Cuidado com as pesquisas

Por Davi de Castro

 

O Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística – IBOPE, precisa trabalhar muito para recuperar,
diante da opinião pública, a credibilidade que já desfrutou um dia.
Nas eleições de 2018, o saudoso instituto errou feio nas pesquisas para governador em vários
estados brasileiros. No Rio de Janeiro o IBOPE apurou que o candidato Wilson Witzel (PSC)
teria apenas 12% dos votos válidos. Eduardo Paes liderava com 32% e acabou no final da
apuração com apenas 19.56% dos votos. O ex-juiz federal virou governador com 41% dos
votos.
Para pontuar a fragilidade do IBOPE, vale lembrar da pesquisa feita em Minas Gerais, também
em 2018, para governador. O instituto divulgou que o candidato Anastasia (PSDB) teria 42%
dos votos, contra 25% de Pimentel (PT) e 23% do Romeu Zuma (NOVO). Fracassando
fragorosamente, mais uma vez, o resultado no primeiro turno foi o seguinte: Zuma com
42.7% dos votos e Anastasia com apenas 29%.
O descarrilamento da credibilidade do IBOPE não é de agora. Vale lembrar que em Nova
Iguaçu, durante as eleições de 1989, o então candidato a prefeito José Távora (PTB) liderou as
dez pesquisas encomendadas ao IBOPE. No resultado final, o professor Aluísio Gama, chamado
de “forasteiro”, venceu as eleições com grande margem percentual sobre o Távora.
A pesquisa eleitoral não pode ser utilizada como instrumento de manipulação do eleitorado.
Isso é crime. Por isso a credibilidade de institutos de pesquisa no Brasil tem despencado diante
da opinião pública e os motivos vários:
Ou o resultado da votação não confere com os números divulgados, ou quando a pesquisa é
contratada, indiretamente, por grupos políticos, através de entidades ou empresas de
comunicação.
A primeira observação que se faz é o estardalhaço com a qual essas pesquisas são divulgadas
pelos meios de comunicação, geralmente impulsionadas pelo grupo político interessado. Outro
fator que chama a atenção é a mudança dos percentuais em cada publicação.
Em Nova Iguaçu, por exemplo, uma pesquisa eleitoral que teria sido contratada ao IBOPE pela
Associação Comercial e Industrial de Nova Iguaçu – ACINI, registrada sob o número RJ
08136/2020, aponta o prefeito Rogério Lisboa com 62% dos votos em uma publicação.
Nesta pesquisa os concorrentes Max Lemos (PSDB), principal adversário, e Carlos Augusto
(PSD) em segundo, com 9%; Luiz Novaes (PSB), Marcelo Lajes (PRTB) e Rosangela Gomes
(Republicanos), 5%; Berriel (PT) e Leci (Psol), 2%; Robson Paz (Rede) 1%; e Dr. Letinho (PSC)
menos de 1%.
Em outra publicação, Rogério aparece com 49% de intenção de votos e, em uma terceira, 40%
dos votos. Os percentuais dos demais candidatos também sofreram alterações, para mais e
para menos, nestas publicações.
A pesquisa saiu até no clipping da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj. Mas o
estardalhaço maior foi no horário eleitoral, onde o 62% ocupava a tela quase toda da TV.
Em qual destas publicações o eleitor deve acreditar? As três pesquisas apontam o mesmo
contratante (ACINI), o mesmo número de pessoas entrevistadas (602) e os mesmos dias (24 e
28 de outubro).
Existem pesquisas divulgada com objetivos de supressão eleitoral, motivadas por interesses
especiais.
Um cidadão não precisa ser tão esclarecido para perceber a “face oculta” de uma pesquisa,
principalmente quando ela é divulgada com estardalhaço.
Ainda assim, muitos eleitores caem no “conto do vigário”, e acabam votando em gato
pensando que é lebre. E quem paga a conta pelo equívoco é a população.
Muito triste ver o IBOPE em queda livre. Criado em 1942, em São Paulo, pelo radialista Aricélio
Penteado e Arnaldo da Rocha e Silva, o instituto, assim como outros, precisa mudar sua
postura rumo à credibilidade, que já está bastante debilitada, para tentar reconquistar o
respeito público.
Mas isso é apenas uma sugestão.

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