1998 suspendeu esse benefício para outros policiais que passariam a recebê-lo a partir daquele ano.
A década de 2000 começa com a trágica patetice do sequestro do ônibus 174, no dia 12 de junho. Expos uma polícia que só era eficiente nas composições de negócio com o crime, sem a prioridade da defesa da vida.
Após uma tentativa de se criar políticas de segurança chamadas de “nova polícia” em 1999, com Delegacias Legais que atrapalhariam a negociação do poder de rasgar os Registros de Ocorrência em troca de dinheiro. Além da criação do Instituto de Segurança Pública a fim de alicerçar com dados a melhor atuação policial, entre outros. O autor destas propostas, Luiz Eduardo Soares, teve sua exoneração pública por afirmar que exitia uma “banda podre” entre os agentes de segurança, a partir daí, a polícia do Rio ficou sobre a total liberdade de negociar a liberação da prática criminosa dos territórios que os covinham. Chegando a um nível de promiscuidade em que o dinheiro do crime passava de mão em mão até chegar à mesa de quem governava o Estado.
Sem controle do Estado, policiais moradores de regiões pobres passara a adotar a “autodefesa comunitária”, como disse o prefeito Cesar Maia. Ou seja, se organizaram em máfias que depois de expulsar os traficantes, passavam a controlar os serviços básicos das comunidades. Gatonet, transporte, venda de gás e cobrança de segurança – entre outros – que rendem milhões de reais e votos, elegendo seus vereadores e deputados. Sempre aliados de quem estava na titularidade dos governos executivos.
Com negócios muito bem acertados – afinal, quando havia discordância, acabava em morte para um dos sócios -, as milícias ampliaram para segurança privada legal e grilagem de terras. Com as garras bem fincadas dentro pó poder público, as milícias passam a expandir seus negócios para novos territórios com a Baixada Fluminense.

Adriano Dias é fundador da ComCausa.

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