Dias de Hoje, por Adriano Dias – 24/10

Hipócrita a favor da guerra contra

O argumento era sempre que por ter nascido e o local de favelas, que são controladas por narcotraficantes, e em meio à troca de tiros com agentes da polícia. Além de afirmar que por ter perdido vários amigos, seja para o consumo de drogas, seja nos tiroteios entre bandidos – sejam eles com ou sem farda, como a mesma dizia – a hipócrita era contundentemente a favor da guerra às drogas. Responsabilizavam os consumidores por mantê-la e satanizava os policiais por terem se tornado sócios do negócio do crime em seu bairro.
Batendo no peito por ser a única pessoa de sua família a concluir o curso superior, e até mesmo a fazer o mestrado, tudo isso pago com dinheiro público. A ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ se dizia entendedora do assunto e o utilizou para basear suas teses acadêmicas.
Mas relevantes destacar, que mesmo nesta época, nem tudo era tão maniqueísta. Na sua casa, por exemplo, alguns itens foram comprados de cargas que foram roubadas pelos traficantes da região. Ela afirmava que era legítimo, pois se tornava de uma expropriação do grande capital, referencias muito usado pelas esquerdas na qual se dizia parte. Então dentro dos seus ensinamentos sociológicos, era legítimo que os excluídos fossem lá e expropriassem os capitalistas e vendessem por valores mais justos. Então, não havia problema, de vez em quando, comprar uma TV, ou outro bem, vindo da mão dos bandidos que haviam roubado dos empresários que utilizavam a região como logística para transporte de seus produtos.
Contundentemente também xingava de marginais os policiais do Batalhão que cobriu a área por utilizarem o ‘Caveirão’, o veículo blindado da corporação, não para se proteger, mas para extorquir os traficantes quando o arrego não estava condizente com a avidez financeira dos meganhas, como periodicamente se referenciava aos policiais militares.
Também toda critica e maldizer era destinado para as pessoas que iam para o bairro para consumir a substância ilícita, as que sustentavam a bandidagem e pagavam as balas que matavam trabalhdores.
Um dia a ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ foi trabalhar em uma prefeitura de um ex-namorado. O mesmo tinha sido recém-eleito baseado nas bandeiras da moral, da ética e dos princípios revolucionários de esquerda para o combate à corrupção. Assim que o grupo assumiu o tomou o poder, organizou um esquema de varejo de extorsão para se levantar dinheiro, seja de onde for. Afinal tinha que se pagar as contas de campanha e ninguém ali era muito hábil ou competente – como a própria dizia – para estruturar grandes esquemas de subtração do dinheiro público. Assim o primeiro passo foi acertar com comandante da companhia de polícia da região e juntamente com alguns secretários da prefeitura, do setor de postura, até de segurança, montar um atrapalhado esquema para pegar dinheiro de comerciantes, pequenos empresários, camelos, prostíbulos, caça-níqueis e boca de fumo.
A ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ achou aquilo ato legítimo e justificável, pois se tinha que pagar as dívidas de campanha. Aquelas pessoas só estavam hoje empregadas devido ao empenho do prefeito revolucionário. Logo, integrantes inclusive da segurança pessoal do alcaide passaram a ser semanalmente vistos transitando pela cidade, apoiados por integrantes da polícia do Estado e da guarda local, indo do ponto de atividades ilícitas como venda de drogas e caça-níqueis para pegarem a sua ‘merenda’. Como a ‘hipócrita a favor da guerra contra as drogas’ passou a ter uma relação amorosa com um dos que, outrora chamava de meganhas, que operavam o esquema. Assumiu também o mesmo entendimento e linguajar destes, inclusive falando que na cidade o esquema é tão bom que ia a ‘velocidade 10 do Créu’ (em referência ao Funk do sucesso na época).
Sem nenhum pudor e critério utilizava de qualquer telefone para mandar mensagens e trocar declarações românticas o bandido que comandava, pelo lado da segurança do Estado, o esquema do dinheiro da extorsão. Passou também a achar engraçado que o irmão do alcaide, usuário contumaz de cocaína, ostentasse pilhas do pó branco sobre as mesas do poder público como demonstração de poder. Mudou de opinião e se associar tranquilamente nas várias festas bancadas pelo dinheiro oriundo deste negócio nefasto.
Mas como marginais em geral não tem qualquer tipo de ética, o representante do Estado da área de segurança pública resolveu dar uma volta nos seus subordinados e superiores quando – de maneira inédita para aquela região até então – conseguiu aprender um fuzil. Cumprindo o princípio constitucional e democrático das políticas rapidamente negociou com outro grupo de traficantes a venda e aproveitar o lucro para fazer um cruzeiro com a sua esposa.
A questão acabou virando mais um daqueles processos cheios de “CONSTA QUE” das instituições militares de segurança do Estado do Rio de Janeiro, e que morreram na praia quando se chegou a um consenso financeiro apesar da farta quantidade de provas envolvendo várias pessoas que se associaram ao tráfico o que é tipificado no código penal.
Esta estória é tão absurda que só pode ser fruto da imaginação. Mas é só uma referência de quanto as pessoas são hipócritas quando o assunto é enfrentar o problema social das drogas e toda estrutura de corrupção que ela sustenta.
Para finalizar a história, que é fruto de muita imaginação, hoje a ‘hipócrita favorável à guerra contra as drogas’ hoje vive feliz na cidade que virou uma referência da corrupção do país. Mesmo com mais de 1 bilhão de reais por ano, ainda tem quase toda a sua população tomando banho de água com as próprias fezes, pois as fossas sanitárias muitas vezes contaminam os poços artesanais o artesianos no qual a população foi obrigada a fazer pois não existe nem água e esgoto na grande maioria da cidade.

error: Conteúdo protegido !!