Avaliação do Renault Sandero Stepway Iconic CVT 1.6 Aut. 2021

Comecei o teste do Renault Stepway Iconic 2020 cometendo uma gafe nas redes sociais. Pois é, postei uma foto no início do teste informando aos meus leitores que teria o prazer de avaliar a última versão do Renault Sandero Stepway… Nããão! Percebi o erro sozinho, alguns minutos após a postagem. Para não ficar estranho, tratei de colocar aspas no nome “Sandero”. Sim, o carro deriva do Sandero, é muito parecido com ele, mas agora não carrega mais o seu nome, daí as aspas.

A Renault optou por comercializá-lo não mais como um hatch aventureiro, mas sim como mais um SUV. O nome Sandero tinha, então, que sair. Esta matéria, portanto, é sobre o Renault Stepway 2020, um SUV urbano capaz de te acompanhar nas suas aventuras na cidade. Buracos, valetas e bolsões de água são mais facilmente superados graças à sua maior altura em relação ao solo.

Alguém poderia perguntar: tem certeza que esse “Sandero” agora é um SUV? Pois bem, de acordo com as normas do INMETRO, a versão manual do Stepway pode ser chamada de SUV, afinal possui a altura mínima em relação ao solo exigida pelo Instituto. Já a versão CVT não atende as exigências técnicas, pois no ponto onde está a caixa CVT o carro fica mais baixo do que o mínimo exigido. Enfim, isso não impediu a Renault de chamá-lo de SUV.

Deixando essa polêmica de lado, vamos logo ao que interessa…. O que eu achei do carro? Bem, o motor não dá nenhum show de performance, mas até que consegue empurrar bem os 1.151kg do Stepway, principalmente no etanol. Em compensação, o carro bebe muito, alcançando médias inferiores a 6km/l no etanol. Muito pouco para um carro 1.6, diria eu. O câmbio CVT simula 6 marchas e tem um funcionamento bastante suave, inclusive quando usado no modo manual. A suspensão é firme, transmitindo muita segurança nas curvas apesar da altura elevada do carro. Em compensação, ele pula um pouco nos buracos e, em algumas situações, emite barulhos metálicos dando a impressão de contato “ferro com ferro”.

O espaço interno é muito bom, sendo capaz de acomodar numa boa uma família de 4 pessoas. O acabamento é “a la Sandero”, por isso considero que fica devendo em relação aos outros correntes SUV. Por ser derivado de um hatch, o porta-malas é bem pequeno, mas pelo menos o banco bipartido auxilia na hora de carregar um número maior de volumes.

Em suma, carro é legal, recheado de acessórios, gostoso de dirigir, mas o preço pode fazer o consumidor compará-lo aos SUVs situados um pouco acima dele, complicando bastante a escolha. Como pontos positivos do Stepway, destaco: (i) espaço interno; (ii) câmbio CVT X-Tronic; (iii) calibragem firme da suspensão; (iv) grande quantidade de recursos tecnológicos, como controle de tração e estabilidade, auxiliar de saída em rampa, ar digital automático, sensores de chuva e luminosidade, piloto automático e limitador de velocidade, multimidia com Android Auto e Apple CarPlay; (v) volante do Clio europeu, de ótima empunhadura; (vi) visual aventureiro de bom gosto.

Já como pontos negativos eu listaria: (i) consumo bastante elevado para um carro 1.6, sendo incapaz de alcançar médias superiores a 6km/l no etanol;(talvez com gasolina ele seja mais econômico, mas não tivemos a chance de fazer essa medição) (ii) direção muito dura para os padrões atuais, mesmo dotada de assistência elétrica; (iii) suspensão barulhenta em determinadas situações, emitindo sons metálicos. (iv) acabamento interno precisa melhorar, considerando que, agora, o carro supostamente disputa mercado em outra categoria; (iv) porta-malas poderia ser maior (320l é pouco para um SUV).

É apaixonado por carros e não se contenta com resumos? Quer saborear todos os detalhes do Stepway? Então continue lendo. Analisando o carro pelo lado de fora, o visual agrada. A versão testada era na inédita cor bege dune, bem bonita mesmo. Os faróis dianteiros com DRL (luzes diurnas em led) e as lanternas traseiras em LED dão ar de modernidade ao carro.

As belas rodas de 16”, diamantadas, são exclusivas da versão Iconic. Por dentro, a versão Iconic oferece aos passageiros bancos de couro sintéticos com padronagens variadas e detalhes em cores diferentes. O resultado é bacana, dá ao carro um ar sofisticado.

A chave do carro é do tipo canivete, e apresenta um formato harmonioso (padrão Renault). Poderia vir na cor do carro, como a montadora faz com o Kwid. Ficaria bem legal. Essa chave te permite travar e destravar as portas, além de abrir o porta-malas. Não há sensor presencial, então nada de esquecer a chave na mochila ou bolsa, você vai precisar interagir com ela para abrir e ligar o carro.

O acabamento interno não é lá essas coisas, mas também não é feio… Há detalhes em black piano no console central, e os plásticos são de qualidade razoável. Essa economia nos materiais era esperada, afinal o carro deriva do Sandero, que é um hatch sem grandes luxos (invejosos dirão que o Stepway é apenas um Sandero alto).

Os controles do ar condicionado ocupam um espaço considerável no console central. Há um grande botão que, ao ser girado, possibilita ao motorista escolher a temperatura interna. No centro desse botão, você aciona o eficiente modo automático. Há outros botões que autorizam os mais variados modos de direcionamento de ar, mas prefiro esquecê-los e confiar no modo automático.

Acima do ar condicionado está o multimídia, que oferece conexão com Apple Car Play e Android Auto. O som é aceitável, nada além disso. Deixa a desejar em relação aos graves. Na tela do aparelho surgem as imagens da câmera de ré, quando acionada. As linhas que ajudam a manobrar são fixas, não giram acompanhando a manobra. Além da câmera de ré, o motorista conta com sensor de estacionamento traseiro para auxiliar nas manobras.

Além disso, há no multimídia o já conhecido sistema da Renault que auxilia o motorista a dirigir de modo econômico. Confesso que não tenho paciência de usar esse recurso, até porque, apesar de não ser fraco, não há potência de sobra. A pessoa tem que ser muito “zen” para ficar andando de forma econômica.

Com as mãos no volante, o motorista constata a sua ótima empunhadura. O volante é bonito, idêntico ao do Clio europeu. Nele estão os comandos do piloto automático e do limitador de velocidade. O acionamento dos sistemas é no console central, abaixo do ar condicionado, mas a operação deles é pelos botões no volante.

Na coluna de direção está o tradicional satélite que permite comandar o sistema de som do Stepway. De fácil utilização, não é a toa que a Renault equipa praticamente todos os seus carros com esse satélite.

Nos comandos de seta e limpador de parabrisa podem ser ativados, respectivamente, o sensor de luminosidade e o sensor de chuva. Na ponta da alavanca do limpador de parabrisa fica o botão que permite configurar e operar o computador de bordo, que oferece as funções tradicionais (média de velocidade, consumo médio e instantâneo, distância possível de ser percorrida com o combustível no tanque, etc).

A direção do Stepway é pesada, mesmo contando com assistência elétrica. A Renault precisa rever isso, está aquém da leveza oferecida pela concorrência, principalmente em situações de manobra, com o carro parado.

Ao ser acordado, o competente motor 1.6 SCe ronrona de forma comportada, sem vibrações, pronto para responder aos comandos do acelerador. Ele garante uma tocada agradável, mas sem rompantes de velocidade. Esse propulsor bebe bastante para um motor 1.6, poderia ser melhor neste aspecto. Pelo menos é equipado com corrente de comando, uma solução mais confiável do que a correia dentada, especialmente em um país como o nosso em que é comum as revendas “darem um tapa” na quilometragem.

O funcionamento do câmbio CVT é satisfatório, afastando por completo a má impressão deixada pelos antigos CVTs, que davam ao motorista uma sensação de “embreagem patinando”. Simulando 6 marchas, as trocas são feitas sem trancos. Se usado no modo manual, as marchas sobem quando a alavanca é puxada para trás, e descem quando a alavanca é empurrada para frente. Nas reduções, o motorista sente o freio motor entrando em ação, ajudando a segurar o carro nas ladeiras ou preparando o carro para fazer uma curva mais forte.

Não poderia deixar de salientar que, finalmente, as montadoras estão configurando as alavancas de câmbio corretamente. Subir marchas empurrando a alavanca para frente e reduzir puxando para trás não faz o menor sentido, chega a ser anti-natural. Essa sempre foi, entretanto, a configuração preferida das montadoras, sabe-se lá o motivo.

Um ponto interessante: apenas a versão manual oferece sistema start-stop. As versões automáticas, mais completas, não dispõem do recurso. E a suspensão? Bom, a suspensão é alta, ideal para as condições adversas das grandes cidades brasileiras. Crateras, valetas, bolsões de água são facilmente superados por esse SUV da Renault. Nas descidas de rampa dos shoppings, nem se esforçando o motorista consegue raspar a frente.

O comportamento da suspensão vai agradar quem curte o carro mais firme. Nas curvas, mesmo em velocidade, o carro inclina pouco, transmitindo segurança. Ok, os pneus 205/55 R16 ajudam bastante, mas é fato que a suspensão do carro, apesar de ter um curso bem longo, apresenta um comportamento mais firme. Em função disso, o carro passa para a cabine mais vibrações do asfalto esburacado e remendado das cidades brasileiras.

Custando quase R$75 mil, o Renault Stepway Iconic 2020 quer enfrentar o movimentado mercado de SUVs. Será que ele consegue convencer o consumidor a levá-lo para casa? A verdade é que, embora recheado de atributos interessantes, esse preço o coloca muito próximo de carros mais sofisticados, tal como o Hyundai Creta. Basta colocar mais R$4 mil na mesa para levar um Creta. Com mais R$10 mil, o consumidor leva para casa um Nissan Kicks.  Além disso, há versões automáticas do Renault Duster (um SUV mais convincente) custando menos que o Stepway.

É interessante notar que os hatches aventureiros, seus reais concorrentes diretos, praticamente sumiram do mercado. Assim, não é mais possível encontrar nas lojas carros como VW Crossfox, Toyota Etios Cross, Chevrolet Onix Activ. Sobrou o Hyundai HB20X, que mesmo custando menos, oferece um motor consideravelmente mais potente e econômico.

O Renault Stepway é um carro que agrada tanto estética quanto mecanicamente. Resta saber como o mercado vai reagir diante da estratégia de preço definida pela Renault para o modelo. Por Arnaldo Bittencourt (texto) – Fotos: Marcus Lauria

 

*FICHA TÉCNICA:

Mecânica

Motorização 1.6

Combustível             Álcool            Gasolina

Potência (cv)            118     115

Torque (kgf.m)         16,3    16,3

Velocidade Máxima (km/h)           177     174

Tempo 0-100 (s)      11,2

Câmbio          CVT com modo manual

Tração           dianteira

Direção          eletro-hidráulica

Suspensão dianteira          Suspensão tipo McPherson, roda tipo independente e molas helicoidal.

Suspensão traseira            Suspensão tipo eixo de torção, roda tipo semi-independente e molas helicoidal.

Dimensões

Altura (mm)   1.630

Largura (mm)           1.730

Comprimento (mm)             4.070

Peso (Kg)      1.151

Tanque (L)    50

Entre-eixos (mm)     2.590

Porta-Malas (L)        320

Ocupantes    5

*Dados do fabricante

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