Um ano após morte de Ágatha, cabo acusado do crime faz trabalhos burocráticos na PM

 

 

Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta em setembro de 2019, no Complexo do Alemão – Arquivo Pessoal

Um ano depois da morte da menina Ágatha Vitória Sales Felix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, o policial militar acusado do crime foi transferido da UPP Fazendinha e só faz trabalhos burocráticos na Diretoria de Veteranos e Pensionistas (DVP) da PM. O cabo Rodrigo José de Matos Soares é réu pelo homicídio desde dezembro do ano passado. O processo, no entanto, ainda está na estaca zero: por conta da pandemia do novo coronavírus, a primeira audiência do caso está marcada para 26 de novembro. Ágatha foi morta em 20 de setembro de 2019.

Após virar réu pelo crime, o cabo passou três meses afastado da corporação, de licença para tratamento psiquiátrico. No fim de março deste ano, ele voltou a trabalhar e foi transferido da UPP pela PM, em cumprimento à decisão da juíza Viviane Ramos de Faria, da 1ª Vara Criminal. Em dezembro, ela havia determinado a suspensão parcial da função de policial militar — ele só é autorizado a executar trabalhos internos —, a perda do porte de arma e a proibição de entrar em contato com qualquer testemunha do caso. Na DVP, Soares trabalha no atendimento a PMs da reserva.

Segundo a investigação da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, a versão apresentada pelo agente após o crime foi contestada pela perícia feita no local. Soares e um colega de serviço alegaram que foram atacados por uma dupla que passou numa motocicleta atirando. Para a Polícia Civil, entretanto, não ocorreu confronto nem havia outras pessoas armadas no local: homens que passavam com uma esquadria de alumínio foram confundidos com bandidos e alvo de tiros dos PMs.

No mesmo momento, Ágatha e sua mãe passavam pelo local no banco traseiro de uma Kombi. Segundo a investigação, um dos tiros disparados pelo cabo Soares ricocheteou num poste, entrou pela traseira do veículo, rasgou o forro do assento e atingiu a menina. Segundo a perícia feita no projétil, foi um estilhaço que causou a morte da menina, perfurando suas costas e saindo pelo tórax.

O policial militar chegou a participar da reconstituição da morte de Ágatha, dez dias depois do crime. Colegas de Soares ouvidos pela DH-Capital à época afirmaram que o cabo estava “sob forte tensão” no momento em que atirou devido à morte de um PM três dias antes, também no Alemão, e, por isso, fez os disparos.

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