O empresário João Henriques, apontado como lobista ligado ao PMDB, afirmou à Polícia Federal que abriu uma conta na Suíça para pagar propina ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). João Henriques não especificou valores e nem a data. Segundo ele, a suposta transferência para Cunha está ligada a um contrato da Petrobras relativo à compra de um campo de exploração em Benin, na África.
O relato de Henriques, ocorrido na sexta-feira (25), amplia as suspeitas sobre o presidente da Câmara. Outros dois alvos da Lava Jato, o executivo Júlio Camargo e o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, relataram que Eduardo Cunha recebeu US$ 5 milhões em propinas na contratação de navio sonda da Petrobras, em 2006. O presidente da Câmara foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro.
O deputado nega ter recebido dinheiro ilícito e tem dito que “não é comentarista de delação”. O lobista do PMDB, preso há uma semana, disse à PF que o repasse a Cunha foi um pedido de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG) – morto em 2009. João Henriques afirmou que não sabia que o destinatário da suposta propina era o presidente da Câmara. “Em relação à aquisição pela Petrobras do campo de exploração em Benin, a pessoa que lhe indicou a conta para pagamento foi Felipe Diniz; que Felipe Diniz era filho de Fernando Diniz; que Felipe enfrentava dificuldades econômicas; que a conta indicada para o pagamento pertencia a Eduardo Cunha; que o interrogando só veio a saber disso na Suíça, em virtude do processo de bloqueio de contas que enfrentou; que reforça que somente soube da titularidade da conta há cerca de 2 meses; que nunca teve qualquer relação com Eduardo Cunha; que não sabe o motivo pelo qual Felipe Diniz indicou a conta de Eduardo Cunha para o recebimento de valores no exterior”, diz o depoimento.
João Henriques afirmou que para fazer a negociação abriu a empresa Acona, com conta no banco BSI, na Suíça. “Esta conta foi bloqueada na Suíça após as autoridades locais terem tomado ciência da reportagem da revista Época de 2013.”
À PF, o lobista do PMDB contou que foi apresentado a um empresário de nome Idalecio de Oliveira, dono de uma área na África, em Benin. João Henriques afirmou que acreditava que a área tinha “um grande potencial de exploração”.
“Era perto da Nigéria, e a Nigéria era a maior produtora de óleo da costa da África. Eu peguei, o contratei, e o custo foi meu, geólogos que eu conhecia. Eles avaliaram e falaram que a área era ótima. Combinei com Idalecio que ganharia um sucess fee. Se a gente conseguisse vender a gente dividiria os lucros. Vendemos esta área para a Petrobras e a Petrobras pagou pela área em torno de US$ 15 milhões”, destacou o lobista do PMDB.
De acordo com João Henriques, Idalecio de Oliveira ficou com 50% do valor. Ele negou que tenha recebido propina e integrado “a organização criminosa que assolou a Petrobras”. “Paguei as pessoas, geólogos, todos os custos que eu tive e dei para uma pessoa que tinha me dado a dica a participação. Ele me apresentou o cliente. E todos eles me deram contas que eu transferi. Transferência você faz lá e manda. Você nem sabe pra quem está mandando.”
Eu era o nome do PMDB, diz
lobista à PF
O lobista João Augusto Henriques, ligado ao PMDB, afirmou que o ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG) – morto em 2009 – o convidou para ser o diretor Internacional da Petrobrás. João Henriques foi preso na segunda-feira (21), na 19ª fase, Operação ‘Ninguém Durma’, da missão Lava Jato.
Segundo o lobista do PMDB, o PT não aceitou sua indicação. Meses depois, afirmou, o engenheiro Jorge Luiz Zelada ocupou o cargo. Zelada ocupou a cadeira máxima da Diretoria Internacional da estatal entre 2008 e 2012, sucedendo Nestor Cerveró – ambos, Cerveró e Zelada, estão presos em Curitiba, base da Lava Jato.
“Fernando Diniz tentou me colocar, eu era o nome do PMDB”, afirmou João Henriques. “Mas o PT não aceitou, eu não tinha os valores que eles queriam. Eu fui efetivamente convidado pelo Fernando Diniz. Eles iam passar para a Casa Civil. Foi negado, dizendo que o conselho não aceitava. Aí eles usaram o TCU (Tribunal de Contas da União) como uma alegação para negar. O PT não queria. Vou usar da minha arrogância agora, eu não queria fazer o projeto megalomaníaco deles. Porque era irreal. Fazer 28 sondas, refinaria, era irreal. Tinha que existir projeto.”
PMDB e PT não gostavam de Zelada
João Henriques afirmou à PF que Jorge Zelada não era bem visto pelo PMDB e pelo PT. De acordo com o lobista, a indicação de Zelada ao cargo não partiu dele e citou os ex-diretores da Petrobras Renato Duque (Serviços) – apontado pelos investigadores como elo do PT na estatal petrolífera – e Guilherme Estrella (Exploração & Produção) e os ex-presidentes da companhia José Sergio Gabrielli e Graça Foster. “Que força eu tenho para indicar o Zelada?”; que Jorge Zelada era um “cara” que trabalhava para o Duque; que para o PT era interessante ter outro diretor que, em tese, trabalhasse para eles. Disse: “todo mundo achou que eu tinha influência”; que não negou esta suposta influência”, disse. “Se eu tivesse essa força não indicava Gabrielli, Graça, Estrela. Nem na minha empresa eles trabalhariam”;
Zelada é o quarto ex-diretor da Petrobrás preso desde o início da Lava Jato. Também foram presos e denunciados, os ex-dirigentes da estatal Renato Duque, Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Nestor Cerveró e o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco. Todos são acusados de terem recebido propinas sobre contratos com as maiores empreiteiras do País que se cartelizaram na companhia entre 2004 e 2014.
Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco fizeram delação premiada e admitiram envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobrás. Duque, Zelada e Cerveró negam.