Crivella pede desculpas por declarações sobre juíza que interditou Avenida Niemeyer e justifica: ‘espírito carioca’

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, pediu desculpas nesta segunda-feira pelos comentários feitos na semana passada sobre a juíza Mirela Erbisti — magistrada que determinou a interdição da Avenida Niemeyer em maio, após a morte de duas pessoas por um deslizamento da encosta. O prefeito se redimiu pelo “gracejo” feito, devido ao “espírito carioca” e afirmou que respeita a Justiça.

— A democracia depende muito da nossa magistratura. São eles que nesses momentos difíceis da vida nacional precisam tomar as atitudes corajosas. Se, por acaso, o espírito carioca, em algum momento, a gente fez algum gracejo, quero aqui me redimir e dizer que a juíza me desculpe — afirmou Crivella.

O prefeito disse não querer briga e voltou a fazer um apelo para que a Avenida Niemeyer seja reaberta em dias de sol. Nesta quarta-feira, um novo laudo será encaminhado à Justiça sobre o andamento das obras da prefeitura, a pedido do desembargador Agostinho Teixeira Filho. A equipe de peritos judiciais foi liderada pelo engenheiro ambiental Luiz Roberto Sertã, que atua para a Justiça há 25 anos.

— As obras avançaram. Melhorou muito, mas continua existindo o risco. Há um risco operacional, não mais geológico. A via abrir enquanto há uso de maquinários e operários no morro é uma preocupação. As pedras que vimos há dois meses foram movimentadas e estão em uma posição mais segura. Só que ainda existe um conjunto rochoso no topo do deslizamento que carece de uma solução executiva de obras — aponta Sertã.

Entenda o caso

Na última quinta-feira Crivella, em discurso durante uma agenda pública, fez comentários sobre a juíza Mirela Erbisti, da 3ª Vara de Fazenda Pública da Capital. Em maio, a magistrada determinou o fechamento da Avenida Niemeyer após a morte de duas pessoas por conta de deslizamentos. Desde então, ela vem se manifestando contra a reabertura da via, que segue interditada, mesmo após pedidos da prefeitura para que ela volte a funcionar em dias de sol, sem chuva.

— A juíza que fechou a Niemeyer, vocês precisam conhecer ela. Ela se chama Mirela. Ela tem um site na internet. O site chama ‘togadas e tatuadas’ (risos). Ela ensina mulheres a se vestir, como conseguir um namorado. É uma coisa interessante. Aquele site dela é uma coisa interessante. Muito bem. Eu sou engenheiro. Já fiz cem obras. Graças a Deus, nunca caiu — disse Crivella durante o evento.

O prefeito fez referência a aparência física da magistrada e aproveitou para fazer uma piada sobre ela ser apta a “parar o trânsito”.

— A juíza tem seus 40 anos e é muito bonita. Tem uma beleza de parar o trânsito, mas não precisa praticar, né, pessoal? Não precisa praticar. Passam todo dia 35 mil carros na Niemeyer, entrando dentro do túnel com um calor, uma fumaceira em hora de engarrafamento, porque a excelentíssima senhora juiza… Ah! Detalhe: já se passaram 100 dias. Eu pergunto: caiu alguma coisa? Interessante, porque é difícil encontrar mulher teimosa, né? Isso é raro, não é gente? Hein, gente? Normalmente, elas concordam, né? Normalmente (risos).

No domingo o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Claudio de Mello Tavares, rebateu e condenou o que classificou como “ataques pessoais” do prefeito Marcelo Crivella à juíza Mirela Erbisti, que determinou o fechamento da Avenida Niemeyer após deslizamentos de terra matarem duas pessoas em maio. O desembargador disse que a fala de Crivella “remete a tempos obscuros da nossa sociedade”.

Leia abaixo a íntegra da nota de Tavares:

“A separação dos poderes configura verdadeiro pilar do Estado Democrático de Direito.

O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, reconhecido, anos a fio, como o mais eficiente do país, reafirma que a decisão judicial submete a todos, notadamente aos agentes públicos que exercem mandatos eletivos.

A via recursal é a forma correta para combater decisões judiciais das quais se discorda. Ataques pessoais à figura do julgador remetem a tempos obscuros da nossa sociedade.

A insatisfação de um governante municipal divulgada na mídia, diante de uma decisão judicial até o presente momento mantida pela instância recursal, consiste em grave ataque à democracia.

O interesse público está acima de interesses pessoais, políticos e religiosos.”.

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