Novo vídeo mostra que médica agredida no Grajaú levou socos de motoboy e desmaiou após sufocamento

As câmeras de segurança de um hospital no Grajaú, na Zona Norte do Rio, registraram o início das agressões contra a médica Tyciana D’Azambuja, no dia 30 de maio. As imagens mostram que a médica chega ao local correndo, fugindo dos agressores, e pede ajuda para um motociclista que passava pela rua. Ela tenta subir na moto, sem sucesso, e é alcançada por dois homens. Enquanto ela segura no guidão, o motociclista dá alguns socos no braço de Tyciana e vai embora. Pouco depois, a profissional de saúde desmaia após receber um golpe mata-leão.

Na frente do hospital, motoristas reduzem a velocidade ao passarem pelo local, pedestres veem a cena de violência, seguranças e funcionários da unidade de saúde vão até a calçada para acompanhar as agressões. Após ver o vídeo, Tyciana fez um desabafo nesta sexta em uma rede social e questionou porque ninguém que presenciou o espancamento prestou algum tipo de ajuda ou acionou a polícia.

“Ninguém tem ideia do que foi rever essas imagens e reviver tudo… a sensação da falta de ar, do grito preso na garganta, de ter que decidir se é melhor gritar ou respirar… e do breu quando se desmaia… de acordar com um pé te pisoteando… de ser observada silenciosamente enquanto estão te matando. Uma mulher desmaiada, três homens… Um sufoca, asfixia e pisoteia enquanto dois observam e cruzam os braços. Depois, seguirá a segunda sessão de espancamento. Quantas pessoas poderiam ter me ajudado? Quantos motociclistas, seguranças, motoristas, transeuntes poderiam ter evitado o desenrolar da ação?”, escreveu.

As agressões na frente do hospital duraram pouco mais de três minutos e a médica deixa o local carregada no ombro por um dos agressores. Ela é levada de volta para a casa onde foi realizada a festa clandestina em meio à pandemia do coronavírus. No caminho, outros homens e uma mulher agridem ainda mais a médica, puxam o cabelo dela e a jogam no chão.

Relembre o caso

Segundo Tyciana, ela havia chegado em casa de um plantão de 24 horas e assumiria outro à noite. Queria descansar, mas não conseguiu por conta do barulho que vinha de uma casa na mesma rua. A médica contou que já havia feito denúncias sobre festas anteriores no mesmo local que não surtiram nenhum efeito. No sábado, decidiu ir até a residência. Tyciana diz que tocou o interfone, pedindo que a comemoração parasse mas não foi atendida. A profissional de saúde então quebrou com um martelo o para-brisas e o espelho retrovisor de um carro que estava na calçada e que pertence ao PM Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro. Depois disso, contou a médica, alguns homens saíram da casa, entre eles o PM, dando início às agressões.

Investigação

Segundo o delegado André Neves, titular da 20ª DP (Vila Isabel), onde o caso está sendo investigado, todos os envolvidos no episódio já foram identificados. A polícia já ouviu mais de dez pessoas e pretende finalizar o inquérito na próxima semana, quando o laudo pericial será finalizado.

– É possível dizer que o caso está praticamente encerrado. Já coletamos grande parte das oitivas e aguardamos o laudo pericial para atestar se a vítima sofreu lesões graves, o que também pode agravar os crimes que serão imputados. Todas as imagens coletadas até agora, incluindo os registros das câmeras do hospital, contribuíram para a análise do caso – disse o delegado.

Luiz Eduardo Salgueiro, que é lotado no Batalhão de Polícia de Choque, no Estácio, foi afastado das atividades nas ruas na terça-feira. A unidade e a Corregedoria da PM abriram procedimentos para apurar a conduta dele e dos policiais que foram acionados para a ocorrência. Em depoimento, o PM negou ter participado das agressões e disse que não viu ninguém batendo na médica. Imagens compartilhadas em uma rede social, porém, mostram que o policial acompanha os homens que carregavam a médica e vê o momento em que ela é jogada com toda força no chão.

Outro identificado é Rafael Presta, que sufocou a médica e que aparece em outras imagens carregando ela nos ombros. Ele disse que a festa, que tinha copo personalizado em referência à Covid-19, era seu aniversário. Já Rafael Ferreira, além de agredir a médica, também bateu em um vizinho que tentou ajudá-la. Os advogados de Presta e Ferreira afirmaram que os clientes lamentam o ocorrido e que todos os envolvidos devem arcar com as consequências dos seus atos, incluindo Tyciana. A defesa de Ester Mendes, que também participou das agressões, informou que ela não vai se pronunciar sobre o inquérito.

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