Mototaxista morto na Cidade de Deus é enterrado no Rio

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Enterro do mototaxista Edvaldo Viana, morto na Cidade de Deus e enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. Miriam dos Santos, esposa, desmaia pela quinta vez no velório e enterro do marido Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

O corpo do mototaxista Edvaldo Viana, de 41 anos, uma das vítimas da abordagem policial na Cidade de Deus que deixou dois mortos na última terça-feira, foi velado nesta quinta no Cemitério do Caju. Estiveram presentes sua família, colegas mototaxistas e ativistas da comunidade. A mãe de Edvaldo veio de Maceió apenas para velar o corpo do filho. Tomada pela emoção, a esposa do mototaxista, Miriam dos Santos, desmaiou cinco vezes no decorrer do sepultamento. Em solidariedade, também acompanhou o enterro os familiares do segundo homem morto na ação, o catador Jonathan Muniz Pereira, de 23 anos.

Segundo a Polícia Civil, o Instituto Médico Legal (IML) identificou nesta quinta o catador que estava na garupa da moto. O corpo foi necropsiado e espera pela retirada da família. Jonathan será velado no Cemitério do Pechincha nesta sexta-feira, às 13h30. A mãe do catador, Lorena Muniz da Silva, disse que ao ver pela primeira vez o vídeo onde mostra agentes da PM jogando os corpos das vítimas na caçamba da viatura, não achava que era seu filho mais velho. No entanto, ao perceber a demora de Jonathan em voltar para casa, começou a se preocupar, pois sabia que ele trabalhava naquela região da comunidade.

— Uma amiga minha passou no local perto daquele horário e viu ele atravessando, então fiquei tranquila. Pensei: “não foi meu filho’’. Só depois, no dia seguinte, que soube que era ele. Ninguém da polícia foi avisar — disse.

Mãe de quatro filhos, Muniz está sem condições de bancar o enterro do filho com o dinheiro que levanta como catadora na comunidade:

— Dependo de uma vaquinha de familiares. Agora, fica um sentimento de impunidade. Não posso contar com ninguém. A polícia só veio comunicar a morte dele hoje. Corri para o IML para liberar o corpo, vim ao enterro e depois volto pro IML para levar ele. Não tenho tempo nem de chorar a morte do meu filho. Só estou com uma comadre e amigas. O Jonathan não fez nada demais, é costume andar de moto táxi na região.

De acordo com testemunhas e ativistas da comunidade, Edvaldo levava Jonathan na garupa quando fez uma ‘bandalha’ no local – algo que, segundo moradores, é comum. Em seguida, policiais abordaram os dois, pediram que deixasse a moto e levantassem a camisa. No ato de levantar a blusa foram alvejados. Segundo a Polícia Militar, os policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) que participaram da ocorrência foram ouvidos na Delegacia de Homicídios da Capital e um fuzil da equipe foi recolhido para perícia. Em nota, a PM afirma que após o episódio, moradores tentaram obstruir as vias em protesto. Equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) atuaram junto às equipes do 18°BPM para estabilizar a região.O secretário da PM do Rio, Rogério Figueredo, determinou que a Corregedoria da Corporação apure a ação.

‘É muito sofrimento’

No dia seguinte ao incidente, Miriam foi ao IML com uma das cápsulas que matou seu marido e fez um desabafo: “É muito sofrimento. Esses homens vão para a rua para matar inocentes”. No local, Miriam disse que o marido morava na Gardênia Azul, região próxima à Cidade de Deus, e garantiu que a moto dele era legal.

— A moto do meu marido não é moto roubada. É moto comprada com suor — afirmou, e lembra: — Eu cheguei lá, e ele estava morto. Eles só matam inocentes. No mesmo local onde há seis meses mataram outro inocente.

Em janeiro deste ano, Marcelo Guimarães, de 38 anos, passava de moto pela Rua Edgard Werneck quando foi atingido por um tiro e morreu. Na época, a Polícia Militar afirmou que havia um confronto no local — versão negada por moradores da Cidade de Deus. Também morador da Gardênia Azul, Marcelo foi descrito por amigos como um homem trabalhador e honesto. Ele trabalhava numa marmoraria e estava de moto quando foi baleado.

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