Capitão da PM é alvo de operação contra milicianos que ergueram condomínio irregular na Taquara

Além do policial, outras cinco das sete pessoas procuradas foram presas; agentes também cumprem 10 mandados de busca e apreensão

    O Ministério Público estadual (MPRJ) faz, desde as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, a operação Condomínio Fechado, para prender sete pessoas envolvidas na construção de um condomínio irregular na Taquara, na Zona Oeste do Rio. Dentre os alvos está o capitão da Polícia Militar Vitor Alexandre Silveira de Araújo, o Capitão Araújo lotado no Batalhão Especializado em Policiamento em Estádios (Bepe). Até o momento, seis pessoas foram presas, dentre eles o policial, que foi encontrado no próprio condomínio.
Outro preso é o empresário Ricardo de Souza Negrellos da Silva, presidente do Conselho Nacional Parlamentar (Conap) e da Associação dos Moradores e Amigos do Bosque Pedra da Boiuna (AMABPB).
Além das prisões, os agentes pretendem cumprir 10 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos milicianos no Rio, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e em Itaboraí, na Região Metropolitana do estado, e no próprio Bepe. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Comarca da Capital.

CASAS DE ATÉ R$ 190 MIL
De acordo com as investigações, o grupo ergueu o condomínio residencial Bosque Pedra da Boiúna, na Estrada do Curumaú, de maneira irregular, desrespeitando a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (artigos 50 e 52 da Lei n° 6.766/79), extorquindo moradores e praticando outros delitos. O capitão da PM alvo da ação usa de seu cargo na corporação para ter confiança nas negociações dos imóveis oferecidos à população.

Em 2012, o líder do grupo fez um documento onde aparecia como “promitente-comprador” de parte dos lotes da região pelo valor de R$ 10 mil. No entanto, atualmente, o grupo comercializa um único terreno no local por até R$ 35 mil e casas por até R$ 190 mil. A construção do loteamento aconteceu após a completa destruição da vegetação de onde hoje está situado o condomínio, com a abertura de vias e divisão das áreas em loteamentos.

Para dar aparência de legalidade à comercialização dos terrenos e casas, a quadrilha usa uma empresa de construção, de titularidade de seu líder, e a venda dos imóveis se dá através de anúncios em redes sociais, sites de classificados e pelo WhatsApp, além da própria comercialização no local.
Secretaria Municipal de Urbanismo confirmou que o loteamento é clandestino e que não é possível a sua regularização.
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS
Embora atue na comercialização de terrenos, elaboração de projetos e construção de casas com mão de obra própria, a empresa usada pelos milicianos não possui registro de qualquer empregado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Além disso, documentos fornecidos pela Light mostram que a concessionária passou a fornecer energia elétrica na região a partir de maio de 2019. No entanto, desde antes desse período a empresa ligada ao bando já oferecia casas e terrenos no loteamento.
Outro crime cometido pelos milicianos foi a falsificação de documentos para a criação da AMABPB, responsável pelas demandas dos moradores junto ao Poder Público. A criação da entidade se deu de forma ilegal, com a falsificação de documentos, pois foram colhidas assinaturas de moradores sob o pretexto da elaboração de um abaixo-assinado para solicitar o fornecimento regular de luz para o loteamento.
Após colhidas as assinaturas, o documento foi falsificado e, nele, foi inserido um cabeçalho referente a uma lista de presença de associados em uma suposta assembleia, que teria eleito Ricardo Negrellos para a presidência da associação. A partir da “eleição”, o grupo passou a praticar extorsões, exigindo dos moradores o pagamento de taxas mensais sob o pretexto de realizar melhorias no local e para a utilização de água e luz. Aqueles que se negavam a arcar com os valores eram ameaçados, inclusive com a interrupção do fornecimento de água e luz.
Em junho de 2011, o Capitão Araújo foi condenado a 13 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de extorsão mediante sequestro, roubo qualificado e extorsão contra um frequentador da Vila Mimosa, famosa região de prostituição da Zona Norte do Rio. O PM recorreu e acabou absolvido da acusação
As investigações da ação de hoje são do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) e a ação de hoje conta com o apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), da Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil e da Corregedoria da Polícia Militar.
“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que a Corregedoria da Polícia Militar já havia instaurado um procedimento administrativo disciplinar para analisar a conduta do policial. Tal procedimento é responsável por verificar a condição de permanência ou não na corporação”, a PM informou, em nota.
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