DIAS DE HOJE, por Adriano Dias – 05/09

Ejaculações, Bolsonaro e Rosário

O triste episódio promovido pelo Juiz que liberou o indivíduo que ejaculou em uma mulher no ônibus BRT, no estado do Rio em campo Grande, gerou espanto tanto nas redes sociais e mídia, principalmente pela “justificativa da Lei”. Sim, mas triste que o episódio em si. Vamos dizer, materializou a frase do deputado que disse que a Maria do Rosário, ex-ministra dos direitos humanos e também deputada, era ‘feia’ e não merecia ser estuprada.
O episódio aconteceu poucos dias depois do Supremo Tribunal Federal (STF) decidir abrir duas ações penais contra o deputado Jair Bolsonaro, o tornando réu na Corte pela suposta prática de apologia ao crime de estupro e por injúria.
Todas as energias de reações de ódio, principalmente nas redes sociais, onde parece que se instituiu o terreno que se vale tudo – supostamente protegidos por perfis falsos, mas que são facilmente rastreados através de mecanismos de investigação – se tornaram uma forma de modinha. Os xingamentos a Maria do Rosário, criminalizando a vítima da injuria, vai de encontro com o pensamento de muitos que culpabilizam as mulheres que sofrem assedio e violência sexual.
Não por acaso, antes do episódio da ejaculação e depois da decisão do STF, coloquei uma foto com Maria do Rosário no meu perfil do Facebook – como forma de apoio e celebração a decisão do Supremo – fui objeto de frases de ódio e desqualificação através de centenas de ataques. Algumas verdadeiras declarações de promoção da violência contra a minha pessoa e a mulher Maria do Rosário
Vagabunda, vaca, filha disso e daquilo, “tomara que sua filha seja estuprada”, entre outras. A foto foi somente a motivação para que os frustrados em sua vida, do buraco de suas vidas vazias e no fundo do poço de sua invisibilidade, que angustiadamente anseiam qualquer olhar e reconhecimento através da promoção do machismo, sexismo, homofobia, xenofobia, entre tantas outras formas de preconceito e promoção do ódio.
O que melhor para atacar do que mulheres como Dilma, Marina Silva, Heloisa Helena, entre outras, que foram protagonistas de suas vidas, que escolheram usar suas potencialidades dentro e fora de seus partidos políticos,ao contrário dos invisíveis que “nunca serão”, como no jargão do filme que esta maioria adora. Entre outras frases prontas e de efeito, o “bandido bom é bandido morto” vale para nossos vizinhos, mas não vi esta frase referente a figuras como Eduardo Cunha e Sergio Cabral.
Curioso também é que a maioria da população que gosta de promover o ódio, são de estratos sociais menos favorecidos. Sim, são os pobres que por ter IPhone, são classe média. Mas na verdade agem como uma boiada comemorando a abertura de uma nova rede de churrascarias rodízio. Este filme já vimos na história antes, você aplaude o monstro e quando vê, ele cresceu e comeu sua família e amigos. São “Amarildos” que riram das cenas de tortura e assassinato do filme Tropa de Elite.
Quanto ao ejaculador, foi novamente preso, se tivesse estuprado uma mulher ou uma criança, o Juiz que o liberou seria punido como uma licença remunerado, ou quando muito, uma aposentadoria compulsória com salário integral e todas as mordomias. Algo de errado na sociedade e nas instituições que temos que mudar. Nisto estou disposto a gastar a vida.

* Adriano Dias é fundador da ComCausa

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