Caonze: realidade oculta em bairro nobre

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“Quem pensa no Caonze não imagina o que se pode encontrar aqui, na parte alta. Essa é a parte abandonada, esquecida”, disse Valéria Guimarães Rocha moradora do bairro há quase 12 anos Foto: Davi Boechat/Jornal de Hoje
“Quem pensa no Caonze não imagina o que se pode encontrar aqui, na parte alta. Essa é a parte abandonada, esquecida”, disse Valéria Guimarães Rocha moradora do bairro há quase 12 anos
Foto: Davi Boechat/Jornal de Hoje

Há alguns anos, Nova Iguaçu passa por um processo de expansão imobiliária. No Centro e em diversos bairros, a estética urbana mudou: casas antigas e terrenos baldios deram lugar a prédios com padrão e valores nunca antes vistos na Baixada Fluminense. Todo esse espetáculo de prosperidade foi assistido, do alto, por antigos moradores do bairro Caonze, que com os pés na lama, sem tratamento de esgoto nem água encanada, se organizaram em torno do movimento “O K11 que queremos ter”.
“Quem pensa no Caonze não imagina o que se pode encontrar aqui, na parte alta. Essa é a parte abandonada, esquecida. De fato, há um bairro nobre, bonito e com status. Mas, há outra parte, e nela faltam até serviços básicos”, disse a assistente social Valéria Guimarães Rocha, de 38 anos, que mora no bairro há quase 12 anos.
Dentre os problemas enfrentados pelos moradores, está a falta de água, esgoto, iluminação pública e asfalto. Para resolvê-los, foram feitos inúmeros pedidos em ouvidorias e até reuniões com autoridades, muitas delas documentas. No entanto, com a falta de resposta para as demandas apresentadas, os moradores decidiram expor os problemas de outras formas. Com o movimento organizado no fim do ano passado, foi criada uma página no Facebook que agrega centenas de seguidores e milhares de visualizações. Vídeos, fotos e textos são usados para mostrar o dia-a-dia na região, com a esperança de chamar atenção para que mudanças sejam promovidas.
Além das ações na internet, o grupo realiza atividades que visam amenizar problemas no bairro. Com o ‘Impacto Comunitário’, moradores realizam a limpeza das ruas, corte do mato alto, além de outras ações patrocinadas pelo próprio movimento. “Pagamos por esses serviços, mas, como eles não são oferecidos nos vemos obrigados a fazer alguma coisa”, disse a estudante Luciana Sampaio da Silva, de 24 anos.

Casas ficam a metros do reservatório de água

Protesto durante a inauguração do reservatório, em setembro do ano passado
Protesto durante a inauguração do reservatório, em setembro do ano passado

No dia 18 de setembro de 2014, foi inaugurado um reservatório com capacidade para receber seis milhões de litros de água. A obra, que estava pronta há 17 anos, prometia ser a solução da Companhia Estadual de Água e Esgotos (Cedae) para o abastecimento de 20 mil moradores da parte alta do Caonze. No entanto, até hoje as casas não têm ligação com o reservatório. Há apenas uma saída de água, que vai para Mesquita. Um dos moradores que acompanhava a comitiva dos moradores durante a reportagem do Jornal de Hoje disse ter visto a construção do reservatório quando adolescente. Devido o trabalho, se mudou para outras regiões do estado do Rio por duas vezes e se mostrou perplexo por nada ter mudado. “Aqui, o pouco de saneamento foi feito pelos próprios moradores”, disse Aelson Rocha, 42 anos, apontando para os canos instalados pelos moradores. “As pessoas precisam se juntar para comprar canos que possam levar água às suas casas. Na minha, precisei de 52 deles, mas há moradores que usaram, no mínimo, 200 canos”, relatou o corretor de seguros, nascido e criado no bairro.
E os problemas com saneamento não param por ai. Além da falta de água tratada, visto que os moradores usam ligações que se originam no Parque Municipal de Nova Iguaçu, o despejo de esgoto também é feito de forma inadequada. Canos conduzem os dejetos produzidos nas casas para partes mais baixas do morro. Muitas vezes, o esgoto é encaminhado para o quintal de outros moradores, em terrenos mais baixos.

Serviços não chegam às casas

Segundo moradores das ruas mais altas, a falta de asfalto e crescimento desordenado, fizeram com que ruas virassem becos, o que inviabiliza a passagem de veículos, inclusive os de serviços de limpeza pública e saúde. Algumas das ruas não recebem coleta de lixo, o que colabora o descarte inadequado. Já em casos de emergência, ambulâncias não conseguem acesso, fazendo com que pacientes precisem ser carregados até a rua asfaltada mais próxima, que por vezes é no município vizinho, em Mesquita. Os moradores também enfrentam problemas com serviços de entrega. Muitas vezes, transportadoras de móveis, materiais de construção, gás e água se recusam a entregar móveis nos endereços de difícil acesso. “Quando fazemos obras, gastamos mais pagando para alguém para trazer os materiais até nossas casas que com as compras”, disse o bombeiro hidráulico Roberto Sampaio, de 56 anos.

Em nota, a Prefeitura de Nova Iguaçu, através da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, afirma que “o projeto prometido pelo prefeito Nelson Bornier que inclui drenagem e pavimentação não foi esquecido. Ele já está sendo desenvolvido pela secretaria.” Segundo Carla, até o final de junho deste ano, o

Alguns dos componentes vestidos com a camisa que identifica o grupo
Alguns dos componentes vestidos com a camisa que identifica o grupo

projeto estará disponível para consulta. “Após esta fase, será feita a elaboração do orçamento e então, será aberto o processo de licitação. Só depois as obras poderão ser iniciadas.”
Procurada para prestar esclarecimentos, a Cedae não enviou resposta até o fechamento desta edição.
O surgimento do movimento

Em 18 de setembro de 2014, um grupo de moradores insatisfeitos com a falta de oferta de água potável para suas residências, decidiu organizar uma manifestação pacífica no evento de inauguração do novo reservatório do bairro, onde estiveram presentes várias autoridades públicas. Estes moradores resolveram então se organizar, formando um movimento popular, que gerou ‘K11 Que Queremos Ter’.

Por: Davi Boechat (davi.boechat@jornalhoje.inf.br)

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