Ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), voltou a negar que tenha contas no exterior. Em café da manhã com jornalistas, o peemedebista disse que “dá de presente” qualquer conta dele que venha a ser encontrada pelos investigadores. “Vocês podem preparar em qualquer escritório de advocacia internacional qualquer documento que diga ‘empresa’, ‘truste’, de qualquer natureza, para eu assinar procuração, doação, busca, verificação, não é só de Israel não, de Israel, da Arábia Saudita, do Líbano, de qualquer lugar do mundo que você queira e de qualquer conta bancária, que eu dou de presente para reverter a quem quiser porque não existe”, afirmou Cunha.
“Então, eu estou absolutamente tranquilo, não tenho preocupação nenhuma. O que eu tinha, o que foi colocado e que está sendo por mim explicado, é o que já é de conhecimento. O resto não existe, isso é fantasia. Eu não estou nem pedindo para provar. Eu já faço antecipadamente a oferta de assinar qualquer documento necessário, de qualquer natureza. Não é para dizer que estou driblando, de qualquer natureza. Faça o documento que quiser que eu assino”, disse o presidente da Câmara.
Investigações do Ministério Público suíço já encontraram quatro contas ligadas a Cunha naquele país. O peemedebista diz, no entanto, que não se tratam de contas, mas de trustes, espécie de fundos de investimento. Ele afirma ainda que não é dono do dinheiro aplicado nestes trustes, mas apenas “usufrutuário” e “beneficiário em vida”.
No café da manhã de ontem, Eduardo Cunha negou ter qualquer tipo de relação com Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia, que disse em delação premiada que pagou propina ao peemedebista em conta no Israel Discount Bank e em outras duas contas no banco BSI e no Merril Lynch.
No encontro com jornalistas que cobrem a Câmara, Cunha afirmou que o pedido de afastamento apresentado contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é uma “peça teatral”. Durante o café, Cunha afirmou estar tomando cuidado com suas declarações por temer que Janot use “partes de minhas falas” e voltou a se dizer perseguido pelo procurador-geral. “Não há dúvida que ele me escolheu”, afirmou.
Confrontado sobre o fato de que o ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) já havia inclusive sido preso, Cunha disse que o senador está atrás das grades por ter sido pego em flagrante.
Questionado se era capaz de fazer uma autocrítica, o peemedebista disse que deve ter cometido vários erros, mas não enumerou nenhum. Perguntado sobre episódios específicos como sua ida à CPI da Petrobras, quando negou ter contas no exterior pela primeira vez, e as manobras para protelar o processo contra ele no Conselho de Ética, Cunha minimizou a questão. “Não considero que são erros”.
Ele disse que apontar sua tentativa de defesa como manobras é uma tentativa de constrangimento. “Você quer me constranger. Você não quer que eu seja julgado, quer que eu seja justiçado”, disse Cunha, afirmando ter “expectativa total de terminar o mandato”.
Cunha também fez uma série de críticas à imprensa, acusando jornalistas de constranger e fazer “bullying” com seus aliados e familiares. “Vocês estão constrangendo as pessoas. Isso é um bullying que vocês fazem”, afirmou, acrescentando que não tem sido hostilizado nas ruas.
“Nenhum líder tem que ser contra
ou a favor do impeachment
O presidente da Câmara disse que deve haver disputa para a liderança do PMDB no início do ano e fez críticas ao atual líder do partido na casa, Leonardo Picciani. Para Cunha, o atual líder do PMDB atuou como assessor de imprensa do governo. “Nenhum líder tem que ser contra ou a favor do impeachment. Ele é porta-voz da bancada”, afirmou. “Ele não atuou como líder do partido.”
Picciani foi destituído do posto de líder do PMDB na Câmara após articulação de deputados da ala pró-impeachment do partido. Com o aval do vice-presidente da República e presidente nacional da legenda, Michel Temer, esses parlamentares apresentaram lista com 35 assinaturas, derrubando o deputado fluminense e indicando Leonardo Quintão (MG) ao posto. Oito dias depois, contudo, Picciani apresentou nova lista com apoio de 36 deputados do PMDB e foi reconduzido ao posto.
Picciani anunciou que disputará novamente o posto em fevereiro, quando estão previstas eleições de novos líderes partidários e presidentes de comissões permanentes na Casa. Uma das principais estratégias, para se manter no cargo até lá e conseguir se reeleger, será manter deputados do PMDB do Rio que estavam licenciados e retomaram os mandatos no início de dezembro para apoiá-lo.
Cunha negou que haja constrangimento com Picciani, mas reforçou que ele não tem agido como líder do partido e disse que ele não foi eleito líder com o seu apoio. “Eu fui neutro em sua eleição”, disse.
Eduardo disse prever disputas na eleição do partido e reafirmou que vai votar nessa eleição. “Vou votar, vamos ver quem serão os candidatos”, disse. O presidente da Câmara afirmou que se a bancada mineira estiver unânime ele provavelmente a apoiará. “A discussão não se dá por nomes, ela se dá por plataforma”, explicou.