*Carolina Modesto e Rafael Honorio
Recentemente, foi divulgado um estudo pelo Departamento da Indústria da Construção (Deconcic), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que apurou os principais obstáculos que dificultam o andamento e atrasam as obras no Brasil. A pesquisa aponta fragilidades do setor de construção em diversos itens, como projetos, desapropriação de áreas, serviços públicos, licenças ambientais, regulação, burocracia, liberação de recursos, mão de obra e, principalmente, a falta de comunicação entre os responsáveis pela obra e a população.
Cabe complementar que as obras inacabadas, mais do que todo prejuízo financeiro, deixam um prejuízo moral em diferentes aspectos: perante a população lindeira que fica descrente, pois não suportam os transtornos causados no dia a dia, e junto aos empreendedores, tanto ao órgão de governo quanto à construtora responsável pelas obras, que veem sua reputação despencar junto à opinião pública.
Tendo em vista inúmeras obras inacabadas em todo o país, por exemplo, as iniciadas em 2014 para a Copa do Mundo, e os altos investimentos públicos dispensados, a população tem a necessidade e o direito de vê-las em funcionamento. “O que está acontecendo com as nossas obras?”, questionou Manuel Rossito, diretor adjunto do Deconcic. “Elas simplesmente não acabam, e quando acabam demoram mais que o prazo previsto, custam muito mais e a sociedade demora muito mais tempo para ter o benefício do investimento”, afirma.
Diante dessa realidade, é mais do que justo que a população se revolte e clame por informações sobre a continuidade das obras, quando serão retomadas e eventuais mudanças que irão impactar o cotidiano. Para atender essa expectativa, os empreendedores precisam de um trabalho de comunicação consistente e planejado, estruturado desde o início das obras e com base na confiança e no relacionamento transparente e sólido. Ainda de acordo com Manuel Rossito, “Obra boa é ‘obra rodando’. Aquela que acaba no prazo, com qualidade, sustentabilidade, custos controlados e com respeito ao meio ambiente e às questões sociais”.
Dessa forma, para evitar maiores prejuízos financeiros, jurídicos e riscos à reputação de governos e empresas, é necessário um bom plano de comunicação que possa manter o relacionamento com a população, de maneira geral, e a comunidade lindeira às obras, disponibilizando as informações corretas, ouvindo as reclamações e encaminhando os apontamentos para as áreas responsáveis. Seja por meio de informativos, comunicados, reuniões, palestras, visitas, releases para a imprensa local, informes pelas redes sociais, mensagens pelo smartphone, e outras ferramentas de comunicação.
Assim, a população e as comunidades lindeiras serão informadas sobre o que está acontecendo e os ânimos ficarão mais equilibrados. Com uma ação contínua de comunicação a médio e longo prazo, é possível conquistar a confiança, o respeito e a compreensão de todos. Consequentemente, minimiza-se a revolta da população, algo tão em voga entre os brasileiros devido a atual crise político-econômica que assola o nosso país, e preserva-se a imagem e a reputação dos empreendedores – um ativo tão caro quanto os votos dos governantes e as ações financeiras das empresas.
Nesse aspecto, acreditamos que é preciso uma mudança sistêmica na gestão desses empreendimentos, assim como uma mudança de mentalidade e um olhar direcionado ao bem-estar e a aprovação da população. Informar e comunicar a população e as comunidades onde estão sendo implementadas as obras de infraestrutura é essencial para superar problemas primários. Somente assim os empreendedores conseguirão a “licença social” da população para levar a cabo seus empreendimentos, promovendo benefícios sociais à população e trabalhando por verdadeiros legados.
*Carolina Modesto e Rafael Honório são associados da Communità Comunicação Socioambiental.