DIAS DE HOJE, por Adriano Dias – 09/01

A intolerância nossa de cada dia

A cada pedrada na cabeça de uma criança, pelo fato de estar usando vestimentas seguindo a sua tradição religiosa, a sociedade vai desconstruindo décadas de lutas pelo entendimento que o Brasil foi formado por uma imensa diversidade de cultos e fé.
Apesar de ser majoritariamente cristão – o Brasil é país mais católico do mundo, com cerca de 126 milhões de pessoas que confessam está fé –, temos uma grande diversidade religiosidade por conta dos povos que construíram esta nação com seu grande patrimônio cultural.
Destacamos que, apesar da grande diversidade religiosa do Brasil, a maioria dos ataques de ódio está sendo direcionados para as religiões de matriz africana. Tendo como braço armado as quadrilhas de narcotraficantes e milicianos que usam do argumento de uma falsa conversão – muitas delas feitas inclusive no período do cárcere dessas pessoas-, que, ao retornarem as comunidades, agredirem não somente as pessoas, mas até mesmo promovem a destruição de templos religiosos. Esta barbárie ainda é orgulhosamente promovida em fotos e vídeos em redes sociais de internet pelos criminosos que usam o nome de Deus junto com falsos líderes religiosos, para consolidar a sua predominância de controle territorial.
Não podemos deixar de destacar que por trás também de toda esta intolerância religiosa, está alicerçada ao racismo enraizado na sociedade do maior país escravagista do mundo. O Brasil que, por durante 300 anos traficou pessoas majoritariamente da África. Alicerçando a economia nacional na exploração violenta do trabalho e, paralelamente, de todas as formas, tentando aniquilar sua cultura, principalmente a sua fé.
Não pode aceitar como normal a violência ou exclusão, por qualquer tipo de segmento da sociedade, pela intolerância religiosa. Principalmente quando essa incitação ao ódio está muito mais baseada no cálculo venal, no controle territorial e de votos, no que na discordância.
Tristemente nos últimos meses fomos testemunhas, principalmente na Baixada Fluminense, do quanto a intolerância, associado à ganância de falsos líderes religiosos, associados ao crime e de grupos de narcotraficantes de drogas e milícias, pode, em pleno século 21, ser tão cruel. Colocando a sociedade do Rio de Janeiro, que foi uma das principais portas de entrada de povos que trouxeram suas culturas e religiões, em situação de constrangimento e indignação.
Mas houve reação em vários segmentos – religiosos ou não -, que se unem contra a violência injustificada. São diversas vozes que promovem a união para a promoção do amor conforme esta filosoficamente embasada na grande maioria das religiões do mundo, que ajudaram acolher os diversos povos que vieram para o Brasil, de maneira voluntária ou não. Por outro lado, mesmo depois de tantos anos foi necessário criar mecanismos jurídicos para enfrentar esta situação.
Mas estamos em uma semana especial, 07 de janeiro é o Dia da Liberdade de Cultos que celebra a liberdade que todos os brasileiros têm de exercer as suas crenças de modo livre e sem qualquer tipo de perseguição. Devemos ter nos próximos dias, a publicação da Lei proposta pelos parlamentares André Ceciliano e Carlos Minc. A lei qualifica o ataque a templos religiosos, que tinham como tipificação jurídica somente o dano ao patrimônio, como um ato de intolerância religiosa. Além de possibilitar o mapeamento de incidências pelas instituições de direitos humanos e segurança pública.
Os direitos humanos são a materialização da vontade de Deus na terra. E as religiões são exatamente os seus principais canais de promoção da cultura de direitos, pois o princípio é que somos iguais na diferença e que devemos amar ao próximo como a si mesmo.

– Adriano Dias é fundador da ComCausa

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