Fim da subvenção da prefeitura pode trazer mudanças nos desfiles da Sapucaí em 2020

 

 

Diante da crise de recursos no carnaval da Marquês de Sapucaí, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) e os presidentes das agremiações do Grupo Especial se reúnem nesta quarta-feira para discutir possíveis mudanças na festa do ano que vem, que não contará com subvenção da prefeitura. Na pauta prevista, a redução de cabines dos jurados, de alegorias dentro do desfile e também do tempo máximo dos desfiles, atualmente de até 75 minutos.

— Sou a favor de adaptações aos novos tempos, mas contra transformar o carnaval no que ele não é. O carnaval é a grande festa do povo, precisa ser preservado até o dia em que vier um administrador que se emocione e entenda que desfiles das escolas são encontros marcados entre o povo e a sua história — diz Luis Carlos Magalhães, presidente da Portela.

Já Leandro Vieira, carnavalesco campeão com a Mangueira este ano e que em 2020 assinará também o desfile da Imperatriz Leopoldinense e vai ajudar a retomada da tradicional Caprichosos de Pilares, aponta que a única mudança que traria benefício aos desfiles é no regulamento. Vieira sugere, por exemplo, reduzir apenas as cabines de jurados.

— Querem regulamentar a redução dos componentes e das alegorias, mas não pensam em reduzir as cabines de jurados. Vai sobrar avaliadores e faltar componentes que de fato fazem o carnaval que o povo celebra. Se querem reduzir tempo, que reduzam o tempo que os desfiles ficam parados diante dos jurados e deixem que a gente mostre o trabalho dos milhares de artesãos, passistas, ritmistas e bailarinos para o público.

Leandro também fez críticas às últimas decisões de Marcelo Crivella:

— O prefeito segue a cartilha da politicagem barata e continua “jogando para a galera” o debate sobre o carnaval. Crivella não esconde sua inaptidão para tratar com isenção e seriedade o carnaval da cidade do Rio. Ele segue vilanizando, colocando leite, creche, cobrança de ingresso e outras coisas mais na conta das agremiações — afirma Leandro.

O anúncio do aumento do repasse para os desfiles da Intendente Magalhães não foi bem recebido por representantes das escolas do Grupo Especial e da Série A. Nesta segunda-feira, o prefeito Marcelo Crivella afirmou que a verba para o evento irá triplicar em 2020: de R$ 1 milhão, ela passará a ser de R$ 3 milhões. No último desfile, foram repassados R$ 500 mil para cada escola do Especial e R$ 250 mil para cada uma da Série A, metade dos valores de 2018. Em 2017, primeiro ano de Crivella, as subvenções foram de R$ 2 milhões e R$ 1 milhão, respectivamente.

Cahê Rodrigues, integrante da comissão de carnaval da União da Ilha e carnavalesco da Acadêmicos de Santa Cruz, afirma que uma reunião nesta semana vai definir os rumos para 2020 na escola do Grupo Especial. Segundo ele, será um carnaval “com os pés bem fincados no chão”, sem luxo, mas com aposta na emoção, criatividade e leveza.

— Eu nunca vivi uma fase tão difícil. A ordem já era elaborar um projeto dentro da atual realidade financeira, e agora a situação se agravou. Essa atitude só confirma a falta de conhecimento e cuidado do prefeito com a cultura. Ele descobriu agora a necessidade das escolas da Intendente Magalhães? É uma atitude cruel, ridícula e desleal, o carnaval não merece isso! Queria entender que Deus é esse que ele diz servir? Triplicar a verba para uns e zerar de outros só fomenta ainda mais o ódio e a discórdia.

Em 2020, o carnaval da Liesb acontecerá em dois grupos: Grupo Especial da Intendente, com 26 agremiações desfilando na segunda e na terça-feira de carnaval, e o Grupo de Acesso da Intendente, com 11 escolas no domingo de carnaval. Nesta segunda-feira, a documentação da Liesb, incluindo as procurações das 37 escolas de samba, atas de reunião e estatuto, foi entregue e protocolada junto a RioTur.

Em evento no Palácio da Cidade nesta terça-feira, Crivella falou sobre a Intendente, garantindo serviços de banheiros químicos, iluminação, som, limpeza da Comlurb e segurança feita por guardas municipais:

— São escolas de samba que realmente precisam dos recursos. Ali, não há cobrança de ingressos, não há venda de patrocínios, não há publicidade. Ali, realmente a prefeitura precisa investir. No ano passado, a Liesa vendeu R$ 70 milhões em ingressos, R$ 240 milhões de patrocínio. Portanto, o carnaval não precisa de recurso público, tem toda condição de se patrocinar. Nós vamos manter o patrocínio em festas que não tenham ingressos, como, por exemplo, o carnaval da Intendente e o réveillon de Copacabana — argumentou o prefeito.

Na Intendente, alívio após anúncio

Dois sentimentos resumem a expectativa das escolas dos grupos Especial e de Acesso da Intendente Magalhães para o ano que vem: alívio e esperança. Após enfrentarem dificuldades nos últimos carnavais, de as agremiações vislumbram um desfile com menos sofrimento em 2020.

— É uma ótima notícia, depois de tantos cortes. Fazer o carnaval já é difícil, imagine na Intendente? Esse anúncio é a esperança de fazermos um desfile menos sofrido — conta Flávio Mello, presidente da Lins Imperial, escola quem em 2020 fará uma homenagem à passista Pinah: — O apoio da Beija-Flor é um dos caminhos que vamos tentar como parceria. Do lixo das grandes coirmãs, tentamos nosso luxo.

Portuga, presidente da Império da Uva, diz que ficou surpreso.

— Estávamos no sufoco e vamos repensar a construção do desfile. Não esperávamos o repasse maior. Com mais incentivo, vamos conseguir entregar um espetáculo melhor, com fantasias e carros mais bem acabados e ricos — aponta Portuga, que planeja três alegorias, em vez das duas apresentados este ano, e 200 componentes a mais.

Na Vila Santa Tereza, o dinheiro será utilizado para quitar dívidas.

— Foram carnavais complicados em 2018 e 2019, com pouco mais de R$ 20 mil. A intenção é melhorar e pagar dívidas — diz a presidente da escola, Patrícia Drummond, que vai apresentar uma homenagem à carnavalesca Rosa Magalhães no desfile do ano que vem.

 
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