Avaliação do Renault Captur Bose 1.6 CVT 2021

O Renault Captur foi apresentado pela primeira vez ao público no Salão do Automóvel de Genebra, na Suíça, em 2011.  Sua comercialização foi iniciada em abril de 2013, na França. Montado sob a plataforma B da Renault, a mesma do Clio europeu de 4a geração, o carro nasceu capturando olhares de admiração devido ao seu design elegante.

No Brasil, o carro foi lançado em 2017, montado sob uma outra plataforma: a B0, a mesma usada no Sandero, Logan, Stepway e Duster. Internamente, a Renault batizou o carro de Captur GA (Global Access). Além de baratear a montagem do modelo, a plataforma Renault/Dacia B0 confere ao Captur um interior mais espaçoso.

O Captur brasileiro ficou com 4,32 m de comprimento, 1,61 m de altura, 1,81 m de largura e entre-eixos de 2,67 m. Logo em seu ano de lançamento no Brasil, o Captur recebeu um prêmio de design da AMERICAR (Associação América Latina da Imprensa de Carros).

A versão produzida na planta da Renault de São José dos Pinhais, no Estado do Paraná, é exportada para toda América Latina.  Inicialmente, havia duas versões do Captur, Zen e Intense, com duas opções de motorização: 1.6 e 2.0, sendo que apenas a 2.0 poderia vir equipada com câmbio automático de 4 marchas denominado DP2.

Apesar de antiquado e derivado da problemática caixa AL4/AT8 da PSA, responsável em boa parte pela má fama dos automóveis franceses no país, o câmbio de 4 marchas da Renault recebeu uma boa programação, oferecendo uma experiência adequada ao motorista.

Buscando aumentar as vendas do modelo, a Renault, aproveitando-se de sua aliança com a Nissan, passou a oferecer ainda em 2017 transmissão automática também na versão 1.6 do Captur.

É interessante notar que isso gerou uma situação curiosa: ao optar pela versão 1.6 automática do Captur, o cliente recebe uma moderna caixa CVT X-Tronic capaz de simular 6 marchas. Caso prefira a versão 2.0 automática, terá de se contentar com a caixa convencional de 4 marchas, competente mas não tão eficiente quanto a CVT.

A versão testada é a BOSE EDITION, que é uma série limitada do Captur lançada em 2019 baseada na versão Intense (além da Intense, que seria a topo de linha, ainda estão disponíveis as versões ZEN e a Life – PCD).

Ao optar pela versão BOSE, o cliente pode escolher motor 1.6 ou 2.0, ambos associados a caixas automáticas CVT Xtronic e Convencional de 4 marchas DP2, respectivamente.  Apesar do motor 2.0 entregar um desempenho consideravelmente melhor (0 a 100 em 10.9s, contra 13.1s da versão 1.6), a versão 1.6 mostra-se mais interessante por vir acoplada à competente caixa CVT X-Tronic, a mesma que equipa os veículos da Nissan. O câmbio CVT faz tanta diferença assim? Sim, é fato que faz!

Os números do motor 1.6 SCe (sigla que significa Smart Control Efficiency) não impressionam, registrando uma potência de 120cv e 16.2kgfm de torque no etanol e potência de 118cv e os mesmos 16.2kgfm de torque na gasolina. A velocidade máxima é de 169km/h, de acordo com dados da fábrica.

É verdade que, para um motor 1.6 atmosférico, os números não são ruins. A questão é que ele é obrigado a empurrar os 1.286kg do Captur.  Aliado à moderna caixa CVT X-Tronic, capaz de simular 6 marchas, o motorista sente que está ao volante de um carro capaz de dar respostas adequadas no uso urbano. Em ambiente rodoviário, entretanto, deixa um pouco a desejar, principalmente se estiver viajando com ar condicionado ligado e pessoas e malas aumentando a ser transportado pelo motor 1.6 da Renault.

O consumo do carro, por outro lado, é bastante interessante: na cidade os números oficiais do carro são 10.5km/l rodando na gasolina e 7.2km/l rodando com combustível derivado da cana de açúcar. Na estrada o consumo melhora para 11.7 km/l e 8.1km/l, respectivamente.

Durante o teste, rodando a maior parte do tempo na cidade, obtive números melhores do que os oficiais com tanque abastecido com etanol. De acordo com o computador de bordo, o Captur alcançou uma média de 8.2km/l.

Percebe-se claramente que o foco do conjunto motor-câmbio é a eficiência. Com uma altura em relação ao solo bastante elevada (21,2cm), o carro é bem alto, mostrando-se capaz de enfrentar qualquer obstáculo urbano sem reclamar. A suspensão é capaz de filtrar com competência as imperfeições do solo, sem ser mole demais. Oferece boa estabilidade nas curvas, contando ainda com o apoio do controle de estabilidade e tração no caso da versão BOSE.

A posição de pilotagem do Captur é bastante elevada, capaz de agradar a qualquer amante de SUV. O volante é bonito e oferece boa pega. Vale ressaltar, entretanto, que não há regulagem de profundidade, apenas altura. Em relação às demais versões, a BOSE oferece pintura biton exclusiva nas cores cinza cassiopee com teto prata etoile. A combinação é de muito bom gosto, dando ao carro um ar mais sofisticado.

Os faróis com desenho arrojado, associados a luzes de neblina e luzes diurnas em led adornam a bela frente do carro. Na traseira, há lanternas em led com design futurista.  Complementando o visual externo do carro, chama a atenção o jogo de rodas aro 17, todas diamantadas. Logo abaixo dos retrovisores equipados com repetidores de seta, está o emblema da famosa marca americana de equipamentos de áudio BOSE. Nota 10 para o visual externo do carro.

No interior, o visual não acompanha o exterior, infelizmente. Não chega a ser ruim, mas a expectativa de encontrar a mesma elegância e sofisticação do exterior é frustrada. Os plásticos são muito simples, não há material “soft touch” em lugar algum, e o design do painel já denuncia a sua idade. A multimídia, por exemplo, não se apresenta como um tablet flutuante, como dita a moda do momento.

Na parte superior do painel, há um interessante compartimento para guardar objetos. O cluster é bonito: apresenta velocímetro digital no centro e conta-giros e marcador combustível em semicírculos nos cantos superiores. Não há marcador gradual de temperatura. Seria interessante reduzir o tamanho do marcador de combustível e introduzir esse importante indicador no espaço liberado. Isso deixaria o cluster ainda mais bonito e informativo. Na parte superior, está o computador de bordo, com as funções de sempre: autonomia, média de consumo, consumo instantâneo, etc.

Nas portas, os plásticos seguem o padrão de simplicidade do painel, contando com uma cobertura em couro parcial na dianteira. Nas portas traseiras, o couro aparece apenas no local onde se apoia o braço.  O teto da versão BOSE é em tecido preto. Além de não mostrar sujeira com facilidade, confere um visual mais esportivo ao modelo.

Os bancos do carro apresentam um acabamento exclusivo em couro, e são bem confortáveis.  Nas soleiras das portas, pode ser vista uma placa metálica com a inscrição BOSE. Na versão testada se faz presente o multimídia que a Renault chama de “Media Evolution”, de fácil operação, equipado com tela de 7 polegadas e suporte para Android Auto e Apple Carplay. Além disso, o Media Evolution oferece os recursos ECO Coaching e ECO Scoring, que dão dicas ao motorista sobre como dirigir de forma mais eficiente, economizando combustível.

Vale ressaltar, entretanto, que o Media Evolution do Captur BOSE é o mesmo que equipa todos os demais carros da Renault. Apesar de competente, talvez o consumidor do Captur ficasse mais satisfeito em saber que seu carro possui um multimídia exclusivo, diferenciado, e não o mesmo disponível para o carros de entrada da marca, como o Kwid.

Como trata-se da versão BOSE, o sistema de som do Captur é brindado com um amplificador exclusivo com processamento digital de áudio e 7 canais de equalização. Somado a isso, há 7 alto-falantes dotados das seguintes características: dois tweeters com ímã de neodímio (25mm) no painel de instrumentos; dois woofers (165mm) nas portas frontais; dois alto-falantes com ímã de neodímio (130mm) nas portas; um Subwoofer com ímã de neodímio (150x230mm) em uma caixa de Ar Fresco (FAS®) 1.5L.

O resultado disso tudo é um som bastante equilibrado, de qualidade premium, que não apresenta distorções mesmo em volumes mais elevados. Para o meu gosto, entretanto, os graves poderiam ter um realce maior.  O console central oferece os ocupantes dos bancos traseiros uma tomada 12v, não havendo entretanto saída de ar.

O espaço traseiro é bom, sendo capaz de acomodar com conforto três adultos. Não poderia ser diferente, afinal estamos em um carro montado sobre a mesma plataforma dos manjados Sandero/Logan/Duster. O porta-malas do carro é muito grande, um dos maiores do segmento: 437 litros.

A enorme lista de equipamentos inclui: alarme perimétrico, apoio de braço para o motorista, ar-condicionado automático (uma zona apenas), câmera de ré, chave-cartão, comando de áudio e celular na coluna de direção, direção eletro-hidráulica (pesada para os padrões atuais), farol de neblina com função Cornering Light e sensor crepuscular, piloto automático, regulagem de altura no volante, banco do motorista com regulagem de altura, retrovisores rebatíveis eletricamente, sensor de chuva e vidros elétricos, todos com função um toque.

Há também regulador (piloto automático) e limitador de velocidade. Os botões de acionamento desses sistemas ficam escondidos debaixo do freio de mão, em um local manjado pelos fãs da marca.   Ao lado dos botões do regulador e limitador de velocidade, está o botão ECO, que atua em diversos sistemas do carro para deixá-lo ainda mais econômico. A questão é que a função compromete consideravelmente o desempenho do carro, sendo um recurso que o motorista dificilmente deixará ativado.

No tocante à segurança, o Renault Captur Bose dispõe de assistente de partida em subida, controle de estabilidade/tração, isofix, airbags frontais e laterais (totalizando 4) e travamento automático das portas.  No conhecido teste de colisão Latin NCAP, o Captur obteve um resultado muito bom: 4 estrelas.

O Captur tem concorrentes de peso a enfrentar: Nissan Kicks, Hyundai Creta, Jeep Renegade, Ford Ecosport e, (por que não?) um carro da própria Renault, o Duster.  A competição é acirrada, sem dúvida.

Como indicado no título da matéria, o Captur procura “capturar” clientes oferecendo um visual externo elegante e moderno e posição de pilotagem elevada. No caso da versão Bose, a experiência auditiva premium é outro grande atrativo.

Os pontos negativos do Captur são falta de desempenho e o acabamento interno simplório ao extremo, características que não são condizentes com a faixa de mercado disputada pelo modelo. Tal condição, muitas vezes, faz com que o cliente vá à Renault interessada no Captur, mas opte na hora de fechar negócio pelo Duster, que é mais barato e apresenta uma relação custo-benefício mais interessante.

Para alavancar as vendas do Captur, é imperativo que a Renault ofereça diferenciais de peso no modelo, dignos da “voiture haut de gamme” da marca: motor turbo (queremos o motor TCe, Renault!), acabamento interno diferenciado, um teto solar e multimídia com visual mais moderno são ingredientes essenciais nessa receita.   (Por Arnaldo Bittencourt – Fotos: Marcus Lauria/Arnaldo Bittencourt)

*FICHA TÉCNICA:

Mecânica

Motorização 1.6

Combustível             Álcool            Gasolina

Potência (cv)            120     118

Torque (kgf.m)         16,2    16,2

Velocidade Máxima (km/h)           169     168

Tempo 0-100 (s)      13,1

Consumo cidade (km/l)      7,2      10,5

Consumo estrada (km/l)    8,1      11,7

Câmbio          CVT com modo manual

Tração           dianteira

Direção          eletro-hidráulica

Suspensão dianteira          Suspensão tipo McPherson, roda tipo independente e molas helicoidal.

Suspensão traseira            Suspensão tipo eixo de torção e traseira com barra estabilizadora, roda tipo semi-independente e molas helicoidal.

Dimensões

Altura (mm)   1.619

Largura (mm)           1.813

Comprimento (mm)             4.329

Peso (Kg)      1.286

Tanque (L)    50

Entre-eixos (mm)     2.673

Porta-Malas (L)        437

Ocupantes    5

*Dados do fabricante

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