Segurança em Foco, por Vinicius Dominguess Cavalcante – 15/07

Segurança na Escola (1ª parte)

 

Logo depois do incidente do atirador na escola pública de Realengo a questão da segurança nas escolas entrou na Ordem do Dia; contudo não houve solução para a questão da vulnerabilidade das escolas frente às ações criminosas ou mesmo do dano colateral ocasionado nas mesmas pelo embate entre bandidos e as forças de segurança. Hoje, há uma série de aspectos que merecem nossa atenção já que o sistema educacional acaba sofrendo os efeitos colaterais de questões sociais graves que deveriam passar ao largo da discussão educacional. Nós brasileiros já teríamos problemas demais se considerássemos apenas a flagrante degradação da qualidade do nosso ensino como um todo.
Como um microcosmo da sociedade a escola vem sofrendo dos mesmos males que aquela padece. O consumo de drogas é o fator multiplicador da insegurança na sociedade, na escola e na família, levando à ruína das relações entre os alunos, afastando os usuários de seu grupo original ou criando condutas marginais que incluem crimes como furto, ameaça e até mesmo tráfico.
Aqui talvez caiba desfazer um mito: o baleiro traficante que inicia as crianças no uso de entorpecentes. O vendedor de doces próximo à escola pode, eventualmente, ser um ponto de venda de drogas, mas ele dificilmente terá condições de convencer um jovem a experimentar algo que não conheça. Quem induz o jovem a experimentar pela primeira vez maconha ou cocaína é na maioria esmagadora das vezes um amigo próximo. São eles que privam da intimidade e da confiança para escolher o momento oportuno, num quase ritual de iniciação a um grupo que o jovem deseja se inserir.
A proteção aos alunos deve se dar em diversos níveis. Existe o perigo não somente no entorno, mas também dentro da escola e para este vem sendo debatido o uso de sistemas internos de TV nas escolas e Universidades. Mas paradoxalmente no caso das pré-escolas e escolas de ensino fundamental e médio, o foco está sobre o grau de vigilância que se deseja exercer sobre os alunos e não sobre o quanto de proteção eles necessitam.
Frequentemente os pais afirmam que a possibilidade de acompanhar as atividades de seus filhos na escola via internet – e aí quanto menor a criança, maior o desejo desse acompanhamento – os deixariam muito mais tranquilos, mas praticamente nenhum se preocupa com a ausência de monitoramento da escola como um alvo em si mesmo. Há estabelecimentos de pré-escola que anunciam a disponibilidade de imagens em tempo real dos alunos para seus pais, mas nenhum anuncia que é monitorado por uma empresa de segurança para eventos como incêndios ou assaltos.
Compreensivelmente, a hipótese de que nossos filhos estejam sujeitos a eventos dessa periculosidade é como que bloqueada pela nossa mente, mas afirmar que ela inexiste é, no mínimo, uma inverdade. O sequestro na porta da escola é um fantasma que assola muitas famílias. Entretanto a captura de um aluno de dentro da escola é erroneamente desconsiderado, quando na verdade não há nada que impeça que criminosos determinados, rendam alguns funcionários e invadam uma sala de aula para sequestrar uma criança. Da mesma forma, se a segurança física da escola não for ao menos razoável, um criminoso em fuga pode transpor-lhe os muros e no desespero de salvar-se, fazer um ou mais reféns,
As escolas, por questões mercadológicas compreensíveis, raramente ressaltam esses aspectos de sua própria estrutura e os pais, inseguros quanto à conduta pessoal de seus filhos, preocupam-se em limitar-lhes o espaço de intimidade (onde os mesmos podem permanecer sem monitoramento de adultos) ao invés de aumentar-lhes a segurança de fato.
A Segurança na Escola envolve uma enorme quantidade de questões… Quem, de nós, pais, já se preocupou em acompanhar seu filho à distância e saber o que ele normalmente faz quando vai para a escola, por onde passa, se segue direto da casa para a escola ou vice-versa? Quem já se preocupou em observar à distância, discretamente, os cuidados que a escola toma para a segurança das crianças na entrada ou na saída? Quem já se dispôs a acompanhar a van que conduz seus filhos à escola, a fim de verificar como dirige o seu condutor?
Nossos avós não permitiriam a seus filhos ficarem muito tempo fora de seu campo de visão e isso ainda tem razão de ser, mesmo nos dias de hoje! Se deixarmos nossas crianças sem nossa tutela, podemos ser surpreendidos por graves problemas! (continua)

VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, CPP, o autor, Consultor em Segurança, Diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança – ABSEG – no Rio de Janeiro e membro do Conselho Empresarial de Segurança Pública da Associação Comercial do Rio de Janeiro. E-mail: vdcsecurity@hotmail.com

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