DIAS DE HOJE, por Adriano Dias – 01/08

Voltem para as colinas

Tomaz Silva/ Agência Brasil

Indiscutível a necessidade do reforço e apoio para enfrentar a difícil conjuntura da Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, agravada por uma das crises financeiras mais graves de sua história, com o funcionalismo com salários atrasados ou parcelados. O impacto imediato se deu no desmonte das estruturas de segurança e no animo de seus agentes. Mesmo tendo um dos maiores orçamentos na história dos últimos 10 anos, é indiscutível a crise em que a Segurança Pública do Estado passa.
Com o rearranjo do negócio do crime, que se adaptou sua geopolítica, as quadrilhas ampliaram seus negócios no entorno dos novos territórios controlados. Os conflitos constantes que aumentaram o número de vítimas tanto das polícias – que já passaram de 100 -, quanto da população. Destaca-se o dramático número de vítimas de balas perdidas. Que inclusive vitimaram duas crianças ainda no ventre de suas mães na Baixada Fluminense. Tal situação fez o Estado acuado por conta de sua debilidade financeira a ter que tomar uma atitude e buscar ajuda Federal para enfrentar a situação.
Entretanto, apesar de necessário, estamos vendo a repetição da mesma novela que vivemos antes, se iniciando na Rio-92, quando os tanques foram colocados na entrada das favelas com os canhões voltados para as comunidades. Estratégias similares foram usadas em ocupações das forças armadas e territórios controlados pelo narcotráfico para projetos sociais, como o cimento social, no qual militares entregaram jovens para serem assassinados por uma facção rival, até o uso de soldados com uniformes da PM, no qual os policiais militares chamavam de “PMs do Paraguai”. Chegando ao período dos megaeventos, principalmente “patrulhando” nas áreas dos jogos. Após os jogos, se optou em manter parte deste contingente das forças armadas dentro das comunidades, fazendo o controle social.
Evidente que esta estratégia não foi capaz de reduzir a violência no estado, pois esta é estrutural, e somente forçou a ampliação dos territórios controlados pelo narcotráfico.
Antes da crise, o Governo do Estado do Rio de Janeiro atravessou um os melhores períodos financeiros de sua história, mas não houve qualquer melhora nos indicadores sociais. Assim, o garoto que tinha que tinha 9 anos em 2007, hoje tem 19 e foi cooptado pela cultura da violência.
A presença ostensiva da Força Nacional e da Forças Armadas nas ruas se tornou uma mera pirotecnia na qual, o atual Presidente da República, debaixo dos piores índices de rejeição, ilegítimo de sua atribuição, sobrevoa o Rio de Janeiro como Comandante-Chefe, afirmando que vai reduzir a violência colocando soldados preparados para guerra, além de blindados militares, nas ruas das áreas urbanas do Rio de Janeiro. Tão teatral que um dos principais jornais do Rio de Janeiro anunciou no último domingo, como manchete principal, que a segunda fase da operação seria “o ataque aos Paióis de Armas do tráfico”. Acho que estes “estrategistas” nunca leram “A Arte da Guerra” ou, nunca jogaram “War”, ao anunciar que a segunda etapa seria tomar a arma dos traficantes. Óbvio é que essas armas vão mudar de local, provavelmente para as regiões periféricas como a Baixada Fluminense. De ineficiente, se torna irresponsável e perigosa a estratégia que o Ministro da Justiça adotou para reduzir a violência. Confunde sensação da violência com redução.
Todos os envolvidos sabem que somente com mudanças estruturais e investimentos em áreas sociais, fortalecimento das áreas de educação cultura e esporte, se fará redução real da violência. Além de uma política séria de prevenção ao uso de drogas e redução de danos. Mas preferem o teatro…
Novamente seremos espectadores de um teatro de guerra de bonecos de chumbo, em que em breve, ficará evidente que foi simplesmente uma aspirina dada para um doente terminal de câncer. Triste que a Política é colocada em primeiro lugar para saciar a opinião pública, em vez dá prioridade da preservação da vida das pessoas.
No fim, a mensagem é “volte para o morro se não matamos todos”.

 

Adriano Dias é fundador da ComCausa

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