Discriminação, preconceito ou mérito

*Ney Carvalho

Raro é o dia em que a mídia não constata alguma diferença de remuneração entre diversas categorias, gêneros ou grupos de indivíduos. Ora se afirma que brancos ganham mais do que negros, ora que homens tem rendimentos mais elevados que mulheres, que héteros são mais bem remunerados do que homossexuais e assim por diante. Até mesmo diferenças entre mães e mulheres sem filhos, favoráveis a essas últimas foram detectadas recentemente. A polêmica é infindável sobre divergências salariais entre os variados segmentos em que se divide a sociedade.
O leitor é levado a crer que tudo acontece como se houvessem terríveis e maléficos complôs financeiros de brancos contra negros, de homens contra mulheres, de héteros contra gays, etc. etc. E o responsável é sempre indicado como o sistema de liberdade econômica que a duras penas tentamos construir, o chamado “capitalismo liberal”, o mercado enfim.
No entanto, o que é exibido em tais levantamentos não passa de meras constatações, simples demonstrações da existência de diferenças. As matérias não costumam procurar as razões de tais discrepâncias. E elas não se encontram em discriminações, preconceitos, tramas secretas, ou conspirações entre grupos poderosos contra minorias indefesas.
O mercado é constituído por milhares e milhares de unidades produtoras de bens e serviços. Se elas pagam mais a determinados grupos não o fazem por simpatia por este ou aquele. E não existe qualquer conluio para fazê-lo, o que seria impossível dada a diversidade e quantidade de centros decisórios sobre salários e recursos humanos. Tais fatos ocorrem, simplesmente, porque os setores, pessoas ou grupos melhor remunerados demonstram mais eficiência, são mais eficazes.
Num sistema econômico livre e democrático é o mérito de cada qual, ou de sua grei em conjunto, que conduz a salários mais elevados. Isso pode ser atribuído a diversas circunstâncias. Normalmente o preparo educacional para as funções é o indicador por excelência das discrepâncias verificadas. É na educação e não em qualquer discriminação ou preconceito que se vão localizar as razões do bônus financeiro que o mérito recebe.

*Ney Carvalho é escritor e historiador.

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