Preso em operação contra milícia comanda conselho que fiscaliza atividades parlamentares

Na Cidade da Polícia, Ricardo de Souza Negrellos da Silva se apresentou como assessor do vice-prefeito de Itaboraí, Dr. Sadinoel

   Um dos presos na operação Condomínio Fechado, que o Ministério Público estadual (MPRJ) faz nesta quarta-feira contra milicianos que construíram um conjunto residencial irregular na Taquara, é o presidente do Conselho Nacional Parlamentar (Conap). Na Cidade da Polícia, no Jacaré, na Zona Norte do Rio, para onde foi levado, Ricardo de Souza Negrellos da Silva, que é o líder da organização criminosa, se apresentou como assessor do vice-prefeito de ItaboraíWanderson Dias. O filho do miliciano, que também era procurado, foi mais uma dos capturados.
De acordo com a descrição do site do Conap, a entidade foi criada em 2011 para “assessorar e investigar irregularidades parlamentares nas esferas do Legislativo e Executivo”.
“O Conap também auxilia na elaboração de projetos para a aplicação de verbas públicas e auditorias, com a criação da Escola do Parlamentar, que, em nível de município, qualifica e forma cidadãos que queiram exercer cargos políticos com maior preparo, não se excluindo também aos vereadores eleitos, proporcionando uma melhor administração pública”, o texto acrescenta.

Negrellos também é dono da Allar Construções Reformas e Terraplanagem. Em seu perfil no Facebook, de novembro do ano passado, ele compartilhou um anúncio da empresa, prometendo a construção de casas em até 90 dias por a partir de R$ 92 mil.
O empresário ainda é presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bosque Pedra da Boiuna (AMABPB), que foi criada em 2013 após a construção do condomínio. Nas eleições de 2014, ele concorreu ao cargo de deputado estadual pelo DEM.

NVESTIGAÇÃO
De acordo com o MPRJ, o grupo do qual Negrellos lidera ergueu o condomínio residencial Bosque Pedra da Boiúna, na Estrada do Curumaú, de maneira irregular, desrespeitando a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (artigos 50 e 52 da Lei n° 6.766/79), extorquindo moradores e praticando outros delitos.
Em 2012, o empresário fez um documento onde aparecia como “promitente-comprador” de parte dos lotes da região pelo valor de R$ 10 mil. No entanto, atualmente, o grupo comercializa um único terreno no local por até R$ 35 mil e casas por até R$ 190 mil. A construção do loteamento aconteceu após a completa destruição da vegetação de onde hoje está situado o condomínio, com a abertura de vias e divisão das áreas em loteamentos.
Para dar aparência de legalidade à comercialização dos terrenos e casas, a quadrilha usa uma empresa de construção, de titularidade de Negrellos, e a venda dos imóveis se dá através de anúncios em redes sociais, sites de classificados e pelo WhatsApp, além da própria comercialização no local.
Secretaria Municipal de Urbanismo confirmou que o loteamento é clandestino e que não é possível a sua regularização.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS
Embora atue na comercialização de terrenos, elaboração de projetos e construção de casas com mão de obra própria, a empresa usada pelos milicianos não possui registro de qualquer empregado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Além disso, documentos fornecidos pela Light mostram que a concessionária passou a fornecer energia elétrica na região a partir de maio de 2019. No entanto, desde antes desse período a empresa ligada ao bando já oferecia casas e terrenos no loteamento.
Outro crime cometido pelos milicianos foi a falsificação de documentos para a criação da AMABPB, responsável pelas demandas dos moradores junto ao Poder Público. A criação da entidade se deu de forma ilegal, com a falsificação de documentos, pois foram colhidas assinaturas de moradores sob o pretexto da elaboração de um abaixo-assinado para solicitar o fornecimento regular de luz para o loteamento.
Após colhidas as assinaturas, o documento foi falsificado e, nele, foi inserido um cabeçalho referente a uma lista de presença de associados em uma suposta assembleia, que teria eleito Ricardo para a presidência da associação. A partir da “eleição”, o grupo passou a praticar extorsões, exigindo dos moradores o pagamento de taxas mensais sob o pretexto de realizar melhorias no local e para a utilização de água e luz. Aqueles que se negavam a arcar com os valores eram ameaçados, inclusive com a interrupção do fornecimento de água e luz.

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