Prefeito de Belford Roxo Nomeou Miliciano Condenado Para a Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana

A prefeitura de Belford Roxo nomeou o miliciano Juracy Alves Prudêncio, o Jura, para um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana do município. Jura, entretanto, cumpre pena de 26 anos de prisão pelos crimes de associação criminosa e homicídio. Segundo as sentenças que condenaram o ex-sargento da PM entre 2010 e 2014, ele era chefe do Bonde do Jura, uma milícia acusada de uma série de homicídios na Baixada Fluminense.

Juracy foi nomeado como assessor de gabinete da secretaria no dia 1º de agosto de 2017. Três meses antes, o ex-PM havia conseguido na Justiça passar do regime fechado para o semiaberto. Após obter o benefício, Jura pediu permissão à Vara de Execuções Penais (VEP) para trabalhar fora do cárcere, como Diretor do Departamento de Ordem Pública da prefeitura. A permissão foi concedida no dia 12 de julho.

De acordo com a decisão, da juíza Cristina de Araújo Góes de Lajchter, o miliciano teria que cumprir “horário de trabalho das 08h às 17h, de segunda a sexta-feira, incluída 1h de almoço, e sábados das 09h às 14h, mediante controle de presença por folha de ponto, sendo autorizada a saída duas horas antes e o retorno duas horas após as atividades”.

Jura estava preso desde 2009, quando foi o principal alvo da Operação Descarrilamento, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que levou para trás das grades nove PMs acusados de integrar o Bonde do Jura.

Jura conseguiu progressão para regime semiaberto Jura conseguiu progressão para regime semiaberto
De acordo com as investigações, o bando, além de extorquir moradores e comerciantes e ter monopólio da exploração de TV, gás e transporte alternativo em áreas de quatro cidades da Baixada, tinha pretensões eleitorais.

Em 2008, Jura foi candidato a vereador de Nova Iguaçu pelo Partido Republicano Progressista (PRP). Com 9.335 votos, ele não conseguiu se eleger. De acordo com a investigação, o ex-PM usou a estrutura da milícia para fazer sua campanha.

A primeira vez que a Justiça condenou Jura foi em 2010, a quatro anos e oito meses de prisão pelo crime de associação criminosa. Na ocasião, o juiz Marcos Augusto Ramos Peixoto, da 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, determinou a perda da função pública do então sargento. Logo depois, ele foi expulso da PM.

Em 2014, nova condenação, desta vez a 22 anos de prisão, pelo assassinato de um desafeto da milícia. O crime aconteceu no dia 27 de maio de 2007. A vítima, Paulo Ricardo Soares da Silva, de 16 anos, foi executada a tiros dentro de um bar em Nova Iguaçu. “Quem lhe dota de poderes para matar? E matar de forma absoluta, atroz e ferozmente por simples desavença. A resposta não será encontrada em manual acadêmico ou em apostila de sociologia. Matam por capricho, matam por maldade, matam crentes da impunidade”, escreveu o juiz Murilo Kieling, da 3ª Vara Criminal, na sentença.

A defesa de Jura recorreu ao Tribunal de Justiça do Rio e ao Superior Tribunal de Justiça, sem sucesso: as instâncias superiores mantiveram a condenação do ex-PM. “Pesou em desfavor do réu sua condição de policial, a lhe exigir comportamento diverso. Ao revés, optou por ser líder da facção de maior espectro de Nova Iguaçu”, escreveu a desembargadora Katya Monnerat.

Jura também foi citado no relatório final da CPI das Milícias. O documento já apontava que o bando liderado pelo ex-PM “era formado por 70 pessoas, incluindo policiais militares”. Ameaças feitas pela milícia levaram à transferência de seis policiais e até do delegado da 56ª DP (Comendador Soares), que investigava o bando. Uma policial foi afastada do trabalho após ser diagnosticada com síndrome do pânico.

Procurada, a Prefeitura de Belford Roxo alegou que Jura, apesar de ter sido nomeado, “nunca tomou posse, ficando assim a sua nomeação sem efeito”. O município também afirmou que “nunca pagou salários a Juracy”. O ex-PM não foi encontrado.

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