11 de setembro de 2024
Comando Geral da PMERJ exonerou na manhã de ontem o tenente coronel Marcos Netto
Comando Geral da PMERJ exonerou na manhã de ontem o tenente coronel Marcos Netto

O tenente coronel Marcos Netto foi exonerado ontem, após a morte de cinco jovens fuzilados por Policiais Militares do Batalhão de Irajá (41ºBPM), em Costa Barros, Zona Norte do Rio, no sábado (28). No texto, em que informa a exoneração do policial Netto, a PM justificou a medida citando os “últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando”. Quem assume o cargo no 41ºBPM é o tenente-coronel Jorge Fernando de Oliveira Pimenta, que comandava o 32º BPM (Macaé).

Ainda na manhã de ontem, o governador Luiz Fernando Pezão classificou como “abominável” a morte dos jovens na noite do último sábado (28). Quatro policiais militares do 41ºBPM estão presos. Pezão disse ainda que pediu investigação rigorosa e célere. “É abominável uma atitude como essa de pessoas treinadas para levar a paz. Cinquenta tiros em um automóvel não é normal. O Estado não vai tolerar isso. Os policiais vão ter o direito de se explicar, mas, se erraram, serão punidos. Determinei investigação rigorosa e rápida. A gente tem feito todos os esforços para acabar com essa chaga aqui no Rio. Se tiver de expulsar os policiais, vamos expulsar, como já expulsamos 123 este ano”, afirmou o governador.

O comando da corporação publicou em seu boletim interno um conjunto de regras sobre “quando o policial deve atirar”. Segundo a publicação, PMs só podem atirar “em legítima defesa do policial ou cidadão em situação de risco” ou “quando houver resistência à prisão com uso de arma de fogo ou instrumento com potencial de letalidade”. Pezão disse ainda que o Estado dará apoio às famílias. “Pedi que a Procuradoria Geral do Estado, a Defensoria Pública e a nossa Assistência Social deem todo o apoio às famílias. Isso não repara, mas é o mínimo que a gente pode fazer”, disse o governador Luiz Fernando Pezão.

Sepultamento

Os corpos de Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, Wesley Castro Rodrigues, de 25, e os menores de idade Carlos Eduardo da Silva de Souza e Roberto de Souza Penha, ambos de 16 anos, foram enterrados na tarde de ontem no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. Wilton era o motorista do Palio que foi fuzilado com dezenas de tiros por policiais do Batalhão de Irajá em um dos acessos à comunidade da Lagartixa, que integra o Complexo da Pedreira. A quinta vítima, Cleiton Corrêa de Souza, de 18 anos, será enterrada hoje.

Revoltados e emocionados, os familiares dos jovens levaram cartazes com cinco estrelas em referência a cada um dos jovens assassinados. A homenagem no velório teve tom de indignação por conta das circunstâncias do crime.

O crime

Na tarde do último sábado (28), Roberto de Souza Penha, de 16 anos, comemorava o primeiro salário com os amigos. Ele havia sido contratado como Jovem Aprendiz, no supermercado Atacadão, da Avenida Brasil. Na companhia de Carlos Eduardo da Silva de Souza, da mesma idade, Cleiton Corrêa de Souza, de 18 anos, Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20, e Wesley Castro Rodrigues, de 25, teve o carro metralhado por policiais do 41º BPM, quando saía da Lagartixa, em Costa Barros, para lanchar, por volta das 23h.
Em depoimento na 39ª DP (Pavuna), os PMs (Thiago Resende Viana Barbosa, Márcio Darcy Alves dos Santos e Antônio Fábio Pizza Oliveira da Silva) contaram que foram alvejados pelo carona do carro em que estavam os rapazes. Segundo eles, os ocupantes de uma moto que seguia ao lado do veículo haviam efetuado disparos contra a guarnição. O delegado Rômulo Assis, da delegacia da Pavuna, viu contradições entre os depoimentos e a cena do crime, e indiciou os três policiais por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e fraude processual. Antônio Fábio Pizza Oliveira da Silva foi indiciado apenas pelo homicídio doloso.
Segundo uma testemunha, os policiais tinham preparado uma emboscada para traficantes quando atiraram nos jovens. No domingo (29), os PMs foram transferidos para o Batalhão Especial Prisional (BEP), antiga Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.