
Fotos: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje
A greve dos bancários entrou em seu segundo dia ontem, em todo o país, e o reflexo dessa a paralisação é de mais um período de transtornos para clientes na Baixada Fluminense. Além da suspensão no atendimento pessoal, o cancelamento de serviços tem deixado clientes aflitos. Segundo o sindicato da categoria, ainda essa semana acontecerá uma assembleia entre os grevistas.
Por meio dos correspondentes, que são casas lotéricas, agências dos Correios, redes de supermercados e outros estabelecimentos comerciais credenciados, é possível pagar contas, sacar dinheiro e benefícios, fazer depósitos (operação limitada a R$ 1 mil ou até três transações por dia), fazer consulta a saldos e extratos.
Apesar disso, a estudante de odontologia, Juliana Ramos, de 23 anos, não consegue pagar seu FIES. Segundo a jovem, nem por telefone ela está conseguindo efetuar o pagamento. “Preciso pagar para fazer meu adiantamento que termina dia 30 de outubro. Só posso fazer isso depois que depositar o dinheiro e eles descontarem. Com essa greve não consegui fazer nem por telefone”, explicou ela.
Já o servidor público Marcos Antônio, de 51 anos, rodou o município de Nova Iguaçu para conseguir pagar suas contas. Ele afirmou que além das filas, o grande estresse é que cada local alternativo recebe contas com valores máximos diferentes. “Já fui ao mercado, correios e agora estou aqui na Casas Bahia. Cada lugar recebe um valor diferente. Isso é muito confuso para nós”, contou ele. Ainda segundo o servidor, o tempo médio de espera nas filas foi de 45 minutos em cada fila em que precisou entrar.
A vendedora Roberta Kobler, de 27 anos, que mora há sete anos na Suíça, está de férias no Brasil com seus dois filhos. Veio visitar a mãe que mora em Mesquita e foi surpreendida pela greve dos bancários. “Meu marido depositou na minha conta o dinheiro para as férias. Por ser uma quantia alta, bloquearam e agora estou aqui de férias com duas crianças e sem dinheiro”, contou a mulher. Ainda segundo Roberta, ela teve que pegar emprestado com parentes no Brasil para se manter no país. “Espero que cheguem a um acordo logo, foi uma situação embaraçosa”, complementou.
Com o estudante de engenharia Bruno dos Reis, de 23 anos, a situação foi parecida. Uma transação bancária também foi cancelada por conta da greve. “Fiz uma transferência que foi cancelada. Eles deveriam me reembolsar com ordem de pagamento, mas como o banco está em greve não posso pegar meu dinheiro”, contou o universitário. Para realizar uma ordem de pagamento, o cliente deve comparecer a uma agência portando identidade para receber o dinheiro.
Empréstimos suspensos
Quem pediu empréstimo recentemente e iria fazer o saque por ordem de pagamento também está sendo prejudicado com a paralisação dos bancários. Segundo a empresária Jacqueline Melo, de 45 anos, proprietária de uma loja que concede empréstimos no Centro de Nova Iguaçu, cerca de 90 clientes da sua loja foram afetados. “Trabalhamos com aposentados e pensionistas, e eles não estão conseguindo realizar os saques. Uns 90% dos que recebem pelo INSS, é em conta benefício. Sendo assim, o empréstimo também é feito por ordem de pagamento. Essa greve está causando um grande estresse aqui na loja”, declarou a empresária. Ainda segundo ela, muitos contavam com o dinheiro para realizar pagamentos de contas.
Mais de seis mil agências afetadas
Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), bancários de 6.251 agências de bancos públicos e privados, além dos centros administrativos, paralisaram suas atividades. De acordo com o Banco Central, o país tem quase 23 mil agências.
A categoria reivindica 16% de reajuste (incluindo reposição da inflação mais 5,7% de aumento real), entre outras pautas, como o fim do assédio moral e das metas abusivas, informou a Contraf-CUT. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) ofereceu 5,5% de reajuste salarial e nos vales, além de abono de R$ 2,5 mil, não incorporados aos salários. Entre 2004 e 2014, os bancários conquistaram 20,7% de ganho real nos salários e 42,1% nos no piso, segundo a Contraf.
Por: Gabriele Souza (gabriele.souza@jornalhoje.inf.br)