Atiradores de elite que Witzel quer usar em abate treinam com mais de 800 tiros


Atiradores de elite posicionados durante posse da presidente Dilma, em 2015 Foto:reprodução

Eles têm habilidades para fazer disparos em ambientes diferenciados, como do interior de helicópteros, do alto de prédios ou ainda de locais fechados. E sabem que a missão principal é não errar o tiro que tem de ser feito para salvar uma vida. Mesmo que, para isso, uma outra tenha que ser tirada. Envolvidos involuntariamente na polêmica do abate, defendido pelo governador Wilson Witzel, que diz que criminosos armados têm de ser alvo de disparo, os snipers, ou atiradores de elite, são os policiais escolhidos e treinados pelas Polícia Civil e Militar — através da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), respectivamente — para ser o último recurso de um momento de crise. Como, por exemplo, quando um disparo é necessário para imobilizar um bandido que ameaça matar um refém .

A última vez em que isso aconteceu no Rio foi em setembro de 2009, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, um bandido foi morto depois que fez uma mulher refém em uma farmácia. Ele roubou um carro e, na fuga, entrou no comércio e fez a dona do estabelecimento de escudo, ameaçando-a com uma granada. Acabou morto por um um tiro de fuzil, disparado do alto de um prédio, por um um sniper, um oficial da PM, lotado na época no Bope.

A comerciante não sofreu ferimentos. Ser um atirador de elite não é fácil. Na Core, por exemplo, são necessários dois anos de lotação na unidade só para estar habilitado a se candidatar ao curso. Também é preciso já ter sido aprovado em um curso de Operações Especiais e no Curso de Operações Táticas Especiais (Cote), este último ministrado pela própria Core. Por ser uma informação tida como estratégica, as duas corporações não divulgam o número de snipers existentes em cada força de segurança.

Em um dos últimos cursos da Core, 56 candidatos foram submetidos a provas eliminatórias, que incluem teste físico e também questões de matemática e física (para saber, por exemplo, se o candidato é capaz de calcular dados como distância e velocidade).

Deste total, 14 foram aprovados, mas só 12 chegaram ao fim do curso e se tornaram atiradores elite. O treinamento de snipers é ministrado por professores habilitados pela Polícia Federal. A média de disparos feita por cada candidato varia de 800 a mil tiros. As armas mais usadas nos treinamentos são fuzis de ferrolho (que têm alta precisão e pouco recuo) e fuzis semiautomáticos, como o AR-10, de fabricação americana. Só são aprovados os policiais que conseguem 100% de acertos dos disparos em provas como tiro noturno, em movimento, com avaliação de distância, em ambientes fechados e, ainda, disparo com barricada, entre outras modalidades.

A decisão de atirar durante um evento com refém, por exemplo, é exclusiva do atirador. No entanto, o ato de apertar ou não o gatilho depende ainda de uma conjunção de fatores, entre eles uma análise de um Centro de Comando. Para uma emergência deste tipo, sempre são posicionados mais de um atirador em pontos com ângulos diferentes.

— Todo local de evento tem um Centro de Comando, que é integrado inclusive por negociadores. Esgotadas todas as possibilidades e situações, o Centro de Comando dá sinal verde e se comunica com o sniper melhor posicionado. A decisão de atirar ou não é do sniper. Nosso lema é: se houver risco para o refém, não se dispara. O tiro tem de acertar o alvo. Por isso, só são aprovados os que alcançam 100% de acertos — explica o policial civil Cláudio Leão, um dos instrutores de tiro do curso de sniper da Core, na corporação há 30 anos.

Caso um atirador de elite seja submetido a uma situação de estresse durante o evento, ou não tenha um desempenho satisfatório, ele será imediatamente afastado e passará inclusive por avaliação psicológica. Além disso, a equipe também é submetida diariamente a treinamento de tiros.

 

 

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