Sob o lema “Não Permitir Retrocessos”, três mil mulheres reuniram-se ontem, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Presente na cerimônia de abertura, a presidente Dilma Rousseff defendeu seu mandato e “deu nome aos bois” daqueles que conduzem o “golpe”.
“Nós temos de dar nomes aos bois. É um processo conduzido pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha em aliança com o vice-presidente da República. Os dois proporcionaram ao País essa espécie moderna de golpe. Um golpe feito não com armas e baionetas, mas um golpe que rasga a nossa Constituição”, declarou ao ser ovacionada pela plateia presente.
Em longo discurso, a presidente defendeu ainda as mulheres brasileiras que sofrem com discriminação e disse que sofre por ser a “primeira mulher eleita do País”. “Nós sabemos que um dos componentes desse processo tem sempre uma base no fato de eu ser a primeira presidente eleita pelo voto popular. A primeira presidente eleita do Brasil. Eu quero dizer para vocês que uma parte muito importante da minha capacidade de resistir decorre do fato de eu ser mulher”, disse.
Dilma disse que resistirá ao processo de impeachment e que, para ela, “o último dia previsto de mandato é o dia 31 de dezembro de 2018”. Ela afirmou que participará de todas as ações a qual for convocada a se defender no Senado: “Eu asseguro a vocês que eu vou lutar com todas as minhas forças, usando todos os meios disponíveis, meios legais, meios de luta. Vou participar de todas as ações que me chamarem”.
A presidente da República disse ainda que não está cansada de lutar e aqueles que estão cansados são os “desleais e traidores”. “É esse cansaço deles que impulsiona a mim a lutar cada dia mais. Eles, portanto, quando propõem a minha renúncia têm dois objetivos. O primeiro, eles querem de todas as formas evitar que eu continue falando com vocês e denunciando o golpe. Querem disseminar a ideia de que sou mulher e não tenho capacidade de resistir. Quero dizer que minha capacidade é enorme”.
Durante discurso, a presidente ressaltou ainda o crescimento dos programas sociais durante os 13 anos de governo petista: “É esse o País pelo qual nós lutamos”.
Honra aos 54 milhões de votos
“O povo brasileiro votou em mim duas vezes e agora quero dizer que esses 54 milhões de votos que recebi nas urnas no ano de 2014, eu vou honrá-los. Por isso, eu quero dizer que esse processo de impeachment é um golpe contra tudo isso que acabo de dizer. É um golpe. Muitos deles dizem ‘Olha, na Constituição está previsto o impeachment’. O que eles estão fazendo é contar só uma parte. Eles ocultam o que a Constituição brasileira diz que o impeachment só deve ocorrer quando tem crime de responsabilidade. Eu não cometi crime de responsabilidade. Eles me acusam de seis decretos e uma transferência para o Plano Safra. Os decretos não são feitos para beneficiar a Presidência da República ou a minha pessoa. São decretos de funcionamento do Governo, feitos pelos presidentes que me antecederam. Como esses 6 foram feitos 27 no Governo FHC. Se naquela época não era crime, não é hoje também”, completou.
Ao final, Dilma afirmou que continuará lutando pela democracia e que a crise, “assim como na vida das pessoas”, servem para que nos tornemos mais fortes. “Da mesma forma no País, um processo como este serve para que sejamos capazes de defender aquilo que conquistamos, seja no plano da cidadania, seja no plano dos nossos direitos e lutas”.
Ao que ela finalizou sob gritos de apoio e aplausos das mulheres presentes: “Me sinto injustiçada, mas sou um tipo de vítima como nós brasileiros e brasileiras somos. Somos vítimas, porém lutadoras. Vítimas que não desistem, com capacidade de luta”.