Rebelião no MP põe em risco a delação dos Batista

*Jorge Oliveira

Antes do que se esperava começou a rebelião dentro do Ministério Público. Esta semana as peças lá dentro se moveram discretamente, mas o descontentamento com o trabalho de Rodrigo Janot chegou à imprensa. O procurador Ivan Marx, do Ministério Público em Brasília, afirmou com todas as letras que o empresário Joesley Batista e executivos do Grupo J&F esconderam, em suas delações premiadas, crimes praticados contra o BNDES. Pronto, foi declarada guerra à imunidade judicial dos Batista. Marx pretende apresentar denúncia pelos crimes investigados e cobrar mais R$1 bilhão da empresa por prejuízos ao banco.
Mas antes que isso aconteça, o Ministério Público tem que puxar o freio de um novo adversário da Lava Jato, que tem falado muita bobagem desde que assumiu a presidência do BNDES. Trata-se de Paulo Rabello de Castro. Depois de dizer em uma palestra que o combate à corrupção é “fundamental, imprescindível e inadiável” no Brasil, ele provocou os procuradores da Lava Jato ao afirmar que da “caneta deles saem desemprego e fechamento de empresas”. Desculpe, senhor, mas essa é a mesma tese que a dupla Lula/Dilma tentou difundir no país para desqualificar as investigações e incentivar as centrais sindicais a ir às ruas fazer badernas a pretexto de lutar contra o desemprego.
O economista argumenta que não sobrou praticamente uma única grande empreiteira com cadastro (saudável) para fazer negócio dentro do banco. Rabello demonstra, com isso, incapacidade de administrar o órgão. Desconhece, portanto, que o dinheiro público que chegava aos empresários malandros saia pelo ralo para sustentar políticos corruptos e encher os bolsos, inclusive, dos que o colocaram lá dentro do banco. Por isso, evidentemente, os envolvidos na corrupção estão com o cadastro sujo. É apenas isso, senhor.
O senhor Rabello quando emite essas opiniões desastrosas mostra que está desconectado com a realidade e nem um pouco preocupado com o rombo dento da instituição que dirige. Esquece, esse senhor, que a sua função é devolver a credibilidade do banco para que ele volte aos seus objetivos com honestidade e transparência. Dessas bravatas, de economistas de pranchetas, o Brasil cansou.
Responsável pela Operação Bullish, Ivan Marx é o procurador que investiga as negociatas do BNDES com a família Batista. Ele já concluiu que as fraudes em empréstimos bilionários feitos ao conglomerado estão confirmadas nas apurações. “Onde eu digo que eles (os Batista) estão mentindo é no BNDES. A Bullish apontou problemas em mais de R$ 1 bilhão em contratos. Os executivos vão lá, fazem uma delação, conseguem imunidade e agora não querem responder à investigação”, constata ele. As apurações provam que houve fraudes nas transações de Batista com o banco. Portanto, soa estranho quando Rabello quer culpar os procuradores pelo desemprego e a falência das empresas envolvidas nos escândalos.
A mamata oficial entre as empresas da família Batista pode ser contabilizada em números. Entre os anos de 2005 e 2014, quando o país esteve nas mãos do PT, o BNDES emprestou R$ 10,63 bilhões ao grupo J&F para que os rapazes de Goiânia, até então donos de açougues, comprassem outras empresas, transformando o grupo em líder mundial no mercado de proteína animal. Na época, Lula e Dilma espalharam a notícia de que o Brasil estava então criando suas multinacionais e abandonávamos, assim, para sempre, o nosso “complexo de vira-lata”. Ou seja: saia dos cofres dos nossos vira-latas os bilhões para gerar emprego e renda lá fora.
Depois dos escândalos, a pergunta é: e onde estão os nossos vira-latas? Ora, os nossos vira-latas continuam sem o pedigree tão desejado, longe dessa linhagem familiar dos cães nobres.

*Jorge Oliveira é jornalista e cineasta.

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