*João Doria
Entre as temáticas que envolvem as abordagens sobre gestão, uma delas se repete: a mulher como gestora. Por que a mulher ainda não ascendeu ao mesmo patamar masculino? Seria procedente uma política de cotas para expandir a quantidade de mulheres nas empresas? Essas questões estão na ordem do dia, seja pela consciência de igualdade de gêneros que se consolida no país, na esteira da valorização da cidadania, seja pelo extraordinário crescimento da mulher no ranking da educação. Para começar, as mulheres superam os homens na demografia brasileira: são 103,5 milhões de mulheres, equivalente a 51,4% da população (pesquisa IBGE 2013), responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias, o que denota ocupação crescente no mercado de trabalho e menor número de filhos – na década de 80, a média era de quatro por mulher, agora é de um a dois. Na eleição de 2014, as eleitoras somaram 77,5 milhões contra 68,2 milhões de homens. Porém, com 16 milhões de empresas, as mulheres não possuem cargos de liderança em mais da metade. E o pior é que a presença feminina em cargos mais elevados vem diminuindo: em 2012, 26% das empresas não tinham funcionárias em posições de comando, taxa que aumenta para 33% em 2013 e 47% em 2014, tendência que se observa na moldura latino-americana, onde a taxa de 34% em 2012 sobe para 53% no ano passado. Essa radiografia emerge no momento em que as mulheres apresentam boa performance em muitos setores, da educação ao trabalho. É como se pode ver em nosso País. Uma pesquisa feita pela Caliper do Brasil, quando as mulheres ocupam cargos gerenciais, são assertivas e menos agressivas que os homens. Sabem defender de maneira firme seus pontos de vista, são mais precisas e cuidadosas, mostrando bom senso incomum, a par de serem perfis empáticos, sociáveis e extrovertidos. É capaz de lidar com situações práticas, engajando-se plenamente no planejamento estratégico. O que existe ainda, isso sim, é uma forte dose de preconceito. Mesmo sendo legalmente assegurados às mulheres os mesmos direitos concedidos aos homens, esses ainda não atingem 100% do universo feminino, seja no nível salarial, nas oportunidades de promoção, nas facilidades para o pleno desempenho profissional. Já dispomos da lei que amplia a licença-maternidade de 4 para 6 meses, sendo a concessão dos últimos 60 dias opcional para a empresa. A proteção à maternidade torna-se mais efetiva, preservando um direito social. As barreiras vão sendo derrubadas por novas leis e pelo preceito da imprescindibilidade da presença feminina no mercado de trabalho. Quanto a cotas para aumentar o número de mulheres nas empresas, trata-se de medida polêmica. O mercado de trabalho é um campo aberto de competição e a disputa por cargos sugere um “vale tudo”, incluindo-se as cargas discriminatórias. As mulheres já somam mais da metade dos concluintes dos ensinos Fundamental, Médio e Superior no país e predominam entre os candidatos aos exames vestibulares de instituições públicas e privadas. Entre os trabalhadores com nível superior no mercado de trabalho, 54% são mulheres. Não há razão para remuneração diferente entre homens e mulheres que assumem cargos semelhantes na hierarquia das administrações. É preciso acabar com o preconceito na política de remuneração. Em geral, as mulheres ainda ganham 20% a 30% a menos que os homens mesmo que ocupem as mesmas funções. O respeito à condição feminina e aos valores por ela encarnados é a base para a construção de uma civilização mais igualitária, mais solidária e mais democrática.
*João Doria é jornalista, presidente do Grupo Doria e pré-candidato à prefeitura de São Paulo.