Dicas de Português – 15/04/2015

“Nenhum” ou “nem um”?
“Se os dois países se unissem, nem um dos dois resistiria à pressão conjunta.”
“Nenhum” e “nem um”, embora sejam formas parecidas, empregam-se em diferentes situações. Cumpre lembrar, em primeiro lugar, que “nenhum” é um pronome indefinido e, nessa condição, opõe-se a “algum”. Na sequência “nem um”, “um” não é um pronome indefinido, mas um numeral (opõe-se, portanto, a “dois”, “três” etc.).
Talvez a melhor forma de perceber a distinção na prática seja criar pares opositivos. Assim: “Não havia nenhum documento na gaveta” ou “Havia algum documento na gaveta”; “Nenhum de nós conseguiria fazer aquilo” ou “Algum de nós conseguiria fazer aquilo”; “Esta moeda não tem nenhum valor” ou “esta moeda não tem valor algum”.
A construção “nem um” equivale a “nem mesmo um” ou a “nem sequer um” e refere-se necessariamente a grandezas contáveis. Assim: “Não tinha nem [sequer] uma hora do dia para dedicar aos filhos”, “Não lhe deram nem [sequer] um centavo a mais”.
No caso, seria adequado o uso do pronome indefinido, que indica que nenhum (totalidade exclusiva) dos países em questão resistiria à pressão ou, dito de outra forma, nem um nem outro resistiriam à pressão conjunta.
Se os dois países se unissem, nenhum dos dois resistiria à pressão conjunta.

“Linha dura” é diferente de “linha-dura”

“Ahmadinejad irá usar as imagens da visita como prova de que o mundo o aceita como o líder legítimo do Irã, o que minará os oponentes democráticos do regime no Irã e encorajará a linha-durairaniana a recusar um compromisso no tema nuclear.”
O “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, em sua 5ª edição (pós-acordo, portanto), registra o substantivo “linha-dura”, mas não a expressão “linha dura”, fato que levou a certa confusão de interpretação.
Na verdade, não houve mudança quanto a esse ponto. A expressão “linha dura”, sem hífen, empregada especialmente em política e religião, continua sendo uma linha de pensamento radical ou uma “linha de ação coercitiva, que prioriza o cumprimento severo de regras e normas drásticas de repressão aos que se opõem a regimes autoritários” (Houaiss).
Já a grafia “linha-dura”, com hífen, emprega-se tanto para o adjetivo (relativo ou pertencente à linha dura) como para o substantivo (que ou quem é partidário ou simpatizante da linha dura).
Dessa forma, escrevemos com hífen frases como as seguintes:
Ele é considerado um líder linha-dura. (adjetivo)
Ele é um linha-dura. (substantivo)
Já o fragmento em epígrafe traz uma referência à própria linha dura na condição de política radical. Assim:
Ahmadinejad irá usar as imagens da visita como prova de que o mundo o aceita como o líder legítimo do Irã, o que minará os oponentes democráticos do regime no Irã e encorajará a linha durairaniana a recusar um compromisso no tema nuclear.

“Há 20 dias, a 20 dias”
Há 20 dias do início do prazo para começar as obras em estádios para a Copa-2014, ninguém pediu recursos ao BNDES.
Não é nova a confusão entre a preposição “a” e a forma “há”, do verbo “haver”, na indicação de tempo. O mais comum, entretanto, é que apareça a preposição no lugar no verbo, diferentemente do que se vê no trecho acima.

Quando se trata de tempo decorrido, usa-se a forma verbal, portanto “Há 20 dias, teve início a reforma do estádio”, ou seja, “Faz 20 dias que a reforma do estádio teve início”.
No fragmento selecionado, o que se pretende dizer é que faltam 20 dias para o início do prazo, portanto não se trata de tempo decorrido. Nesse caso, emprega-se a preposição “a”, que indica distanciamento. Temos, portanto, a construção “A 20 dias do início do prazo…”, isto é, “20 dias antes do início do prazo”.
Essa construção é similar a outras bastante corriqueiras, como “daqui apouco”, “daqui a duas horas, “daqui a 20 dias”, em que a preposição indica apenas a ideia de distanciamento.
Veja, abaixo, o texto corrigido:
A 20 dias do início do prazo para começar obras em estádios para a Copa-2014, ninguém pediu recursos ao BNDES.

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