Cemitério da Solidão recebe R$ 1 mil mensais para manutenção

Muitas sepulturas do Cemitério Municipal de Belford Roxo estão tomadas por matagal e até mesmo destruídas
Fotos: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Fundado em 1944, na Rua Virgínia e inaugurado com o sepultamento de Joaquim da Costa Lima, segundo um antigo coveiro, o Cemitério Municipal de Belford Roxo, conhecido como ‘Cemitério da Solidão’, guarda em suas covas, pessoas de famílias importantes como do presidente Getúlio Vargas e de diretores do Azeite Galo. Estas memórias, porém, estão esquecidas em meio a uma infraestrutura precária.
Apesar de o Cemitério da Solidão arrecadar aproximadamente R$ 500 mil ao ano, para os cofres públicos, a prefeitura dispõe de pouco mais de R$ 1 mil mensais para sua manutenção. O resultado é um local mal iluminado e tomado por capim ou matagal, esgotos jorrando para as catacumbas, ossadas à mostra e mau cheiro.
Com um número reduzido de funcionários, trabalhando em condições precárias, sem botas ou luvas, para a execução dos serviços, a administração se esforça para cuidar dos 14 mil metros quadrados de área, distribuídos em 10 quadras com 6.500 covas.
A equipe do Jornal de Hoje percorreu o local e observou que a situação é pior nas proximidades do muro que sapara os túmulos das casas de uma comunidade, nos fundos e laterais do cemitério, onde jorra esgoto a céu aberto sobre os restos mortais. A ossada é retirada após três anos, com tolerância de um mês ou dois, à espera do responsável. A iluminação pública só existe na entrada principal, se estendendo por 100 metros. A escuridão facilita a ação de traficantes e a venda de drogas, segundo relatos de moradores da região.

Muito trabalho e pouco dinheiro

Jazigo sem tampa expõe o desrespeito do governo aos mortos
Fotos: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

No governo passado, os serviços de cemitério renderam R$ 1.862,014 aos cofres da prefeitura. São seis sepultamentos ao dia, em média, com valores que variam de R$ 136,00 a R$ 501.64, o que se somam quase R$ 500 mil ao ano. Mas, segundo uma fonte do governo, retorna cerca de R$ 1 mil, pouco para a administração do cemitério.
Alexandre Campelo, 42 anos, há cinco na administração, fez cursos do setor em Curitiba e Goiânia, e trouxe novas experiências. As cruzes azuis, por exemplo, são de homens. Rosas, de mulheres e brancas, de crianças de até 5 anos. Mas, apesar de esforço, ele trabalha com poucos servidores e reconhece as dificuldades.
“Temos 21 servidores. O ideal seria 26. Temos cinco de licença, pela idade avançada e só dois na capina de 14 mil metros quadrados”, diz. “A iluminação e o esgoto são responsabilidades do Sr. Waguinho (Wagner Carneiro, prefeito da cidade)”, ressalta um servidor.
Sobre túmulos quebrados, cujo dono tem a responsabilidade de cuidar, Alexandre explica que não pode mexer. “Isso poderia caracterizar violação de sepultura e gerar processo”, resguarda-se. E ressalta que nunca foi processado.

 

Por Davi de Castro (davi.castro@jornalhoje.inf.br)

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