‘As bancas não são vilãs. A culpa não é nossa’, diz sindicato após Crivella suspender a venda de bebidas alcoólicas

A suspensão da venda de bebidas alcoólicas em bancas de jornais e revistas na cidade do Rio de Janeiro deixou os jornaleiros preocupados. No decreto do prefeito Marcelo Crivella, publicado no Diário Oficial do município nesta segunda-feira, dia 13, a proibição é citada por tempo indeterminado. Como o faturamento caiu entre 60 e 70% desde o início da pandemia do coronavírus, em março deste ano, a comercialização desses produtos ainda mantinha o caixa dos estabelecimentos, que não aceitam essa alcunha de “vilões” das aglomerações iniciadas desde a reabertura dos bares e restaurantes, no dia 2 de julho.

O presidente do Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas do Estado do Rio de Janeiro (Sinvejor), Nilson Dantas, afirmou que “a culpa não é das bancas”, já que os estabelecimentos já vendiam bebidas há mais de 100 dias na quarentena. As bancas receberam autorização de Crivella para funcionar como serviço essencial por vender bebidas alcoólicas e não-alcoólicas, produtos alimentícios, cigarros, recarga de celulares, entre outras coisas além dos próprios jornais e revistas.

— Eu entendo que ele (prefeito) está fazendo o melhor pela cidade. Mas ele precisa compreender que a culpa não é da banca. Em 100 dias, não aconteceu nada disso. Os bares e restaurantes não abriram nesse tempo. Não houve nenhuma aglomeração por causa de bebida. Infelizmente, em frente à algumas bancas há bares. Eles reabriram e trouxeram essa massa de gente, que fica na porta. As bancas não são as vilãs. É esse conceito que queremos que o prefeito reavaliasse. Perder esses itens só piora a situação do jornaleiro — disse o presidente do Sinvejor, que é jornaleiro há mais de 43 anos.

Ao todo, a capital tem 2050 bancas autorizadas e ativas em funcionamento. Dantas explica que muitas pararam de funcionar, como as do Centro, e só retornaram agora. Com isso, o faturamento caiu em 100%. Há muitos jornaleiros acima dos 60 anos, são do grupo de risco e não podem abrir por isso. A prefeitura não comunicou o sindicato de forma preventiva sobre o novo decreto. Mas o presidente do Sinvejor pretende procurar Crivella para uma conversa e expor a situação.

Para Dantas, uma forma de rever essa proibição seria determinar que as bancas só podem ficar abertas e vendendo bebidas até o fechamento dos bares e restaurantes. Neste caso, seria até às 23h, conforme a atual fase de flexibilização implementada pela prefeitura do Rio na quarentena da Covid-19.

— Eu recebi essa informação através das ligações de jornaleiros. Eles estão apavorados e não sabem o que fazer. De modo geral, está ruim. Agora vai piorar. A intenção é tentar uma conversa e expor essa necessidade da categoria. Está decretado e vamos obedecer. Mas ele precisa ver que não somos os vilões dessa história. Não vai adiantar nada e a banca só sairá prejudicada, assim como a população. Achei injusto esse decreto — afirma.

Problema no Leblon

A mudança surgiu quase duas semanas após uma grande aglomeração na Dias Ferreira, no Lebon, na Zona Sul do Rio. No primeiro dia de reabertura dos bares na cidade, no dia 2 de julho, houve muita aglomeração. Após os bares fecharem, os frequentadores permaneceram na calçada e compraram bebidas em uma das bancas de jornais que estava aberta na mesma área.

— Isso surgiu depois que afirmaram em reportagens que houve aglomeração na frente de uma banca no Leblon, na Zona Sul, em frente aos bares que reabriram naquele dia. Mas acho que suspender não era o certo, poderiam orientar e exigir que as bancas acompanhem os horários dos bares, que no caso é de 23h nessa pandemia. Agora estão colocando a culpa na banca pela aglomeração, mas a banca não é a culpada. As pessoas chegam, compram e já saem, não ficam em filas. E são prontamente atendidas — explica.

— Tem sido uma grande luta da categoria desde o início da pandemia. Estamos vendendo mais de convenicência que os próprios jornais e revistas. A banca abre entre 5h e 6h e muitas ficam até às 22h. Nós vendemos um conjunto de coisas para sobreviver, mas temos sofrido muito.

Ambulantes autorizados

Uma das preocupações do sindicato é justamente a proibição ser aplicada apenas às bancas de jornais e revistas e não aos ambulantes. Questionada pelo GLOBO, a Secretaria municipal de Fazenda confirmou que “a suspensão só atinge esses estabelecimentos” e disse que “tem como objetivo evitar aglomerações e a propagação do coronavírus. O comércio ambulante não sofreu restrições nesse sentido”.

Ainda segundo a pasta da prefeitura, os ambulantes autorizados “podem trabalhar nas ruas da cidade, de acordo com os decretos”. No entanto diz que “está desautorizado o comércio ambulante na orla, em assentamentos (concentrações) e em feiras de ambulantes”. Caso sejam identificadas irregularidades, os ambulantes podem ser notificados e até mesmo e terem a mercadoria apreendida”.

— Durante nossa rotina de fiscalização observamos essa tendência. Muitas pessoas têm se reunido nas proximidades das bancas, gerando aglomerações e facilitando a circulação do coronavírus — afirma o Subsecretário de Licenciamento, Fiscalização e Controle Urbano, Carlos Guerra.

O presidente do Sinvejor lembra que as bancas pagam seus impostos e cumprem a lei. Ele ainda tem certeza que as aglomerações vão piorar já que só os ambulantes estão autorizados a vender.

— Agora vai proliferar ambulante, que já está tendo na rua e nos arredores das bancas, e vai piorar mais. Só que nós temos autorização e cumprimos a lei. Queremos mostrar ao prefeito dessa arbitrariedade — desabafa.

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