
Marte não é seco. A descoberta de água salgada e corrente na superfície de Marte, anunciada na segunda-feira (28) pela agência espacial norte-americana (Nasa), pode ser a chave para desvendar um dos maiores mistérios da humanidade: se há vida fora da Terra. A notícia animou especialistas no Brasil, que destacam a novidade como mais um passo para revelar os muitos mistérios do planeta.
A revolução se baseia em manchas escuras. Riozinhos em uma região montanhosa que só correm no verão, quando a temperatura em Marte sobe para a casa dos 20ºC negativos, suficientes para congelar a água da Terra, mas não a de Marte, que é extremamente salgada e, por isso, continua líquida mesmo em temperaturas mais baixas.
Cientistas dizem que a descoberta é um avanço na tentativa de provar que existe vida em Marte, um planeta visto pela ciência como um bom laboratório para descobertas futuras, porque fica a “apenas” seis meses de distância da Terra e com temperaturas suportáveis para os astronautas que um dia forem para lá.
“Essa descoberta coloca no horizonte a possibilidade de levar astronautas para Marte. Para a exploração espacial é uma informação importante”, disse o professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alan Alves Brito.
Ele lembra que a existência de água em Marte já era conhecida, mas não da forma descoberta agora. “Essa é a novidade, uma água salina, e que existe água lá nesse presente momento. Água, para nós em astronomia, significa a possibilidade de vida [no planeta]”.
Adrian Rodriguez Colucci, professor do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vê uma possibilidade de avançar nas descobertas sobre o planeta, mas alerta que é cedo para determinar a existência de formas mais complexas de vida. “Agora temos a chance de colher uma pequena mostra de vida atual, o que é muito mais interessante de analisar, mas não dá para especular uma possível evolução. Marte teria condições de abrigar vida, mas não vida complexa, multicelular, e sim em formas microbióticas”.
Brito segue o mesmo raciocínio. Ele acredita que, mesmo não havendo qualquer indício de formas de vida semelhantes às encontradas na Terra, a revelação de hoje traz mais uma resposta em meio a milhares de perguntas. “A probabilidade de ter vida terrestre é muito baixa. É preciso esperar, não dá para especular. Mas a grande pergunta é se existe vida fora da Terra e essa é mais uma peça de um grande quebra-cabeça, para colocarmos as peças juntas e montar um outro muito mais complexo”.
Lujendra Ojha, cientista do Instituto de Tecnologia da Georgia, nos Estados Unidos, e envolvido nas pesquisas da Nasa, também destaca a descoberta recente. “Quando a maioria das pessoas fala sobre água em Marte, elas normalmente falam sobre água congelada ou de uma época antiga. Agora nós sabemos que há mais para a história. Essa é a primeira detecção espectral que, inequivocamente, apoia nossas hipóteses de formações de água líquida nas chamadas Linhas de Declive Recorrentes (RSL, na sigla em inglês)”.
O cientista-chefe do programa de exploração de Marte da agência, Michael Meyer, ressaltou que, para chegar a essa descoberta, foram necessários muitos anos de pesquisas e viagens de veículos espaciais. “E agora, nós sabemos que há água líquida na superfície deste planeta frio e deserto. Parece que quanto mais estudamos Marte mais aprendemos sobre o quanto a vida pode ser mantida e onde existem recursos para manter a vida no futuro”.